Os dados do 13º Anuário de Segurança Pública divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em setembro deste ano, reiteram os números crescentes da violência contra a mulher em nosso país. Em 2018 houveram 66 mil casos de violência sexual, o que equivale a 180 estupros por dia. 82% das vítimas deste tipo de crime eram do sexo feminino. 54% das vítimas tinham até 13 anos. Esses dados correspondem aos casos em que as vítimas foram até uma delegacia formalizar uma denúncia, entretanto, o próprio Fórum alerta para o fato de que, no que concerne aos crimes de estupros, no Brasil somente 7,5% dos casos são notificados, ao passo que nos Estados Unidos, por exemplo, os números de denúncias oscilam entre 16% e 32%, mesmo assim, ainda muito baixo. A realidade da mulher no Brasil é, portanto, muito mais complexa, visto que os números de estupros devem ser infinitamente superiores.
Por outro lado, os números de feminicídio no Brasil cresceram 5% em 2018 com um total de 1.206 assassinatos. Já sobre violência doméstica houveram 236.067 boletins de ocorrência. O destaque nos feminicídios vai para o autor do crime, em 89% dos casos, os assassinos eram companheiros ou ex-companheiros das vítimas. Já no que se refere aos estupros e demais abusos, os criminosos são, na maioria das vezes, pessoas próximas, tais como: pais, avós, irmãos, vizinhos, etc.
Continuamos, portanto, no limiar da barbárie. As mulheres continuam subjugadas, violentadas e assassinadas em nosso podre país de hipócritas ambulantes que lotam as igrejas e defendem os direitos do homem, em detrimento da mulher.
O COMEÇO
Pitágoras, milhares e milhares de anos atrás, já dizia que existiam dois princípios, o primeiro era bom e havia gerado a ordem, a luz e o homem; já o segundo era mau e havia gerado o caos, as trevas e a mulher.
A dominação androcêntrica de que nos fala Bourdieu, já estava então estabelecida na maioria das culturas. No ocidente, tanto quanto no oriente, a mulher sempre foi subjugada, quando não considerada como um não ser, somente apta ao espaço privado e à procriação.
Fomos silenciadas na história, na arte, na cultura, na educação e na vida. As poucas conquistas que relacionamos são recentes e novamente estão sendo contestadas por uma masculidade tóxica que se reverte em machismo ambulante, muitas vezes, reverberado pela boca de mulheres mais machistas que os próprios homens, completando assim o círculo de hegemonia, em que a inconsciência de si do dominado defende o próprio dominador.
O mais importante a ressaltar é que a pequena relação de conquistas não se estende à maioria das mulheres que continuam percebendo salários inferiores, mesmo que com carga de trabalho superior, que continuam sendo tratadas como escravas sexuais ou como escravas domésticas, não podendo ter sua própria vontade, muito menos planejar sua própria vida, sendo impedidas de se manifestar enquanto ser.
Em nosso país as conquistas normalmente só são visíveis e vivíveis por mulheres brancas e/ou que alcançaram um nível educacional e econômico suficiente que lhes permite autonomia, mesmo assim, a misoginia se apresenta e nesses extratos também acontecem assassinatos e estupros no limite, enquanto que no cotidiano são tratadas como inferiores em pequenos detalhes. Entretanto, quando falamos de mulheres negras e/ou pobres a situação é infinitamente pior, não há liberdade e sem liberdade não há vida, que por sinal, continua a ser subtraída diariamente.
Há um câncer misógino em nossa sociedade. Há um machismo exacerbado e agora cultuado e autorizado pelo desgoverno vigente, cuja violência simbólica autoriza o homem a dispor da mulher, violentando e matando. Estamos em um país doente e que não respeita crianças, jovens, mulheres, homossexuais, negros, índios, nada nem ninguém que venha a diferir do padrão simbólico imposto como de uma normalidade vigente.
MACHISMO, SEXISMO E MISOGINIA
Três conceitos e vivências interligadas. Machismo se pauta na superioridade do homem sobre a mulher, ou, sobre todas as pessoas que se identificam com o feminino. Homens podem se portar como bem entenderem, mulheres devem se portar segundo um ideal feminino fruto de um constructo histórico-cultural, em que cabe à mulher ser singela, doce e amável com todos, sobretudo, com o sexo masculino.
