Bom dia caríssimos leitores! Hoje retorno a um tema que venho trazendo com recorrência para este espaço de jornalismo opinativo. E começo afirmando que reivindicar que as questões de gênero sejam debatidas pela sociedade não é mimimi de feminista, e mais, afirmo que quem, assim pensa e fala, não é tão somentepreconceituoso, mas também misógino e apenas deseja nos calar, para seguir com sua vida superficial em paz, como se paz pudesse vir de uma sociedade que nos assassina e nos estupra a cada dia, mais e mais.
O segundo ponto necessário, é relembrar o que é feminismo. Já expliquei isso algumas vezes, mas repito e repetirei mil vezes. O feminismo não é o contrário de machismo. O machismo é uma cultura que vem subordinando as mulheres aos homens, e, que historicamente nos explora do ponto de vista cultural e sexual. No feminismo lutamos pelos mesmos direitos, principalmente, pelo direitos à LIBERDADE, INTEGRIDADE FÍSICA e à VIDA. O contrário de machismo é femismo, que também já tratei aqui nesta coluna.
O terceiro ponto é esclarecer que a misoginia, comumente entendida como o ódio à condição feminina, pode ser exercida de diversas formas, inclusive, através do desprezo pela voz das mulheres, pela insistência em afirmar a loucura das mulheres que ousam reclamar, resistir e lutar, como também, em situações limites de reafirmação do estatuto do machismo, além da discriminação sexual, segregação social e do extremo da violência, através dos atentados contra a vida das mulheres. E pasmem, mulheres e até homossexuais podem, incoerentemente, e, em antítese, incorporar e assumir discursos e atos que configuram misoginia.
Então senhoras e senhores que se escandalizam quando falamos em feminismo, quando falamos em questões de gêneros, em desigualdades, em perseguições, em agressões físicas e morais; que tal relembrarmos pela milésima vez, que realidade opressora é esta em que nós, mulheres, nos encontramos neste país, em que mulheres e homens culpabilizam mulheres pelos crimes que sofrem.
Segundo o ATLAS DA VIOLÊNCIA publicado pelo IPEA no início de 2018, em 2016, 4.645 foram assassinadas no país, entretanto, esses dados referem-se somente aos crimes registrados, deixando de fora os feminicídios não relatados. Mesmo assim, segundo o documento que aqui citamos, esse número representa uma taxa de 45 homicídios de mulheres para cada 100 mil brasileiras.
O Atlas aponta ainda que em dez anos, observou-se um aumento de 6.4% de casos de feminicídio. Durante o ano estudado, 2016, os estados com maior número de assassinatos de mulheres foram Roraima, Pará e Goiás, já os estados do Maranhão e do Rio Grande do Norte tiveram aumentos da ordem de 130%.
O Piauí aparece como um dos estados com menor índice de crimes contra a vida das mulheres em 2016, embora se considere que, ao longo de 10 anos de pesquisa o Piauí tenha tido um crescimento de 50% no número de assassinatos de mulheres.
Acredito que o comportamento violento de muitos homens no Piauí, com assassinatos de mulheres todas as semanas e as vezes, como na última terça, 19, quando três mulheres foram assassinadas no Piauí; tem contribuído para agravar e revelar o estado de risco em que nos encontramos enquanto mulheres. Ademais, o nosso lugar no ranking do Atlas da Violência neste item, é bem possível que tenha piorado consideravelmente nos últimos dois anos.
O Atlas da Violência também reafirma o que já foi amplamente divulgado no país. As mulheres negras são as que mais sofrem com a violência e são as mais assassinadas também. No documento que ora mencionamos, a taxa de feminicídios é de 5,3 entre as mulheres negras, contra 3,1 entre as não negras, com uma diferença, apontada pelo Atlas de 71%. Vale ponderar que nos dez anos da série pesquisada, a taxa de assassinatos de mulheres negras aumentou em 15,4%, enquanto que, entre as não negras houve, até 2016, uma involução de 8%.
