A 13ª edição do Salão do Livro do Piauí que está acontecendo em Teresina desde o último dia 05, vem consolidar a trajetória e os objetivos do evento. Críticas à parte, por sinal, contumazes a cada edição, assim como, as dificuldades que acompanham os realizadores, hoje: Fundação Quixote e UFPI; o SALIPI segue firme e forte no intuito de formar público para a literatura e de educar crianças e jovens tornando-os cidadãos conscientes.
Percorrendo os corredores do Salão, sobretudo, pelas manhãs, encontramos centenas de crianças e jovens das escolas públicas de Teresina e cidades vizinhas comprando livros, ou já com suas sacolas recheadas de publicações. A alegria estampada nos rostos dos mais pequeninos é comovente. O direito de adquirir um livro que o levará a mundos distantes é incomensurável e ao mesmo tempo, uma experiência que jamais será esquecida em sua trajetória de vida.
Mas a experiência do SALIPI extrapola a aquisição do livro e se torna sensorial nas oficinas, nos espetáculos de dança e música e convida todos que se dispõe a visitar o Salão para um mergulho na cultura.
O Bate-papo literário comandado com competência e humor pelo Prof. Luís Romero é em verdade, um espaço democrático em que escritores com trabalho já reconhecido compartilham o palco com novos e jovens escritores, reverberando a importância que desempenha o SALIPI não somente para formação de novos públicos leitores, mas também para a formação de novos escritores que ao presenciarem a diversidade de publicações que ali são lançadas, se sentem motivados a levar adiante seus projetos editorais.
Esse cenário pulsante que vive a literatura piauiense contrasta veemente tanto com o cenário dos saudosistas que acreditam que já tivemos boa literatura e que hoje não há mais, como também, com a visão dos que se negam a conhecer o Piauí e toda a produção cultural efervescente que emerge pelos quatro cantos do estado.
Vale destacar que este ano o evento homenageia Monsenhor Chaves, um dos nossos mais respeitados historiadores. Homenagem muito bem vinda numa hora em que voltamos ao passado para reforçar nossa identidade no presente. Momento em que a Memória encontra-se de certa forma na “moda”. Todos os povos, sobretudo, os ocidentais procuram trabalhar e retrabalhar suas memórias com vistas a se afirmar no contemporâneo. Alguns com o intuído estabelecer discursos de superioridade, outros com o objetivo de sair da obscuridade e do esquecimento a que foram lançados por quem estava em condições de poder de fazê-lo. O Monsenhor Chaves, como bem nos lembrou a historiadora Teresinha Queiroz em sua brilhante exposição sobre a trajetória do homenageado, trabalhou no sentido de construir uma história do Piauí a partir das informações colhidas em documentos e espaços de memória como o jornalismo piauiense. Seus livros são, ainda hoje, indispensáveis para quem deseja compreender nosso povo e nosso espaço.
O Seminário Língua Viva, que acontece dentro da programação do Salão e que encontra-se em sua 18º edição, se constitui também em um espaço de formação, pois possibilita aos participantes o contato com autores, pesquisadores e observadores da realidade contemporânea e histórica. Esse espaço vivo e aberto ao debate também é extremamente democrático, pois lá podemos nos encontrar com escritores consagrados como Marina Colasanti, Laurentino Gomes, ambos de outras edições do Salão, ou, Clodo Ferreira e Tico Santa Cruz da atual edição, como também com pesquisadores de nossa região vindos de cidades como Floriano, por exemplo.
No Língua Viva ouvimos e participamos, aprendemos e ensinamos, democratizando a informação, fazendo circular o conhecimento em um aconchegante contexto de co-presença, desafiando as distâncias tecnológicas e nos aproximando de quem fala.
O SALIPI como bem nos lembra em todas as edições, o pioneiro e guerreiro Cineas Santos, é realizado com menos de 10% do valor gasto por outros eventos similares que acontecem nos estados vizinhos ao nosso, o que limita a liberdade dos organizadores para trazer nomes de grande projeção ou convidar autores de outros países, contudo, essa contingência orçamentária embora seja limitadora, não coíbe a ação dos organizadores que procuram fazer o melhor com o pouco de que dispõem. O Salão continua grande e segue apresentando qualidade incontestável.
Diante do exposto, verificamos que o SALIPI propicia assim, não apenas a formação de público e de gosto, conceitos que aqui chamamos para lembrar o sociólogo francês Pierre Bourdieu; mas favorece uma aproximação entre gerações, entre classes sociais distintas, entre escritores e seu público, diminuindo as distâncias através do conhecimento.
Nesse cenário é que chamo mais uma vez, a atenção das autoridades. Clamo pela atenção dos governantes, para que não apenas apoiem o evento na última hora e com poucos recursos, mas para que o tornem parte de uma programação necessária a vida cultural de nosso estado, portanto, prioritário para o projeto de cultura que desejamos para nosso povo, sobretudo, em face da democratização e da acessibilidade que apresenta o SALIPI. Cultura e Educação não podem se dissociar e são elementos fundamentais e transformadores de realidades.
Por fim, convido você meu leitor a visitar o SALIPI 2015 e participar de todas as atividades. Convido e convoco toda a sociedade piauiense a se permitir viver a cultura, mergulhar na literatura, conhecer nossa arte, conhecer nossas danças, conhecer nossa música, enfim conhecer o Piauí. Cultura é vida. Cultura é memória. Cultura é identidade.
Ana Regina Rêgo
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