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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

06/08/2015 - 18h37

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

06/08/2015 - 18h37

Expo Milano 2015

Uma viagem pelos sabores, pelas culturas e pelas soluções para a vida do homem no planeta.

Imagem: site Expo

 Imagem: site Expo

As Exposições Mundiais foram criadas em meados do século XIX na Inglaterra com o objetivo de apresentar o progresso em diversas áreas, e, a cada Exposição uma temática contemporânea era escolhida e todos os países participantes mostravam seus avanços na área que pautava o evento. A Expo de Milão que se encontra aberta ao público desde maio e cujo tema é Nutrir o Planeta, Energia para Vida, apresenta nas palavras de seus organizadores, um adicional que é a oportunidade tanto para apresentar o que está sendo feito de melhor em cada país sobre a questão da sustentabilidade ambiental e humana, incluindo aí a alimentação e a água como elementos básicos nesse processo, como também promover discussões e facilitar cooperações entre as nações participantes. Cerca de 150 países participam do evento, dentre eles, 55 com o próprio pavilhão.

 

Nós entramos na exposição por volta das 10 horas da manhã de uma segunda-feira e fazia um calor de 35 graus. Pouca sombra, nenhum vento, mas o ar era de festa, de encontro, ou melhor de encontros culturais. Em nosso primeiro dia de Expo não entramos pelo pavilhão zero que acolhe o visitante e o prepara para as temáticas da exposição. Entramos pelos grupos de países da América Central e alguns da África e acho que essa foi a nossa sorte, porque do contrário não chegaríamos até Belize (América Central), Dominica (América Central) Guiana (América do Sul) e outros. Esses países dividiam pequenos espaços em pavilhões do próprio evento, mas o que muito nos agradou foi a simpatia incondicional de seus representantes e recepcionistas e a gratidão pela nossa visita.

 

Alguns países escolheram seus melhores artistas para expor e os próprios artistas lá estavam vendendo seus produtos. Terminamos comprando e batendo fotos com várias pessoas dos pequenos países com as quais dificilmente teríamos contato no breve espaço de uma vida.

 

Essa recepção calorosa dos pequenos nos abriu a exposição e nos centrou não apenas nos temas do evento e nas soluções que cada país procurou apresentar, mas para um prisma diferente que é na verdade o grande elo entre todos os povos que lá estavam, qual seja: a centralidade da cultura, que tanto já falamos neste espaço opinativo. Lembrando, falamos de cultura em sentido holístico, antropológico e englobamos o artístico-estético.

 

Na Expo Mundial deste ano, mais uma vez, os povos se congraçam e apresentam o melhor de si. Lá não vimos nenhuma manifestação conservadora, racista, homofóbica, reacionária, etc. Ao contrário as mensagens eram sempre de respeito ao próximo, respeito as religiões e ao pensamento de cada um, respeito a orientação sexual, etc.  É bem verdade, que pela cidade de Milão haviam pichações contra a realização da exposição, mas não conheço sua realidade e não posso comentar os problemas italianos.

Contudo a vitrine que se fez do mundo é bela.  E aí nos perguntamos: é apenas vitrine?

 

Sinceramente, espero que não, porque a cordialidade é a guia do evento para convivência pacífica de povos tão distintos culturalmente, pelo menos pelos meses em que permanece a Expo. O que nós vimos foi um encontro de culturas e não uma cisma como estamos vivenciando em várias partes do planeta. Não uma sociedade em crise como a brasileira, cuja ética e valores morais foram adaptados de acordo com a Teoria da Utilidade Ética em que cada um adota o que mais lhe convém, enquanto condena os demais.