As meta narrativas religiosas trabalharam muito bem a narrativa de superioridade masculina, principalmente, porque se utilizaram da voz das mulheres “educadoras” e “donas” do espaço privado, ou, melhor, reclusas ao privado, por que o espaço público sempre foi de domínio masculino. As poucas que se lançam no espaço público sofrem comumente com a misoginia e são chamadas de loucas ou histéricas quando se manifestam de forma mais efusiva, visto que não estão autorizadas a agir de acordo com o padrão dominante.
Atualmente as narrativas conservadoras e fundamentalistas reacendem e enaltecem o papel da mulher na educação do privado, tratando o homem como um ser superior. Hipocrisia ambulante de um Deus ou deuses que jamais se pronunciaram a não ser pela voz dos homens, que se autoproclamam porta-vozes de um sagrado.
Esse ciclo consolida o sexismo e declara guerra à diversidade. Todos os que estão fora da normatividade heterossexual são alvos fáceis da fúria de um Deus. Aliás, coitado de Deus, tomado de ira e não de amor. Tomado de incompreensão e não de compreensão. Cheio de fúria que o faz imputar penalidades aos que se atrevem a dispor de seus corpos como bem querem. Já falei neste espaço opinativo, várias vezes sobre a regulação cultural dos corpos que há muitos séculos vem abalando as estruturas sociais, sendo delimitadora dos lugares de dominação.
Entre o machismo e o sexismo, a misoginia se instala e se manifesta desde as formas mais banais de manifestação e desqualificação da mulher, como dito, considerada louca ou histérica ( aqui cabe um parêntese já que em várias versões, na história da psiquiatria, a histeria feminina era tratada com terapia sexual e que veio depois a dar origem ao vibrador, ou seja, histeria relacionada à falta do masculino, como princípio estabilizador); até ao extremo da violência física com os casos de estupros e feminicídios que nos acompanham cotidianamente.
Por outro lado, a objetificação da mulher na sociedade tornando-a algo dispensável, um produto que vende produtos, utiliza o mesmo princípio de superioridade androcêntrica, e, a mulher é reduzida à uma posição de prostituta, que novamente não possui direitos, nem pode se manifestar enquanto ser.
FEMINISMO NECESSÁRIO
Uma pesquisa realizada por alunas do 4º período de Psicologia da PUC-SP revelou que entre os entrevistados 46% acreditam que a masculidade pode ser algo ruim, sobretudo, quando pautada nos estereótipos de um “homem de verdade” que impõe ao homem um certo padrão de comportamento. Por outro lado, 35% dos entrevistados responderam que o feminismo influencia na desconstrução de uma masculidade tóxica.
Vale ressaltar que o feminismo não é o oposto de machismo, como pensa a massa. O oposto de machismo é femismo. Portanto, tudo isso pauta o feminismo, a luta das mulheres pela igualdade, mas, principalmente, pela equidade. Sejamos todxs feministas!
Por outro lado, os números de feminicídio no Brasil cresceram 5% em 2018 com um total de 1.206 assassinatos. Já sobre violência doméstica houveram 236.067 boletins de ocorrência. O destaque nos feminicídios vai para o autor do crime, em 89% dos casos, os assassinos eram companheiros ou ex-companheiros das vítimas. Já no que se refere aos estupros e demais abusos, os criminosos são, na maioria das vezes, pessoas próximas, tais como: pais, avós, irmãos, vizinhos, etc.
Continuamos, portanto, no limiar da barbárie. As mulheres continuam subjugadas, violentadas e assassinadas em nosso podre país de hipócritas ambulantes que lotam as igrejas e defendem os direitos do homem, em detrimento da mulher.
O COMEÇO
Pitágoras, milhares e milhares de anos atrás, já dizia que existiam dois princípios, o primeiro era bom e havia gerado a ordem, a luz e o homem; já o segundo era mau e havia gerado o caos, as trevas e a mulher.
A dominação androcêntrica de que nos fala Bourdieu, já estava então estabelecida na maioria das culturas. No ocidente, tanto quanto no oriente, a mulher sempre foi subjugada, quando não considerada como um não ser, somente apta ao espaço privado e à procriação.
Fomos silenciadas na história, na arte, na cultura, na educação e na vida. As poucas conquistas que relacionamos são recentes e novamente estão sendo contestadas por uma masculidade tóxica que se reverte em machismo ambulante, muitas vezes, reverberado pela boca de mulheres mais machistas que os próprios homens, completando assim o círculo de hegemonia, em que a inconsciência de si do dominado defende o próprio dominador.
