Facebook
  RSS
  Whatsapp
Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Colunas /

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

18/06/2015 - 11h37

Compartilhe

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

18/06/2015 - 11h37

Como anda a cultura do Piauí?

 

 

Adoraria dar boas notícias aos meus leitores. Adoraria noticiar que estamos com o Sistema Nacional de Cultura implantado no estado e nos mais de 200 municípios. Adoraria informar que  a cultura enquanto campo estético-artístico, mas também no sentido antropológico, englobando desde nossa culinária ao nosso modo de falar, já é um campo de grande atenção do poder público, compatível portanto, com a importância que desempenha no seio da sociedade. Contudo, as coisas se passam de modo divergente. 

 

Enquanto a imprensa local notícia que a FUNDAC está repassando sem licitação o valor de R$ 790 mil distribuídos em vários contratos para que uma produtora local realize o Encontro Nacional de Folguedos 2015; como também informa que outra empresa receberá a quantia de R$ 550 mil para estrutura do mesmo evento; recorro ao site da referida Fundação em busca de transparência para tais contratações, visto que o evento faz parte do calendário cultural do Piauí e deve ser de fato realizado.

 

No site da FUNDAC ( www.fundac.pi.gov.br) as noticias datam de julho de 2014 e se referem ao Encontro de Folguedos do ano passado. Aliás o Presidente que lá consta ainda é o Sr. Scheyvan Xavier Lima. Alguém pode me explicar o que se passa com a Cultura no Piauí?

 

Creio que aqui cabe um plágio da tão famosa frase do ex-Presidente Lula, a saber: Nunca na história.....Pois bem:  Nunca na história tivemos tamanho descaso! É bem verdade que correm nos bastidores um movimento para aprovar a Secretaria de Cultura do Estado do Piauí, contudo, enquanto isso, a FUNDAC encontra-se complicada. E para completar os processos ocorrem sem a devida transparência.

 

O SIEC-Sistema Estadual de Cultura que foi reestruturado há poucos anos tem servido, basicamente, para que grandes eventos e para que empresas usem o valor que podem abater em incentivos fiscais,  em favor de seus eventos e seus equipamentos de entretenimento, seja de forma direta ou indiretamente, com negociações casadas. Em 2013 e 2014 vários projetos de pequeno porte aprovados e mesmo com os patrocinadores acordados não foram realizados, porque o dinheiro concernente ao crédito fiscal a que cada empresa tem direito não foi liberado.

 

Não quero aqui usar o nome de Deus em vão, mas por favor, há quatro anos que trabalho a formação cultural nesta coluna insistentemente falando sobre a importância da cultura para o desenvolvimento das sociedades. Sobre a centralidade e sobre a cultura como um recurso e efetivamente o que vemos é o uso das nossas manifestações culturais e o abuso em cima dos nossos artistas, normalmente, para que políticos  apareçam bem na foto.

 

O pior é que isso não é privilégio da FUNDAC. Em 2014 na cerimônia de abertura do SALIPI no Cine Teatro da UFPI o Prefeito Firmino Filho prometeu que para a versão de 2015 a Prefeitura daria todo o apoio, com destinação de verba específica. Mal acabou o evento, o gestor municipal parece ter esquecido sua promessa. Este ano, depois de muito peregrinar, inclusive, na prefeitura os membros da Fundação Quixote ameaçaram não realizar o SALIPI, simplesmente, por falta de verbas mínimas sem as quais não se pode realizar um evento de tal envergadura e que possui uma reputação construída ao longo de mais de uma década.

 

Semana passada, ao final do SALIPI e sempre nos holofotes, aparece novo político, para dizer que o SALIPI será Patrimônio Cultural de Teresina e que, portanto terá verba específica e destinada anualmente. Como bem afirmou Francisco Pellé quando compartilhei a notícia em uma página em uma rede social: _ Só acredito vendo! Mas sou otimista, reafirmo.

 

Todavia, a coisa não para por aí. O Festival de Pedro II, por exemplo, veio pagar músicos piauienses que tocaram na edição de 2014,  poucos dias antes da realização da versão 2015, isso, porque os músicos ameaçaram fazer um movimento de repúdio a Prefeitura de Pedro II.

 

Graças a Deus! Lá vou eu de novo, usando o nome de Deus em vão. Mas é por um bom motivo.

 

Graças a Deus, nem tudo é obscuro nesse nosso caminho que nos leva à cultura. Tem muita gente realizando muita coisa, sem esperar pelo poder público, não porque não precise, mas porque opta por realizar com os poucos recursos de que dispõe.

 

O Cineas Santos lançou recentemente o Lanche Livro, segundo ele, uma versão do projeto Cara Alegre do Piauí que mantém há mais de 30 anos e  que leva cultura para os distantes recintos do estado. O Lanche Livro acontece nas escolas públicas do município de Teresina e compõe-se de um trailer que se abre e carrega cerca de 1 mil livros, que ficam disponíveis para que as crianças leiam durante o dia do evento. Além disso, participam músicos, palhaços e vários artistas de outras áreas. O Lanche Livro acontece uma vez por mês sempre aos sábados.

 

O Roberto Freitas com seu Grupo Cordão de dança vem transformando realidades na periferia de Teresina, como também, o Marcelo Evelin no Galpão do Dirceu. O coletivo Salve Rainha é um marco na cultura contemporânea da cidade e acreditamos que deverá crescer e se consolidar cada vez mais.  A Wânya Sales criou a escolinha de música Dona Gal, só com doações e na garagem de sua casa.  A Revestrés vem divulgando os valores de nossa cultura. Enquanto que a Hoblicua, revista surgida no final de 2014, promete ser uma publicação brasileira única, feita a partir do Piauí.

 

Contudo, essas são apenas algumas, das milhares de iniciativas que estão acontecendo ao mesmo tempo em nossa cidade e por todo o Piauí; a maioria, sem nenhum apoio do poder público e não falamos aqui tão somente de dinheiro, mas de políticas de fomento à democratização e acessibilidade tanto à produção, como à fruição e ao consumo cultural em nosso estado.

 

Portanto, ao tempo em que lamentamos o descaso governamental até o momento constatado com o segmento cultural, parabenizamos nossos guerreiros da cultura em todo o Piauí! 

Ana Regina Rêgo

Comentários