Na mitologia Grega, Mnemosyne, deusa da memória é uma das titânides, irmã de Chronos, deus do Tempo e pai de Zeus; mas Mnemosyne é também uma das esposas de Zeus e com ele, em nove noite de núpcias, concebeu as nove musas: Calíope (poesia épica), Erato ( poesia romântica), Euterpe ( música), Melpômene (tragédia), Polímnia (hinos), Terpsícore (danças),Tália(comédia), Urânia ( astronomia) e Clio (história).
A história, portanto, é filha da memória, mas o relacionamento entre as duas é circular, as duas se alimentam mutuamente contribuindo para que os povos trabalhem suas identidades e se coloquem frente a outros povos, privilegiando narrativas que enfatizem o modo como desejam passar para a posteridade. Em geral, a disputa pela memória é travada no presente, e, para os anais da historiografia, passam somente os que vencem e detém o poder de dizer o que deve compor o discurso da história.
Portanto, a memória, tanto coletiva quanto histórica são palcos de tensionalidades e disputas constantes, pois se configuram como lugares de poder. Nos dias atuais estamos em meio à uma grande disputa pela memória e pelo direito de dar visibilidade às atrocidades do passado recente, sobretudo, as cometidas pela ditadura civil-militar em nosso país. Nessa disputa confrontamos os discursos que tentam novamente empurrar os porões da ditadura para o silenciamento.
O Brasil, como bem nos lembram historiadores e pesquisadores brasileiros, franceses e muitos outros, é talvez, um dos poucos países que sofreu com regimes autoritários durante o século XX, que não fez o dever de casa. Não revolveu a memória como deveria revolver a fim de denunciar e, principalmente, punir os crimes da ditadura.
No Brasil, a memória privilegia os ditadores e até criminosos do regime ( que operavam no limite da lei unilateral) e que ainda hoje, são premiados com nomes de ruas e de avenidas, prédios públicos etc., enquanto que os perseguidos, os que lutaram pela liberdade são relegados ao esquecimento.
Em nosso país, a Lei da Anistia é o principal entrave para que a memória da ditadura se torne de fato exemplar, visto que em 2014 o próprio STF-Supremo Tribunal Federal optou por não revoga-la, impedindo os criminosos do regime de serem punidos.
Diferentemente da maioria dos países que sofreram regimes ditatoriais ou totalitários, em que os crimes foram punidos; aqui se anistiou de igual forma perseguidores e perseguidos. E todo o trabalho da Comissão Nacional da Verdade está agora sendo contestado, pelos que nem sequer conhecem dados da história.
O fato é que existe uma completa falta de associação entre memória, história e políticas públicas voltadas para o ambiente da cultura em nosso país. Isso nos leva a uma amnésia coletiva, agora totalmente potencializada nas redes sociais, que nos sugestiona, por exemplo, no caso do incêndio do Museu Nacional de História Natural do Rio de Janeiro, a um estado de catarse virtual, em que todo o país se manifestou como triste e consternado com o incêndio que consumiu a maior parte do acervo de quase 20 milhões de peças de grande valor para a história mundial.
Pessoas que nunca frequentaram um Museu, como alguns de nossos presidenciáveis, manifestaram completa consternação, diante do povo, o que para nós pesquisadores, configura como construção de uma falsa aparência, visto que estamos em período eleitoral e que as palavras não refletem a essência desses candidatos. Presidenciáveis falsos, cujas plataformas políticas e programas de governo sequer tocam no nome cultura, que dirá propor políticas para o campo cultural ou, especificamente, para museus.
É bem verdade que o eleitorado brasileiro não está interessado em ler os programas governamentais. Assim como, também é verdade que as ideias de extrema direita que violam os direitos humanos, violam o direito à vida, violam o respeito às mulheres, violam os direitos dos negros e da população LGBT, são conhecidas e são acatadas por uma considerável parcela da população brasileira, o que a meu ver só reforça o caráter da banalidade do mal de que nos fala Hannah Arendt.
Enquanto na Igreja, os hipócritas de plantão veneram Cristo e suas ações de grande humanitário, em que a partilha e o perdão conduzem a vida; ao passarem pela porta de saída do templo, esquecem todos os seus ensinamentos e apoiam candidatos com as propostas mais loucas, a últimas delas: assassinar em massa, os que pensam diferente ( alusão à apologia ao assassinato de “petralhas” no Acre pelo candidato do PSL).