O mais importante a ressaltar é que a pequena relação de conquistas não se estende à maioria das mulheres que continuam percebendo salários inferiores, mesmo que com carga de trabalho superior, que continuam sendo tratadas como escravas sexuais ou como escravas domésticas, não podendo ter sua própria vontade, muito menos planejar sua própria vida, sendo impedidas de se manifestar enquanto ser.
Em nosso país as conquistas normalmente só são visíveis e vivíveis por mulheres brancas e/ou que alcançaram um nível educacional e econômico suficiente que lhes permite autonomia, mesmo assim, a misoginia se apresenta e nesses extratos também acontecem assassinatos e estupros no limite, enquanto que no cotidiano são tratadas como inferiores em pequenos detalhes. Entretanto, quando falamos de mulheres negras e/ou pobres a situação é infinitamente pior, não há liberdade e sem liberdade não há vida, que por sinal, continua a ser subtraída diariamente.
Há um câncer misógino em nossa sociedade. Há um machismo exacerbado e agora cultuado e autorizado pelo desgoverno vigente, cuja violência simbólica autoriza o homem a dispor da mulher, violentando e matando. Estamos em um país doente e que não respeita crianças, jovens, mulheres, homossexuais, negros, índios, nada nem ninguém que venha a diferir do padrão simbólico imposto como de uma normalidade vigente.
MACHISMO, SEXISMO E MISOGINIA
Três conceitos e vivências interligadas. Machismo se pauta na superioridade do homem sobre a mulher, ou, sobre todas as pessoas que se identificam com o feminino. Homens podem se portar como bem entenderem, mulheres devem se portar segundo um ideal feminino fruto de um constructo histórico-cultural, em que cabe à mulher ser singela, doce e amável com todos, sobretudo, com o sexo masculino.
As meta narrativas religiosas trabalharam muito bem a narrativa de superioridade masculina, principalmente, porque se utilizaram da voz das mulheres “educadoras” e “donas” do espaço privado, ou, melhor, reclusas ao privado, por que o espaço público sempre foi de domínio masculino. As poucas que se lançam no espaço público sofrem comumente com a misoginia e são chamadas de loucas ou histéricas quando se manifestam de forma mais efusiva, visto que não estão autorizadas a agir de acordo com o padrão dominante.
Atualmente as narrativas conservadoras e fundamentalistas reacendem e enaltecem o papel da mulher na educação do privado, tratando o homem como um ser superior. Hipocrisia ambulante de um Deus ou deuses que jamais se pronunciaram a não ser pela voz dos homens, que se autoproclamam porta-vozes de um sagrado.
Esse ciclo consolida o sexismo e declara guerra à diversidade. Todos os que estão fora da normatividade heterossexual são alvos fáceis da fúria de um Deus. Aliás, coitado de Deus, tomado de ira e não de amor. Tomado de incompreensão e não de compreensão. Cheio de fúria que o faz imputar penalidades aos que se atrevem a dispor de seus corpos como bem querem. Já falei neste espaço opinativo, várias vezes sobre a regulação cultural dos corpos que há muitos séculos vem abalando as estruturas sociais, sendo delimitadora dos lugares de dominação.
Entre o machismo e o sexismo, a misoginia se instala e se manifesta desde as formas mais banais de manifestação e desqualificação da mulher, como dito, considerada louca ou histérica ( aqui cabe um parêntese já que em várias versões, na história da psiquiatria, a histeria feminina era tratada com terapia sexual e que veio depois a dar origem ao vibrador, ou seja, histeria relacionada à falta do masculino, como princípio estabilizador); até ao extremo da violência física com os casos de estupros e feminicídios que nos acompanham cotidianamente.
Por outro lado, a objetificação da mulher na sociedade tornando-a algo dispensável, um produto que vende produtos, utiliza o mesmo princípio de superioridade androcêntrica, e, a mulher é reduzida à uma posição de prostituta, que novamente não possui direitos, nem pode se manifestar enquanto ser.
FEMINISMO NECESSÁRIO
Uma pesquisa realizada por alunas do 4º período de Psicologia da PUC-SP revelou que entre os entrevistados 46% acreditam que a masculidade pode ser algo ruim, sobretudo, quando pautada nos estereótipos de um “homem de verdade” que impõe ao homem um certo padrão de comportamento. Por outro lado, 35% dos entrevistados responderam que o feminismo influencia na desconstrução de uma masculidade tóxica.
Vale ressaltar que o feminismo não é o oposto de machismo, como pensa a massa. O oposto de machismo é femismo. Portanto, tudo isso pauta o feminismo, a luta das mulheres pela igualdade, mas, principalmente, pela equidade. Sejamos todxs feministas!
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