A maioria de nós jornalistas, talvez tenha resolvido abraçar a profissão com o intuito de trabalhar em prol da sociedade, de promover o bem, de ser a voz dos que não tem voz. Muitos, no entanto, entraram porque visualizam no jornalismo o poder de influenciar, de formar opinião, e, com isso de lucrar, tanto do ponto de vista simbólico, quanto do ponto de vista financeiro, inclusive.
Quando pensamos que o jornalismo encontra-se em crise, sobretudo, porque vemos cada vez mais, seus divulgados valores de objetividade e imparcialidade, serem postos de lado, em prol de uma prática que manipula e induz a sociedade a determinados pensamentos, forjando consensos e julgamentos; pensamos que a mídia e o jornalismo, em particular, sofre uma grande crise ética, que por sinal, acompanha a maioria das instituições que sustentam o ideal de modernidade e desenvolvimento.
Eu, no entanto, penso que o jornalismo já foi assim forjado: como um lugar em que, aparentemente, os modos de fazer, que estruturam o que denominamos de regime de verdade, e que compõe de modo intrínseco a sua reputação visível de credibilidade como um lugar que se aproxima do real; se colocam como álibis para outras práticas que se distanciam do que se propaga.
E de fato, o jornalismo a serviço da sociedade se apresenta, embora timidamente, como uma possibilidade de empoderamento da população sem voz. Todavia, por outro lado, esse “bom” jornalismo serve de escudo para as narrativas sociais, culturais e políticas distorcidas que procuram, intencionalmente, manipular a sociedade em prol de objetivos bem determinados, que alcançam e interferem no campo político, mas que não se restringem a este.
O relacionamento que o jornalismo mantém com o campo e o poder político é histórico. De um lugar de parcialidade e posições bem marcadas, passamos, para obter credibilidade e se vender como narrativas próximas da verdade, para o lugar da imparcialidade. Diga-se de passagem, (pseudo) imparcialidade. Contudo, esse não é o maior problema, visto que há em nós, muita humanidade e ser completamente imparcial é impossível, mas podemos e devemos trabalhar para dar visibilidade a todas as possibilidades narrativas dos fatos. O grande problema, no entanto, é quando vendemos “gato por lebre”, vendemos imparcialidade quando estamos, na via contrária da completa parcialidade. Quando manipulamos a informação para construir uma determinada opinião na sociedade e colocar todos contra ou favor de determinadas posições e ideologias, etc. Vale destacar, que o problema não é quando usamos a opinião para convencer, porque aí já nos mostramos em nossa essência, mas sim, quando usamos o escudo de um pretenso lugar de verdade para vender não verdades.
De que maneira isso pode ocorrer? De diversas formas. Tanto na indução ao erro pela edição de informações deixando visível só a parte que pode sensibilizar pessoas que não possuem conhecimento, por exemplo, do que é o comunismo, mas que ao serem alcançadas por informações deturpadas, o que vem acontecendo no Brasil desde o início do século XX, se colocam a favor de uma frente ideológica anticomunista, vendida como não ideológica. Pode ocorrer por exemplo, a partir da edição de um debate ao vivo como Lula x Collor em 1989 na Rede Globo de Televisão em que a edição que foi ao ar no dia posterior ao debate, deixou um candidato em um patamar bem superior ao outro, cujas falas foram suprimidas ou cortadas parcialmente. Pode acontecer também a partir da potencialização da visibilidade de notícias deturpadas ou completamente falsas sobre acontecimentos que causam comoção social.
Mais do que nunca, pode acontecer a partir das fake News ( notícias falsas) criadas com o intuito de causar adesão a determinada ideologia e pensamento. O Movimento Brasil Livre- MBL foi apontado pela Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo- AEPPSP utilizando metodologia do Monitor do Debate Político em meios digitais, como o maior produtor de fake News e post truth (as supostas pós-verdades) do Brasil. Boatos que circulam em todos os níveis e suportes midiáticos e dão conta do que Peter Burke em palestra na abertura no 11º Encontro Nacional de Pesquisadores de História da Mídia-ALCAR na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em junho de 2017, classificou como simplesmente MENTIRAS. Mentiras bem construídas que alcançam seus alvos: mentes que acreditam sem criticar ou mesmo checar as fontes.
