

Do ponto de vista histórico o conceito de fake news está intimamente relacionado ao processo e à instituição jornalística, por outro lado, possui intimidade e correlação com o controverso e complicado conceito de pós-verdade, que no entanto, vem sendo adotado por grandes dicionários a exemplo do Oxford Dictionaries que em 2016 conceituou a pós-verdade como “[...] circunstâncias em que os fatos objetivos são menos influentes em formar a opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal”. Mais de 20 anos antes da conceituação mencionada, Steve Tesich escreveu na revista The Nation que a verdade não era mais necessária, visto que “ [...] por meio de nossas ações, estamos dizendo que isso não é mais necessário, que adquirimos um mecanismo espiritual capaz de despojar a verdade de qualquer significado. De maneira bastante radical [...] decidimos livremente que queremos viver em um mundo da pós-verdade”.
Por outro lado, a trajetória de potencialização das fake news assim como da pós-verdade, encontra-se interligada a contextos favoráveis relacionados ao processo tecnológico e a ilusão do poder de fala nas redes sociais, como também, aos contextos políticos de revigoramento das forças conservadoras em todo o mundo. A implosão da política de verdade e do pacto social em torno dela que já vigorava há quase dois séculos, se posiciona em um novo contexto em que a hipérbole verdadeira anunciada por Donald Trump, atual Presidente dos Estados Unidos, no livro Trump: a arte da negociação, ganha grande projeção e aceitação no seio da sociedade, pois o que importa para tal personagem não é a verdade, nem tampouco os fatos, mas o impacto. O próprio Trump e membros de sua equipe como Kellyane Conway sua assessora, já deixaram claro que trabalham com vias alternativas de construção da verdade, em que os fatos pouco importam, visto que a narrativa bem contatada é a que ganha projeção e reflexividade pública, já que ninguém se importa mais com a verdade. O que nos lembra as ponderações de Hannah Arendt) “[...reconsiderando o velho ditado latino, percebemos pois, não sem certa surpresa, que o sacrifício da verdade para a sobrevivência do mundo seria mais fútil do que o sacrifício de qualquer outro princípio ou virtude”.
Em antítese, é bem verdade, que a mentira é algo inerente ao jogo político desde sua gênese, assim como, a manipulação das mentes não críticas e os jogos de sedução que levam as massas a apoiar governos que trabalham para retirar e não garantir direitos. Todavia mentiras e manipulações que partem de políticos e partidos diferem das supostas construções que se colocam como pós-verdade. Na visão de D’Ancona “a novidade não é a desonestidade do político, mas a resposta do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença e, por fim, à conivência. A mentira é considerada regra, e não exceção, mesmo em democracias [...]” .
Donald Trump, hoje o 45º Presidente norte-americano, tem trabalhado no sentido de naturalizar as narrativas que se afastam do real com grande ênfase. Essa autora diz que o Presidente norte-americano é um mentiroso incorrigível. “O The Washington Post calculou que ele fez 2.140 alegações falsas ou enganosas no seu primeiro ano de governo, uma média de quase 5,9 por dia”. As mentiras envolvem toda e qualquer área e todo e qualquer problema. Uma prática comum e diária de Trump é atacar a imprensa, a justiça, o sistema eleitoral, os funcionários públicos. O que Jair Bolsonaro tem se esforçado por copiar com muita insistência em seugoverno. Diariamente, em sua conta no twitter, o Presidente da República Federativa do Brasil dispara declarações que nem sempre possuem um fundo de real.
Para além da construção de mentiras que se tornam notícias em uma crescente indústria de fakes News, o mais preocupante é perceber o envolvimento e engajamento do público com a aceitação da mentira e com a replicação desta. Ainda em terreno norte-americano Kukatani apresenta dados complementares da pesquisa do The Washington Post que apontam que 47% dos republicanos erroneamente acreditam que Trump venceu no voto popular e 68% creem que milhões de imigrantes ilegais puderam votar em 2016. A mesma autora destaca ainda um estudo da Universidade de Chicago que traz uma realidade mais preocupante ainda no que concerne ao discernimento sobre fatos e verdades e aceitação emocional de mentiras. Este estudo revelou que 25% do norte-americanos acreditam que a quebra da bolsa em 2008 foi secretamente orquestrada, enquanto que 19% tem como certo que o 11 de setembro foi arquitetado pelo próprio governo dos EUA, e o mais surpreendente é que “[...] 11% acreditaram numa teoria que os próprios pesquisadores inventaram, que dizia que lâmpadas fluorescentes faziam parte de um plano do governo para tornar as pessoas passivas e fáceis de serem controladas”.
