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Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Mauro Sampaio

Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

03/05/2022 - 13h10

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Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

03/05/2022 - 13h10

Futebol, promessa de felicidade

 

O Brasil concentra sua força futebolística em poucos clubes, não chega aos 20 que participam da série A do campeonato nacional mais importante, o Brasileirão. Desde que a CBF adotou a disputa por pontos corridos, em 2003, oito terminaram em primeiro lugar. Todos do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Quem se torna torcedor deseja ver o seu clube levantar a taça, ostentar títulos. Se possível, o de campeão mundial. O fascínio pelo futebol, mais do que nunca, desde sua invenção, está na promessa de felicidade nas grandes vitórias. Vencer, vencer, vencer, até morrer. 

O torcedor que quer alcançar essa felicidade dispensará clubes que sequer participam da elite do campeonato brasileiro. Se na sua cidade, no seu Estado e na sua região eles nada têm a oferecer além de um mísero título estadual ou regional, desde muito cedo, já influenciados por familiares e amigos, o caminho "natural" é escolher e se declarar apaixonado por um grande clube, aquele que pode cumprir a promessa. E ele passará a viver de acordo com o calendário do futebol, na frente de uma TV. 

O seu Estadual não pode ser o da sua aldeia se a sua aldeia não passa nos critérios do futebol de alto rendimento. O seu clube tem que ter condições de ir até o mundial. Ou a vida perderá o sentido.

É compreensível que o Clube de Regatas Flamengo, do Rio de Janeiro, tenha torcedores em todo o Brasil. Nos Estados "sem futebol", sente-se em casa quando vai enfrentar um clube local desprovido de grandeza e da promessa de felicidade. O pequeno observa os conterrâneos exclamarem: "Foi mal, mas eu quero ser feliz. Sem o Flamengo, minha tristeza seria profunda. Você não me promete nada." 

Na partida jogada no Albertão, em Teresina, pela Copa do Brasil, a equipe do alviverde Altos ouviu os torcedores cantarem o Hino do Piauí antes da bola rolar. Um pedido de desculpas antecipado. O estádio estava completamente rubro-negro. Noite carioca na capital piauiense. A "terra querida" não oferece essa promessa de felicidade. Os jogadores do Flamengo nunca iriam entender aquela torcida, em peso, cantar o Hino do Piauí e querer, vejam só, a vitória do Altos. Estão habituados a serem idolatrados fora do Rio do Janeiro. 

Mas, já pensou, se pulasse da caixinha de surpresas do futebol a resistência à sedução do grande? A promessa de felicidade do esporte mais popular atingiria outro patamar, jamais visto em qualquer lugar do planeta. 

O clube piauiense é apenas "humilde', disse um humorista carioca em sua conta no Twitter. E aí residiria a mágica de um sentimento de pertencimento não praticado no Albertão. O "humilde" sendo exaltado porque é da sua "terra querida". A determinação coletiva de fazer a diferença. A felicidade, poderia dizer Guimarães Rosa, esquenta e esfria, se reinventa. O que ela quer da gente é coragem. O Flamengo que convocasse sua torcida para o Maracanã.

Texto e fotografia: Mauro Sampaio

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