Recentemente, por exemplo, pude acompanhar uma jornalista local replicar em suas páginas nas redes sociais e ainda tecer comentários sobre a política de separação dos imigrantes norte-americanos creditando a violência da mesma a Barack Obama e não a Donald Trump. Fiquei com vontade de recomendar algumas agências de checagem norte-americanas mesmo, mas vi que seria comprar uma briga inútil.
E nessa reprodução automática e constante de fake News caímos todos, sobretudo, através dos grupos do Whatsaap, lugar em que os grupos familiares se destacam como os grandes transmissores de mentiras virtuais.
Agora, quando uma televisão pública e um programa como o histórico Roda Viva, onde grandes nomes do jornalismo realizaram entrevistas enriquecedoras, se presta a trabalhar uma entrevista de intimidação e manipulação direta a uma pré-candidata à Presidência da República, algo efetivamente precisa ser repensado. Não há mais nenhum espaço em que se procure trabalhar o jornalismo que acreditamos. Parece que está tudo dominado. Que foi aquilo?
Não se trata somente da violenta, intensa e contumaz prática do manterruting (intervenções das vozes masculinas a cada vez que a entrevistada tentava responder uma pergunta, objetivando calar ou sobrepor sua voz a da entrevistada), mas também das perguntas armadilhas que procuravam situá-la em determinados lugares. O incrível é que o próprio mediador do debate se tornou um inquisidor, que quando não respondido como desejava, se tornava completamente irônico (para não dizer outra coisa ou usar os mesmos recursos que ele).
A entrevistada se moveu como pode e tentou escapar das armadilhas, mas nem sempre conseguiu, contudo, diante de todo o bombardeamento que sofreu, conseguiu se sair até bem. Não consigo avaliar se a repercussão foi positiva ou negativa, para a Manuela D’Àvila, contudo, com certeza, foi muito negativa para o jornalismo brasileiro, agora descaradamente mostrando a sua face mais cruel.
Por outro lado, empoderar o assessor de um candidato que comete atentados verbais diários contra a democracia, os direitos e liberdade individuais, a vida humana, a mulher, aos LGBTs, aos negros, ou seja, a quase todos os brasileiros, talvez tenha sido a máscara mais triste da performance do Roda Viva da última segunda.
Será que se tratou de um jornalismo de contrato? Em uma televisão pública? É possível? Inquietações que nos seguem.
Quando pensamos que o jornalismo encontra-se em crise, sobretudo, porque vemos cada vez mais, seus divulgados valores de objetividade e imparcialidade, serem postos de lado, em prol de uma prática que manipula e induz a sociedade a determinados pensamentos, forjando consensos e julgamentos; pensamos que a mídia e o jornalismo, em particular, sofre uma grande crise ética, que por sinal, acompanha a maioria das instituições que sustentam o ideal de modernidade e desenvolvimento.
Eu, no entanto, penso que o jornalismo já foi assim forjado: como um lugar em que, aparentemente, os modos de fazer, que estruturam o que denominamos de regime de verdade, e que compõe de modo intrínseco a sua reputação visível de credibilidade como um lugar que se aproxima do real; se colocam como álibis para outras práticas que se distanciam do que se propaga.
E de fato, o jornalismo a serviço da sociedade se apresenta, embora timidamente, como uma possibilidade de empoderamento da população sem voz. Todavia, por outro lado, esse “bom” jornalismo serve de escudo para as narrativas sociais, culturais e políticas distorcidas que procuram, intencionalmente, manipular a sociedade em prol de objetivos bem determinados, que alcançam e interferem no campo político, mas que não se restringem a este.
O relacionamento que o jornalismo mantém com o campo e o poder político é histórico. De um lugar de parcialidade e posições bem marcadas, passamos, para obter credibilidade e se vender como narrativas próximas da verdade, para o lugar da imparcialidade. Diga-se de passagem, (pseudo) imparcialidade. Contudo, esse não é o maior problema, visto que há em nós, muita humanidade e ser completamente imparcial é impossível, mas podemos e devemos trabalhar para dar visibilidade a todas as possibilidades narrativas dos fatos. O grande problema, no entanto, é quando vendemos “gato por lebre”, vendemos imparcialidade quando estamos, na via contrária da completa parcialidade. Quando manipulamos a informação para construir uma determinada opinião na sociedade e colocar todos contra ou favor de determinadas posições e ideologias, etc. Vale destacar, que o problema não é quando usamos a opinião para convencer, porque aí já nos mostramos em nossa essência, mas sim, quando usamos o escudo de um pretenso lugar de verdade para vender não verdades.