Já os estupros registrados em 2016 são da ordem de 49.497 casos, sem contar os casos que não foram denunciados à polícia. O Atlas no entanto, traz uma comparação interessante, considerando exatamente o medo da mulher em denunciar a violência que sofre no Brasil. Nesse sentido o documento afirma que “Para colocar a questão sob uma perspectiva internacional, nos Estados Unidos, apenas 15% do total dos estupros são reportados à polícia. Caso a nossa taxa de subnotificação fosse igual à americana, ou, mais crível, girasse em torno de 90%, estaríamos falando de uma prevalência de estupro no Brasil entre 300 mil a 500 mil a cada ano”( ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2018, p.56). Isso não é sóuma guerra declarada do machismo e da força bruta do homem contra as mulheres, mas, principalmente, o retrato de uma sociedade hipócrita, de uma sociedade que se cala frente aos problemas que aparecem, porque é melhor manter as aparências de normalidade; enquanto, mulheres negras e não negras, homossexuais e crianças estão sendo estuprados e assassinados de forma absurda e contumaz. Em 2016 foram registrados no Piauí mais de 500 casos de estupros.
Caso venhamos a desenhar os números de crimes ou infrações de menor impacto físico e social, como assédio moral, assédio sexual, violência física leve, violência verbal, os números são estratosféricos. É preciso no entanto, reportar que todas essas violências mesmo de menor repercussão e que portanto, são silenciadas, tem consequências nefastas na vida das mulheres e crianças. Muitas se tornam depressivas e nesse ponto outras consequências mais graves podem surgir.
Difícil pois, entender que sociedade hipócrita é essa em que vivemos e convivemos com pessoas que frequentam igrejas das mais diversas naturezas, e que tão logo passam da porta do templo em retorno à sociedade, esquecem os ensinamentos da religião que praticam e fecham os olhos para as violências que presenciam, simplesmente porque a aparência de normalidade lhes é mais importante do que a dignidade das mulheres, lhes parece mais importante do que a vida.
Por fim, me recuso terminantemente a comentar o caso dos brasileiros na Rússia, visto que se mostram como a escória de todo padrão de machismo nojento deste nosso país.
Acorda Brasil, deixemos a hipocrisia que condena as mulheres pelo crime que sofrem. Nós mulheres estamos morrendo dia-a-dia, enquanto outras mulheres trabalham ao lado de homens para reafirmar a supremacia masculina (Parece um pesadelo, como se estivéssemos dentro de um episódio de The Handmaid’s Tale ( O conto da aia)).
Que país é este? Hoje não termino com uma dica, mas apenas com uma grande indignação e externando um sentimento de impotência frente a tanta violência e indiferença dos brasileiros.
O segundo ponto necessário, é relembrar o que é feminismo. Já expliquei isso algumas vezes, mas repito e repetirei mil vezes. O feminismo não é o contrário de machismo. O machismo é uma cultura que vem subordinando as mulheres aos homens, e, que historicamente nos explora do ponto de vista cultural e sexual. No feminismo lutamos pelos mesmos direitos, principalmente, pelo direitos à LIBERDADE, INTEGRIDADE FÍSICA e à VIDA. O contrário de machismo é femismo, que também já tratei aqui nesta coluna.
O terceiro ponto é esclarecer que a misoginia, comumente entendida como o ódio à condição feminina, pode ser exercida de diversas formas, inclusive, através do desprezo pela voz das mulheres, pela insistência em afirmar a loucura das mulheres que ousam reclamar, resistir e lutar, como também, em situações limites de reafirmação do estatuto do machismo, além da discriminação sexual, segregação social e do extremo da violência, através dos atentados contra a vida das mulheres. E pasmem, mulheres e até homossexuais podem, incoerentemente, e, em antítese, incorporar e assumir discursos e atos que configuram misoginia.
Então senhoras e senhores que se escandalizam quando falamos em feminismo, quando falamos em questões de gêneros, em desigualdades, em perseguições, em agressões físicas e morais; que tal relembrarmos pela milésima vez, que realidade opressora é esta em que nós, mulheres, nos encontramos neste país, em que mulheres e homens culpabilizam mulheres pelos crimes que sofrem.
Segundo o ATLAS DA VIOLÊNCIA publicado pelo IPEA no início de 2018, em 2016, 4.645 foram assassinadas no país, entretanto, esses dados referem-se somente aos crimes registrados, deixando de fora os feminicídios não relatados. Mesmo assim, segundo o documento que aqui citamos, esse número representa uma taxa de 45 homicídios de mulheres para cada 100 mil brasileiras.
