Recentemente, interroguei nesta coluna sobre como anda a cultura no Piauí. Essa inquietação foi motivada pela falta de transparência e pelo direcionamento de um grande volume de recursos do SIEC e do tesouro estadual para dois eventos juninos realizados por grupos empresariais, em detrimento da realização do Encontro Nacional de Folguedos, embora a publicação no Diário Oficial do Estado se refira exclusivamente ao XXXIX Folguedos, incrivelmente, até o momento (já estamos em julho ) não realizados, muito embora os recursos tenham sido liberados. E, portanto, fica a pergunta que não quer calar: Cadê os Folguedos que estavam aqui?
Nesse ínterim em que as festas juninas aconteciam e não aconteciam, o Governador Wellington Dias, por sua vez, criou a Secretaria Estadual de Cultura e nomeou o Deputado Estadual Fabio Novo para o cargo de secretário, cumprindo assim, promessa de campanha exposta no plano de cultura elaborado por artistas e promotores ligados ao seu partido e comprometidos com a cultura piauiense.
Fabio Novo que assumiu na última segunda, 29 de junho, tem pela frente inúmeros desafios, haja vista o acúmulo de problemas da FUNDAC e sugiro neste espaço o que já fiz pessoalmente: _ sugiro ouvir as instituições ligadas a diversas manifestações, sugiro ouvir os gestores que lhe antecederam porque conhecem bem os problemas, sobretudo, o malabarismo que se é obrigado a fazer por conta do orçamento reduzido; problema que espero seja sanado a partir da criação da Secretaria já que esta deve ter orçamento compatível com o tamanho do desafio que se coloca. Sugiro ouvir artistas e corpo técnico da própria fundação, pois podem auxiliar em um diagnóstico mais preciso da real situação.
Dentre os desafios que se colocam o dos folguedos é premente e Fabio Novo deverá ter força e apoio político não apenas solucionar o absurdo, como para evitar que ações similares ocorram posteriormente.
Todavia, ser o gestor máximo da cultura no ambiente do Estado em nosso Piauí requer tanto conhecimento das políticas públicas que o país vem implantando há mais de uma década, sobretudo, as de democratização cultural e democracia participativa, sobre as quais há muito falo neste espaço opinativo; como vai requerer um planejamento estratégico que inclua potencialmente parcerias público-privadas, por exemplo, na gestão dos espaços e equipamentos de cultura que apresentam graves problemas de manutenção e de visibilidade pela ausência de investimentos.
Por outro lado, é válido lembrar que a Secretaria de Cultura tem responsabilidades que extrapolam o seu ambiente institucional, haja vista que é o órgão estatal encarregado do fomento ao ambiente cultural. Nesse sentido, é preciso ponderar sobre qual o papel do Estado na Cultura, papel que por sinal, muda conforme a ideologia de Política Cultural que se adota.
Para alguns estudiosos, o Estado pode atuar como facilitador quando se utiliza de uma política de incentivos fiscais; pode atuar como mecenas quando apoia e patrocina diretamente o setor, ou como arquiteto quando se coloca no papel de gestor não só apoiando, como controlando instituições culturais, intervindo na produção artística e disponibilizando uma estrutura burocrática para fazer o segmento funcionar. Outros autores, falam em estado regulador que mantém a ordem a material e jurídica das atividades culturais junto à sociedade civil. Falam ainda em um Estado interventor indireto que se coloca na promoção de eventos e no fomento ao segmento cultural, seja através da construção de infraestrutura e equipamentos culturais, seja apoiando os processos da indústria e da economia da cultura.
No Brasil há um delineamento claro do papel do Estado na Cultura com inclinação para a política de democracia participativa focada no fomento à produção, fruição, circulação e visibilidade das manifestações culturais existentes nos mais diversos cantos da nação. O Cultura Viva é o principal programa e nele, os Pontos de Cultura atuam diretamente no seio da sociedade. E, embora o Programa Cultura Viva esteja ainda repleto de problemas de ordem burocrática, orçamentária, de gestão, de conhecimento, etc.; do meu ponto de vista, ele se apresenta como o caminho para que o Brasil possa efetivamente produzir cultura em todos os seus estamentos e não apenas nos nichos mercadologicamente favorecidos.
De todo modo e para além dos modelos acima mencionados, a definição de diretrizes que compõem a política cultural é fundamental. O Estado deve ser o principal incentivador do mapeamento e da diversidade cultural existente em seu território, assim como, deve fomentar e viabilizar ações culturais de toda natureza visando o exercício pleno da democracia e o respeito às diferenças, com o intuito de permitir o afloramento e o reconhecimento da produção cultural.
Isso, no entanto, não quer dizer que o Estado deva manter em sua folha de pagamento salários irrisórios para os artistas. Isso não quer dizer que o Estado deva ser cabide de emprego. Ao contrário, isso quer dizer que cabe ao poder público dar condições dignas para o aflorar da arte, tornando o setor produtivo e sustentável.
Em termos globais a maioria das políticas culturais determinam diretrizes para o setor, indicando sua linha de atuação procurando aliar Estado, mercado e sociedade. No momento atual, sobretudo, no Brasil a construção dessas diretrizes tem como base a transversalidade da cultura, englobando as dimensões simbólica, cidadã e econômica que fazem com que este segmento seja plural e ao mesmo tempo peculiar.
No que concerne ao Piauí, precisamos voltar aos eixos e ter definidos que papel o Estado através do governo constituído pretende ter em nossa cultura.
Como das vezes em que me dispus a abordar sobre a posse dos gestores da FUNDAC que assumem a cada período, reforço aqui o que já disse em outras ocasiões: _ do meu ponto de vista, a principal característica que esperamos de um secretário de cultura é a boa vontade para lutar e realizar, assim como, o entendimento de que os ambientes culturais antropológico e estético-artístico não se dissociam e são de máxima importância para o desenvolvimento de uma sociedade, assim como, para o aflorar de um senso de pertencimento calcado em uma identidade cultural forte que se reforça na memória coletiva e na história de um povo.
Fabio Novo tem um histórico de trabalho no ambiente cultural e apoia pessoalmente de forma contumaz, várias iniciativas espalhadas pelo estado, demonstrando assim, interesse por ações de valorização da cultura do Piauí. No entanto, “ uma andorinha só não faz verão” e é aí onde creio que nomes como Francisco Pellé, Jairo Araújo, Marleide Lins, Sônia Terra, Cineas Santos, Aurélio Melo, Manoel Paulo Nunes, dentre inúmeros outros, podem ajudar.
Ana Regina Rêgo
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.