De que maneira isso pode ocorrer? De diversas formas. Tanto na indução ao erro pela edição de informações deixando visível só a parte que pode sensibilizar pessoas que não possuem conhecimento, por exemplo, do que é o comunismo, mas que ao serem alcançadas por informações deturpadas, o que vem acontecendo no Brasil desde o início do século XX, se colocam a favor de uma frente ideológica anticomunista, vendida como não ideológica. Pode ocorrer por exemplo, a partir da edição de um debate ao vivo como Lula x Collor em 1989 na Rede Globo de Televisão em que a edição que foi ao ar no dia posterior ao debate, deixou um candidato em um patamar bem superior ao outro, cujas falas foram suprimidas ou cortadas parcialmente. Pode acontecer também a partir da potencialização da visibilidade de notícias deturpadas ou completamente falsas sobre acontecimentos que causam comoção social.
Mais do que nunca, pode acontecer a partir das fake News ( notícias falsas) criadas com o intuito de causar adesão a determinada ideologia e pensamento. O Movimento Brasil Livre- MBL foi apontado pela Associação dos Especialistas em Políticas Públicas de São Paulo- AEPPSP utilizando metodologia do Monitor do Debate Político em meios digitais, como o maior produtor de fake News e post truth (as supostas pós-verdades) do Brasil. Boatos que circulam em todos os níveis e suportes midiáticos e dão conta do que Peter Burke em palestra na abertura no 11º Encontro Nacional de Pesquisadores de História da Mídia-ALCAR na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em junho de 2017, classificou como simplesmente MENTIRAS. Mentiras bem construídas que alcançam seus alvos: mentes que acreditam sem criticar ou mesmo checar as fontes.
Recentemente, por exemplo, pude acompanhar uma jornalista local replicar em suas páginas nas redes sociais e ainda tecer comentários sobre a política de separação dos imigrantes norte-americanos creditando a violência da mesma a Barack Obama e não a Donald Trump. Fiquei com vontade de recomendar algumas agências de checagem norte-americanas mesmo, mas vi que seria comprar uma briga inútil.
E nessa reprodução automática e constante de fake News caímos todos, sobretudo, através dos grupos do Whatsaap, lugar em que os grupos familiares se destacam como os grandes transmissores de mentiras virtuais.
Agora, quando uma televisão pública e um programa como o histórico Roda Viva, onde grandes nomes do jornalismo realizaram entrevistas enriquecedoras, se presta a trabalhar uma entrevista de intimidação e manipulação direta a uma pré-candidata à Presidência da República, algo efetivamente precisa ser repensado. Não há mais nenhum espaço em que se procure trabalhar o jornalismo que acreditamos. Parece que está tudo dominado. Que foi aquilo?
Não se trata somente da violenta, intensa e contumaz prática do manterruting (intervenções das vozes masculinas a cada vez que a entrevistada tentava responder uma pergunta, objetivando calar ou sobrepor sua voz a da entrevistada), mas também das perguntas armadilhas que procuravam situá-la em determinados lugares. O incrível é que o próprio mediador do debate se tornou um inquisidor, que quando não respondido como desejava, se tornava completamente irônico (para não dizer outra coisa ou usar os mesmos recursos que ele).
A entrevistada se moveu como pode e tentou escapar das armadilhas, mas nem sempre conseguiu, contudo, diante de todo o bombardeamento que sofreu, conseguiu se sair até bem. Não consigo avaliar se a repercussão foi positiva ou negativa, para a Manuela D’Àvila, contudo, com certeza, foi muito negativa para o jornalismo brasileiro, agora descaradamente mostrando a sua face mais cruel.
Por outro lado, empoderar o assessor de um candidato que comete atentados verbais diários contra a democracia, os direitos e liberdade individuais, a vida humana, a mulher, aos LGBTs, aos negros, ou seja, a quase todos os brasileiros, talvez tenha sido a máscara mais triste da performance do Roda Viva da última segunda.
Será que se tratou de um jornalismo de contrato? Em uma televisão pública? É possível? Inquietações que nos seguem.
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