O fato é que, é nesse contexto de disputas políticas e ideológicas, que o desentendimento tem se tornado o principal motor articulador das narrativas desinformacionais, verdades alternativas, mentiras e fakes News. O velho Maniqueu é chamado e inúmeros inimigos são nomeados e jogados na arena aos leões. Enquanto nos Estados Unidos os imigrantes, os árabes e a China foram construídos como os grandes inimigos dos EUA nos últimos anos, no Brasil um discurso de ódio pautado em uma falsa moral nomeia homossexuais, negros, índios e mulheres feministas como algo a ser combatido. A violência simbólica ganha as narrativas sob a forma de piadas e se transforma em violência física potencializando os assassinatos e outros crimes. O Brasil ocupa já há alguns anos os primeiros lugares em crimes contra negros, mulheres e homossexuais.
Na construção dessas narrativas que procuram jogar uns contra outros, não importam fatos, mas tão somente a emoção como principal elo de ligação entre o poder e o povo. Na Rússia de Putin a resignação cognitiva é explorada ao máximo, os fatos e o jornalismo, que tem nos fatos sua matéria prima, não mais importam. A credibilidade dos meios jornalísticos é atacada ao extremo nos dois lados do globo terrestre. Alexander Dugin,considerado o Rasputin de Putin e grande influenciador da direita norte-americana, diz simplesmente que a “verdade é uma questão de crença” ou seja, “ a verdade é aquilo que você entende dela”. Esse cientista político russo compartilha ideias comuns com “Stephen Bannon, neonazistas e sobrevivencialistas” .
A política desaparece e dá lugar a uma anti-política pautada no desentendimento provocado intencionalmente e hoje potencializado pelo sistema tecnológico em que algoritmos, trolls e hashtags guiam e formam as bolhas que devem separar/unir pessoas pela forma como pensam em relação aos temas sobre os quais se manifestam. Nomear temas e esperar reações previsíveis tanto de apoio quanto de resistência fazem parte da estratégia de uma anti-política que se estabelece não por projetos, mas por modos de exercer o poder que não visam o compartilhamento deste, mas somente a aceitação e obediência a um poder que mesmo sendo eleito democraticamente se apresenta ditatorial e no pior dos casos, totalitário.
Por outro lado, a trajetória de potencialização das fake news assim como da pós-verdade, encontra-se interligada a contextos favoráveis relacionados ao processo tecnológico e a ilusão do poder de fala nas redes sociais, como também, aos contextos políticos de revigoramento das forças conservadoras em todo o mundo. A implosão da política de verdade e do pacto social em torno dela que já vigorava há quase dois séculos, se posiciona em um novo contexto em que a hipérbole verdadeira anunciada por Donald Trump, atual Presidente dos Estados Unidos, no livro Trump: a arte da negociação, ganha grande projeção e aceitação no seio da sociedade, pois o que importa para tal personagem não é a verdade, nem tampouco os fatos, mas o impacto. O próprio Trump e membros de sua equipe como Kellyane Conway sua assessora, já deixaram claro que trabalham com vias alternativas de construção da verdade, em que os fatos pouco importam, visto que a narrativa bem contatada é a que ganha projeção e reflexividade pública, já que ninguém se importa mais com a verdade. O que nos lembra as ponderações de Hannah Arendt) “[...reconsiderando o velho ditado latino, percebemos pois, não sem certa surpresa, que o sacrifício da verdade para a sobrevivência do mundo seria mais fútil do que o sacrifício de qualquer outro princípio ou virtude”.
Em antítese, é bem verdade, que a mentira é algo inerente ao jogo político desde sua gênese, assim como, a manipulação das mentes não críticas e os jogos de sedução que levam as massas a apoiar governos que trabalham para retirar e não garantir direitos. Todavia mentiras e manipulações que partem de políticos e partidos diferem das supostas construções que se colocam como pós-verdade. Na visão de D’Ancona “a novidade não é a desonestidade do político, mas a resposta do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença e, por fim, à conivência. A mentira é considerada regra, e não exceção, mesmo em democracias [...]” .