 

O que presenciamos na Exposição mundial se coloca na contramão da babel em que se transformaram as redes sociais. Pois, lá no evento falamos literalmente línguas distintas, milhares de línguas, mas nos comunicamos, nos entendemos e compreendemos cada cultura, para ao final valorizarmos não só o nosso lugar, mas cada maravilhoso lugar do nosso planeta e todos os seus povos. Já aqui no ambiente das redes sociais em que a maioria de nós vive imerso, em geral, falamos a mesma língua, mas não nos entendemos porque nos falta respeito ao próximo.

 

Podem me falar de deslumbramento precoce com as vitrines, já que a vida real com suas guerras e a vida virtual com suas disputas ideológicas, servem para nos trazer de volta ao lado negativo de nós, humanos. Contudo, é impagável a experiência de entrar em contato com tantas culturas ao mesmo tempo, experimentar a comida de países longínquos, como a Romênia por exemplo, dançar com os africanos, se emocionar com o filminho dos Emirados Árabes em seu pavilhão projetado pelo Norman Foster. Morrer de felicidade ao colocar os pés na piscina do pavilhão República Tcheca quando o calor beirava os 40 graus; brincar com o jardim de luzes dos chineses. Admirar a luta das mulheres no pavilhão de Angola. Comer deliciosos tacos mexicanos. Atravessar o rio Amazonas para poder entrar no pavilhão brasileiro e matar a saudade da nossa comidinha.

 

Efetivamente o tema da exposição esteve presente nos vários e vários países que visitamos em dois dias de imersão no evento. Alimentar o planeta, pressupõe inicialmente, erradicar a fome de todos os lugares e aí vale prestar atenção nos dados informados pela organização da Expo que nos dizem que entre 2010 e 2012, 870 milhões de pessoas passavam fome. Em contrapartida no mesmo período morriam 2,8 milhões de pessoas com doenças relacionadas a obesidade. Por outro lado, para alimentar bem, todos os povos temos que nos preocupar com o desperdício, pois 1,3 bilhões de toneladas de alimento são desperdiçadas a cada ano. Diante disso cada país, procurou apresentar soluções caseiras, muitas já postas em práticas outras em desenvolvimento.

 

A preocupação com o meio-ambiente também foi visível na maioria dos pavilhões que visitamos. Alguns como o da Áustria, procuraram recriar verdadeiras florestas e colocar a natureza no centro da nutrição do planeta, outros como o da França e o da Inglaterra criaram jardins, hortas e plantações de seus países; o Brasil colocou no subsolo uma amostra de uma floresta tropical.  Já os Emirados Árabes apresentaram por meio de um vídeo “cinematográfico” como solucionaram o problema da energia e da água e criaram cidades no meio do deserto como Dubai (vale lembrar que Dubai é tanto o nome da cidade como o nome de um dos sete Emirados que compõe o país).

 

Por outro lado, os Estados Unidos cujo pavilhão é anunciado por uma bandeira gigante, em contraponto com os demais países que mantiveram um padrão mais discreto, apresentou processos tecnológicos de ponta e propôs parcerias para o uso de satélites para proteção dos recursos naturais do planeta. O visitante é recebido com um vídeo de Obama em que fala das soluções de seu país para os problemas do planeta. Já o McDonald’s, rede de fast-food, responsável por parte da obesidade naquele país, segundo pesquisas de organizações civis reiteradamente divulgadas na mídia e na internet, se apresentava na Expo com o Projeto Fattore Future que apoia agricultores italianos, enquanto isso situava seu restaurante na exposição, onde segundo sua publicidade, os visitantes podiam disfrutar de uma refeição de qualidade a preço reduzido.    Será?

 

Bem, caríssimos leitores, retorno hoje de um breve período de férias, porém não de descanso. Depois de assistir ao Sal da Terra, documentário sobre o trabalho de Sebastião Salgado no começo do ano e de visitar a Expo e as culturas do planeta, creio que devemos nos voltar para as zonas excluídas que vão além do nosso lugar. Continuar construindo aqui é essencial, mas ajudar a quem não recebe nenhum tipo de ajuda é primordial.

 

Ana Regina Rêgo

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