Mas o que os Museus e a ausência de uma política para o setor tem a ver com a campanha eleitoral? Para muitos, nada, visto que raramente vão a um Museu, ou, quando o fazem é na Europa em suas viagens de férias, normalmente, para postar fotos, mas não conhecer para o passado e a memória da humanidade.
Cultura e Museus tem tudo a ver com a campanha eleitoral, pois é nela que podemos exercer o nosso poder e escolher alguém que privilegie também o cuidado com o campo cultural que trabalha em prol da nossa identidade, da nossa diversidade e da nossa memória, e, que acarreta em uma reflexividade pública dos traços identitários, através dos quais somos reconhecidos e nos reconhecemos no mundo, frente aos outros.
Um povo sem memória, um povo história é um povo fadado ao esquecimento, visto que não se reconhece e não possui senso de pertencimento, podendo se integrar a qualquer outra identidade, que passa a valorizar mais do que a identidade originária.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro guardava nas paredes do palácio um dos maiores acervos histórico- científicos do mundo. Dentre as 20 milhões de peças destacam-se os meteoros, fósseis e esqueletos de dinossauros, múmias, esqueletos humanos, que falavam não só de um passado brasileiro, mas que traziam vestígios de um mundo anterior.
O descaso com a memória, manifesto na forma da ausência de política de fomento ao setor e de investimentos em segurança, foi o grande responsável pelo incêndio que consumiu o Museu no último domingo, todavia, para além do Museu inúmeras instituições de cultura do país ( Museus, Arquivos, Bibliotecas, etc.) correm o mesmo risco diariamente.
Enquanto a China abriu em 2013 um museu por dia, durante todo o ano. Enquanto na França os museus fazem parte da educação escolar e se fazem presentes em todas as pequenas cidades, no Brasil o Ministério da Cultura vive sendo rebaixo para uma condição inferior e com orçamento cada vez menor, porque aqui não se entende cultura como um setor economicamente lucrativo. E os museus são visto como depósitos de coisas velhas. Por fim, relembro a política cultural dos governos do nosso passado mais recente e a proposta de ver o campo cultural dentro de sua trimendisionalidade: dimensão simbólica, dimensão cidadã e dimensão econômica. Gilberto Gil e Juca Ferreira bem que tentaram, mas o Brasil é difícil demais. Vote consciente! Vote pela Cultura!
A história, portanto, é filha da memória, mas o relacionamento entre as duas é circular, as duas se alimentam mutuamente contribuindo para que os povos trabalhem suas identidades e se coloquem frente a outros povos, privilegiando narrativas que enfatizem o modo como desejam passar para a posteridade. Em geral, a disputa pela memória é travada no presente, e, para os anais da historiografia, passam somente os que vencem e detém o poder de dizer o que deve compor o discurso da história.
Portanto, a memória, tanto coletiva quanto histórica são palcos de tensionalidades e disputas constantes, pois se configuram como lugares de poder. Nos dias atuais estamos em meio à uma grande disputa pela memória e pelo direito de dar visibilidade às atrocidades do passado recente, sobretudo, as cometidas pela ditadura civil-militar em nosso país. Nessa disputa confrontamos os discursos que tentam novamente empurrar os porões da ditadura para o silenciamento.
O Brasil, como bem nos lembram historiadores e pesquisadores brasileiros, franceses e muitos outros, é talvez, um dos poucos países que sofreu com regimes autoritários durante o século XX, que não fez o dever de casa. Não revolveu a memória como deveria revolver a fim de denunciar e, principalmente, punir os crimes da ditadura.
No Brasil, a memória privilegia os ditadores e até criminosos do regime ( que operavam no limite da lei unilateral) e que ainda hoje, são premiados com nomes de ruas e de avenidas, prédios públicos etc., enquanto que os perseguidos, os que lutaram pela liberdade são relegados ao esquecimento.
Em nosso país, a Lei da Anistia é o principal entrave para que a memória da ditadura se torne de fato exemplar, visto que em 2014 o próprio STF-Supremo Tribunal Federal optou por não revoga-la, impedindo os criminosos do regime de serem punidos.
Diferentemente da maioria dos países que sofreram regimes ditatoriais ou totalitários, em que os crimes foram punidos; aqui se anistiou de igual forma perseguidores e perseguidos. E todo o trabalho da Comissão Nacional da Verdade está agora sendo contestado, pelos que nem sequer conhecem dados da história.
