Vem pra rua você também! Vem pra rua ver nossa arte! Vem participar, conhecer e rever espaços invisíveis ou abandonados em nossa cidade. Vem atuar e interagir com a memória do nosso lugar. Vem!
Hoje venho aos meus leitores falar de um movimento cultural que vem tomando Teresina de assalto e positivamente tem atraído público para um consumo cultural gratuito e intenso, com possibilidades interativas e participativas.
Desde o final de 2014 que observo o Salve Rainha na tentativa de compreender, mas também de aprender com eles. O modo de atuação e a capacidade de articulação extrapolam os caminhos tradicionais e tem proporcionado resultados inusitados.
Alguns movimentos nacionais possuem inspiração similar como o Cidade Matarazzo em São Paulo e até mesmo o coletivo Fora do Eixo e, inspirado ou não, por esses movimentos, o Salve Rainha se coloca como uma mescla de intenções entre os dois e possui algumas peculiaridades que são favoráveis para criação de um cenário cultural promissor em Teresina.
Nesse contexto, vejo que o coletivo Salve Rainha que vem transformando a paisagem cultural de Teresina desde 2014 trabalha do meu ponto de vista, potencialmente, em cima de alguns eixos de atuação, a saber: 1. Ocupar espaços urbanos que passaram para invisibilidade do teresinense pela falta de uso; 2. Proporcionar visibilidade para a arte aqui produzida e dar oportunidade a novos artistas em um processo de democratização; 3. Formar público e formar gosto a partir da acessibilidade a cultura; 4. Conscientizar para necessidade de preservação da memória urbana; 5. Conscientizar para a necessidade de preservação do meio ambiente e do uso de materiais recicláveis.
Esses eixos trabalham de forma integrada na proposição do coletivo de modo que não se dissociam entre si, ao contrário, se tornam coesos diante da diversidade proposta e dos caminhos.
O Salve Rainha que no momento presente, se encontra em meio aos ensaios de outono e terá nesse domingo (17) de maio o ensaio intitulado Rainha do Metal está atuando debaixo da Ponte JK na avenida Marechal Castelo Branco.
Quem chega ao local se perde entre exposições que trazem linguagens artísticas e leituras divergentes, mas que por se encontrarem dispostas de forma aleatória, contudo imperialmente coesas pelas limitações espaciais, terminam dialogando intrinsecamente. Em geral passamos de uma exposição para outra sem uma percepção profunda de seus limites. Deficiência ou diferencial? _Depende do olhar de quem se dispõe a curtir o Salve Rainha de espírito aberto para a arte.
Mas o Salve Rainha cujo nome pretende homenagear a Imperatriz Teresa Cristina nasceu a partir de uma proposta de café cultural e galeria itinerante e que já caminhou pelos cantos da cidade (Praça Ocílio Lago, calçadão da Simplício Mendes, Rua Climatizada e antigo prédio da Câmara dos Vereadores de Teresina e agora Ponte JK), tem, do meu ponto de vista, extrapolado suas pretensões e se transformado em um encontro cultural cada vez mais frequentado pela juventude teresinense, ávida por conhecer e participar de manifestações culturais.
Hoje o Salve Rainha é um composto de exposições de artes plásticas, visuais, fotografia, feirinha que mistura bazar, brechó, literatura, antiguidades, além de gastronomia peculiar e shows musicais.
Com tanta variedade o evento que acontece aos domingos tem atraído diversas tribos, idades e gostos. Embora a predominância de jovens seja visível. Em comum não só a vontade de participar de uma festa em que se pode ver e ser visto como alguém alternativo e conceitualmente cultural; mas como alguém que deseja participar da construção cultural do momento presente, atento a problematização da memória, como também dos demais problemas pelos quais passa Teresina, tais como: mobilidade urbana, poluição dos rios, negligência e falta de apoio para o segmento cultural, ausência de espaços para arte, dentre inúmeros outros.
De acordo com os idealizadores o Salve Rainha se propõe como uma tecnologia social de valorização do patrimônio cultural de Teresina.
Do meu ponto de vista o Salve Rainha em tão pouco tempo de atuação extrapola a proposição de tecnologia social e se coloca como um espaço de protesto frente ao descaso do Estado (incluindo os governos estadual e municipal) para com a cultura em nosso Piauí, protesto extensivo às demais cidades do estado. Por outro lado, o Salve Rainha nasceu com uma missão de mostrar aos nossos governantes e a todos nós que é possível se fazer cultura no Piauí. É possível atrair e formar público. Contudo, a maior de todas as lições é de que é possível fazer tudo com o apoio mínimo do Estado e do mercado.
Os mais pessimistas procuram defeitos no movimento que se coloca em nossa cidade, atraindo multidões a cada domingo. Muitos falam da precariedade, outros falam que não há recursos. Entretanto, em contraposição, muitos como eu, veem no Salve Rainha não só o café, a feirinha, as exposições e a música, mas principalmente, um movimento que carrega em si um grande potencial transformador de uma realidade a partir da cultura.
Quero aqui louvar a iniciativa. Quero aqui louvar a coragem. Quero aqui louvar a organização que se estabelece em meio à diversidade cultural e às adversidades financeiras. Quero aqui louvar o Salve, Salve, Rainha Teresa.
Por fim, espero que os representantes do poder público nas duas instituições encarregadas de gerenciar as iniciativas dos atuais governos no campo cultural, a saber: Fundação Cultural do Estado do Piauí e Fundação Cultural Monsenhor Chaves; consigam visualizar no coletivo Salve Rainha não só um movimento que merece o apoio dos governos e do empresariado, mas um exemplo a ser seguido, e que assim o façam.
Salve!
Ana Regina Rêgo
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