O Atlas aponta ainda que em dez anos, observou-se um aumento de 6.4% de casos de feminicídio. Durante o ano estudado, 2016, os estados com maior número de assassinatos de mulheres foram Roraima, Pará e Goiás, já os estados do Maranhão e do Rio Grande do Norte tiveram aumentos da ordem de 130%.
O Piauí aparece como um dos estados com menor índice de crimes contra a vida das mulheres em 2016, embora se considere que, ao longo de 10 anos de pesquisa o Piauí tenha tido um crescimento de 50% no número de assassinatos de mulheres.
Acredito que o comportamento violento de muitos homens no Piauí, com assassinatos de mulheres todas as semanas e as vezes, como na última terça, 19, quando três mulheres foram assassinadas no Piauí; tem contribuído para agravar e revelar o estado de risco em que nos encontramos enquanto mulheres. Ademais, o nosso lugar no ranking do Atlas da Violência neste item, é bem possível que tenha piorado consideravelmente nos últimos dois anos.
O Atlas da Violência também reafirma o que já foi amplamente divulgado no país. As mulheres negras são as que mais sofrem com a violência e são as mais assassinadas também. No documento que ora mencionamos, a taxa de feminicídios é de 5,3 entre as mulheres negras, contra 3,1 entre as não negras, com uma diferença, apontada pelo Atlas de 71%. Vale ponderar que nos dez anos da série pesquisada, a taxa de assassinatos de mulheres negras aumentou em 15,4%, enquanto que, entre as não negras houve, até 2016, uma involução de 8%.
Já os estupros registrados em 2016 são da ordem de 49.497 casos, sem contar os casos que não foram denunciados à polícia. O Atlas no entanto, traz uma comparação interessante, considerando exatamente o medo da mulher em denunciar a violência que sofre no Brasil. Nesse sentido o documento afirma que “Para colocar a questão sob uma perspectiva internacional, nos Estados Unidos, apenas 15% do total dos estupros são reportados à polícia. Caso a nossa taxa de subnotificação fosse igual à americana, ou, mais crível, girasse em torno de 90%, estaríamos falando de uma prevalência de estupro no Brasil entre 300 mil a 500 mil a cada ano”( ATLAS DA VIOLÊNCIA, 2018, p.56). Isso não é sóuma guerra declarada do machismo e da força bruta do homem contra as mulheres, mas, principalmente, o retrato de uma sociedade hipócrita, de uma sociedade que se cala frente aos problemas que aparecem, porque é melhor manter as aparências de normalidade; enquanto, mulheres negras e não negras, homossexuais e crianças estão sendo estuprados e assassinados de forma absurda e contumaz. Em 2016 foram registrados no Piauí mais de 500 casos de estupros.
Caso venhamos a desenhar os números de crimes ou infrações de menor impacto físico e social, como assédio moral, assédio sexual, violência física leve, violência verbal, os números são estratosféricos. É preciso no entanto, reportar que todas essas violências mesmo de menor repercussão e que portanto, são silenciadas, tem consequências nefastas na vida das mulheres e crianças. Muitas se tornam depressivas e nesse ponto outras consequências mais graves podem surgir.
Difícil pois, entender que sociedade hipócrita é essa em que vivemos e convivemos com pessoas que frequentam igrejas das mais diversas naturezas, e que tão logo passam da porta do templo em retorno à sociedade, esquecem os ensinamentos da religião que praticam e fecham os olhos para as violências que presenciam, simplesmente porque a aparência de normalidade lhes é mais importante do que a dignidade das mulheres, lhes parece mais importante do que a vida.
Por fim, me recuso terminantemente a comentar o caso dos brasileiros na Rússia, visto que se mostram como a escória de todo padrão de machismo nojento deste nosso país.
Acorda Brasil, deixemos a hipocrisia que condena as mulheres pelo crime que sofrem. Nós mulheres estamos morrendo dia-a-dia, enquanto outras mulheres trabalham ao lado de homens para reafirmar a supremacia masculina (Parece um pesadelo, como se estivéssemos dentro de um episódio de The Handmaid’s Tale ( O conto da aia)).
Que país é este? Hoje não termino com uma dica, mas apenas com uma grande indignação e externando um sentimento de impotência frente a tanta violência e indiferença dos brasileiros.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.