Donald Trump, hoje o 45º Presidente norte-americano, tem trabalhado no sentido de naturalizar as narrativas que se afastam do real com grande ênfase. Essa autora diz que o Presidente norte-americano é um mentiroso incorrigível. “O The Washington Post calculou que ele fez 2.140 alegações falsas ou enganosas no seu primeiro ano de governo, uma média de quase 5,9 por dia”. As mentiras envolvem toda e qualquer área e todo e qualquer problema. Uma prática comum e diária de Trump é atacar a imprensa, a justiça, o sistema eleitoral, os funcionários públicos. O que Jair Bolsonaro tem se esforçado por copiar com muita insistência em seugoverno. Diariamente, em sua conta no twitter, o Presidente da República Federativa do Brasil dispara declarações que nem sempre possuem um fundo de real.
Para além da construção de mentiras que se tornam notícias em uma crescente indústria de fakes News, o mais preocupante é perceber o envolvimento e engajamento do público com a aceitação da mentira e com a replicação desta. Ainda em terreno norte-americano Kukatani apresenta dados complementares da pesquisa do The Washington Post que apontam que 47% dos republicanos erroneamente acreditam que Trump venceu no voto popular e 68% creem que milhões de imigrantes ilegais puderam votar em 2016. A mesma autora destaca ainda um estudo da Universidade de Chicago que traz uma realidade mais preocupante ainda no que concerne ao discernimento sobre fatos e verdades e aceitação emocional de mentiras. Este estudo revelou que 25% do norte-americanos acreditam que a quebra da bolsa em 2008 foi secretamente orquestrada, enquanto que 19% tem como certo que o 11 de setembro foi arquitetado pelo próprio governo dos EUA, e o mais surpreendente é que “[...] 11% acreditaram numa teoria que os próprios pesquisadores inventaram, que dizia que lâmpadas fluorescentes faziam parte de um plano do governo para tornar as pessoas passivas e fáceis de serem controladas”.
O fato é que, é nesse contexto de disputas políticas e ideológicas, que o desentendimento tem se tornado o principal motor articulador das narrativas desinformacionais, verdades alternativas, mentiras e fakes News. O velho Maniqueu é chamado e inúmeros inimigos são nomeados e jogados na arena aos leões. Enquanto nos Estados Unidos os imigrantes, os árabes e a China foram construídos como os grandes inimigos dos EUA nos últimos anos, no Brasil um discurso de ódio pautado em uma falsa moral nomeia homossexuais, negros, índios e mulheres feministas como algo a ser combatido. A violência simbólica ganha as narrativas sob a forma de piadas e se transforma em violência física potencializando os assassinatos e outros crimes. O Brasil ocupa já há alguns anos os primeiros lugares em crimes contra negros, mulheres e homossexuais.
Na construção dessas narrativas que procuram jogar uns contra outros, não importam fatos, mas tão somente a emoção como principal elo de ligação entre o poder e o povo. Na Rússia de Putin a resignação cognitiva é explorada ao máximo, os fatos e o jornalismo, que tem nos fatos sua matéria prima, não mais importam. A credibilidade dos meios jornalísticos é atacada ao extremo nos dois lados do globo terrestre. Alexander Dugin,considerado o Rasputin de Putin e grande influenciador da direita norte-americana, diz simplesmente que a “verdade é uma questão de crença” ou seja, “ a verdade é aquilo que você entende dela”. Esse cientista político russo compartilha ideias comuns com “Stephen Bannon, neonazistas e sobrevivencialistas” .
A política desaparece e dá lugar a uma anti-política pautada no desentendimento provocado intencionalmente e hoje potencializado pelo sistema tecnológico em que algoritmos, trolls e hashtags guiam e formam as bolhas que devem separar/unir pessoas pela forma como pensam em relação aos temas sobre os quais se manifestam. Nomear temas e esperar reações previsíveis tanto de apoio quanto de resistência fazem parte da estratégia de uma anti-política que se estabelece não por projetos, mas por modos de exercer o poder que não visam o compartilhamento deste, mas somente a aceitação e obediência a um poder que mesmo sendo eleito democraticamente se apresenta ditatorial e no pior dos casos, totalitário.
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