O fato é que existe uma completa falta de associação entre memória, história e políticas públicas voltadas para o ambiente da cultura em nosso país. Isso nos leva a uma amnésia coletiva, agora totalmente potencializada nas redes sociais, que nos sugestiona, por exemplo, no caso do incêndio do Museu Nacional de História Natural do Rio de Janeiro, a um estado de catarse virtual, em que todo o país se manifestou como triste e consternado com o incêndio que consumiu a maior parte do acervo de quase 20 milhões de peças de grande valor para a história mundial.
Pessoas que nunca frequentaram um Museu, como alguns de nossos presidenciáveis, manifestaram completa consternação, diante do povo, o que para nós pesquisadores, configura como construção de uma falsa aparência, visto que estamos em período eleitoral e que as palavras não refletem a essência desses candidatos. Presidenciáveis falsos, cujas plataformas políticas e programas de governo sequer tocam no nome cultura, que dirá propor políticas para o campo cultural ou, especificamente, para museus.
É bem verdade que o eleitorado brasileiro não está interessado em ler os programas governamentais. Assim como, também é verdade que as ideias de extrema direita que violam os direitos humanos, violam o direito à vida, violam o respeito às mulheres, violam os direitos dos negros e da população LGBT, são conhecidas e são acatadas por uma considerável parcela da população brasileira, o que a meu ver só reforça o caráter da banalidade do mal de que nos fala Hannah Arendt.
Enquanto na Igreja, os hipócritas de plantão veneram Cristo e suas ações de grande humanitário, em que a partilha e o perdão conduzem a vida; ao passarem pela porta de saída do templo, esquecem todos os seus ensinamentos e apoiam candidatos com as propostas mais loucas, a últimas delas: assassinar em massa, os que pensam diferente ( alusão à apologia ao assassinato de “petralhas” no Acre pelo candidato do PSL).
Mas o que os Museus e a ausência de uma política para o setor tem a ver com a campanha eleitoral? Para muitos, nada, visto que raramente vão a um Museu, ou, quando o fazem é na Europa em suas viagens de férias, normalmente, para postar fotos, mas não conhecer para o passado e a memória da humanidade.
Cultura e Museus tem tudo a ver com a campanha eleitoral, pois é nela que podemos exercer o nosso poder e escolher alguém que privilegie também o cuidado com o campo cultural que trabalha em prol da nossa identidade, da nossa diversidade e da nossa memória, e, que acarreta em uma reflexividade pública dos traços identitários, através dos quais somos reconhecidos e nos reconhecemos no mundo, frente aos outros.
Um povo sem memória, um povo história é um povo fadado ao esquecimento, visto que não se reconhece e não possui senso de pertencimento, podendo se integrar a qualquer outra identidade, que passa a valorizar mais do que a identidade originária.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro guardava nas paredes do palácio um dos maiores acervos histórico- científicos do mundo. Dentre as 20 milhões de peças destacam-se os meteoros, fósseis e esqueletos de dinossauros, múmias, esqueletos humanos, que falavam não só de um passado brasileiro, mas que traziam vestígios de um mundo anterior.
O descaso com a memória, manifesto na forma da ausência de política de fomento ao setor e de investimentos em segurança, foi o grande responsável pelo incêndio que consumiu o Museu no último domingo, todavia, para além do Museu inúmeras instituições de cultura do país ( Museus, Arquivos, Bibliotecas, etc.) correm o mesmo risco diariamente.
Enquanto a China abriu em 2013 um museu por dia, durante todo o ano. Enquanto na França os museus fazem parte da educação escolar e se fazem presentes em todas as pequenas cidades, no Brasil o Ministério da Cultura vive sendo rebaixo para uma condição inferior e com orçamento cada vez menor, porque aqui não se entende cultura como um setor economicamente lucrativo. E os museus são visto como depósitos de coisas velhas. Por fim, relembro a política cultural dos governos do nosso passado mais recente e a proposta de ver o campo cultural dentro de sua trimendisionalidade: dimensão simbólica, dimensão cidadã e dimensão econômica. Gilberto Gil e Juca Ferreira bem que tentaram, mas o Brasil é difícil demais. Vote consciente! Vote pela Cultura!
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