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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

28/08/2015 - 07h16

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

28/08/2015 - 07h16

Memória Urbana de Teresina

Lembrar e esquecer são movimentos, às vezes, inconscientes que compõem o processo de construção social da memória coletiva, tanto quanto da memória individual. Memória coletiva e memória histórica por sua vez, são componentes da identidade, logo impactam diretamente no senso de pertencimento de um povo. Assim, caríssimos leitores não é à toa que as sociedades vêm cada vez mais investindo em revisões da memória histórica e em muitos casos, do discurso da própria história.

           

Não me dedicarei aqui a discorrer sobre os embates que as sociedades, as classes e grupos sociais, assim como, os profissionais que trabalham com a construção memória travam, desde o  inicio dos tempos, pelo poder de construir um discurso mnemônico que seja predominante em relação a outros.

           

Hoje venho abrir o debate para a memória urbana de Teresina, construída não somente pelos seus poucos edifícios históricos já tombados pelo patrimônio e pelas histórias já narradas, mas, pelo que foi paulatinamente ao longo dos anos, sendo esquecido, sendo apagado do desenho da cidade e logo da memória de sua gente.

 

A deusa Mnemosyne, personificação grega da memória, ao tempo em que acolhe tudo o que foi,  nos reclama a presença de um ausente, que permanece socialmente vivo na lembrança, contudo, apenas lembrado por seus contemporâneos, a menos que um trabalho de memória seja realizado através de registros, rastros e vestígios, ou mesmo pela construção de lugares de memória como bem detalhou Pierre Nora. Caso contrário, o rio do esquecimento se estabelece já que não haverá ninguém para reclamar por uma determinada memória.

 

Semana passada  recebi um presente maravilhoso: _ quatro volumes da obra Rua da Gloria de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro publicados pela Editora da Universidade Federal do Piauí que esta fazendo um grande trabalho em publicar obras de referência (aproveito para agradecer publicamente). Não conheço o autor, mas já o admiro muito pelo grande esforço em registrar nas páginas de Rua da Gloria, rua em que residiu quando criança, parte da memória urbana de Teresina, aparentemente ainda não contada, ou, se contada, não visibilizada pela maioria de sua população. Fiquei pensando, portanto, que necessitamos de espaços de memória no sentido patrimonial inicialmente proposto pelo historiador da memória, Pierre Nora, mas também de obras, como a mencionada, que nos proporciona um passeio pela cidade do passado.

 

Como não sou de Teresina, minha memória da cidade remonta ao início da década de 1980 quando minha família se mudou para os estudos dos filhos, portanto, nem de longe tenho na memória outro desenho urbano que não o que presenciei a partir daqueles anos e que vem sendo moldado a cada dia.

 

 

Todavia, recentemente, por conta de um evento que realizamos anualmente, denominado Teresina Sustentável e que em 2014 voltou-se para proposições para o centro da cidade; começamos uma breve pesquisa ouvindo os teresinenses que vivenciaram uma cidade diferente da que hoje conhecemos. Nesse percurso, muita coisa identificamos, outras tantas ainda permanecem no rio de Lete (rio do esquecimento).

 

Creio que a maioria dos meus leitores não sabe onde era a Rua da Gloria, e se falarmos em Rua dos Negros, Rua Grande, Rua Bela,  Cemitério do Jurubeba que compunham a Teresina do século XIX e que são mencionados pelo autor Carlos Monteiro na obra citada. Como também não conhecemos outros pontos de referência da memória urbana que podem ser encontrados com facilidade em livros de  autores como Clodoaldo Freitas, Teresinha Queiroz, A.Tito Filho, dentre tantos. Desses pontos, podemos mencionar o Teatro Santa Teresa, o Teatro Concórdia, a Praça Aquidabã, o Estúdio da Rádio Difusora, todos espaços de referência patrimonial, mas, sobretudo, locais de novas sociabilidades em seus tempos.

           

Como dito a maioria dos espaços urbanos que acabei de mencionar não são conhecidos da maior parte da população de Teresina que não conhece seus espaços, não tem memória urbana e, portanto, pouco sabe de sua história.

           

Vale ressaltar que os equipamentos urbanos de referência histórica possuem valor para as sociedades, sobretudo, pela história social, política, cultural  a que estão ligados, portanto, extrapolam o valor arquitetônico.

 

Nesse contexto é certo que a evolução social e tecnológica provoca uma readequação dos usos dos espaços públicos e privados se coadunando, dessa forma, com  o conceito de tempo como a quarta dimensão do espaço colhido na física, mas cujo processo acarreta em mutações no tecido das cidades para acolher as novas necessidades que muitas vezes, engolem o passado e o relegam ao esquecimento. Necessário, portanto, que sejam feitas ações em prol da convivência saudável do passado com o presente e na projeção do futuro; caso contrário, nos posicionaremos sempre como uma sociedade sem memória, já que ao tempo em que trabalhamos para atender as demandas do presente, nos dedicamos, inconsequentemente, a apagar o passado.

 

Os movimentos de preservação surgem em diversas frentes e alguns se tornam exemplares, como em cidades que muito valorizam seu patrimônio histórico e sua memória, a exemplo de Barcelona,  em que novo e antigo convivem sem agressões, sem exclusões e com a minimização dos apagamentos na cidade. Novos usos são agregados ao patrimônio que recebe a tecnologia, mas não se separa de seu passado. A maioria dos edifícios possui seu próprio espaço de memória, deixando a conhecer a trajetória dos que ali estiveram em outros tempos.

 

Muito há para se fazer em nossa jovem capital com referência à memória urbana que deve se projetar dos livros de historiadores e pesquisadores para o espaço social em que a população possa ter acesso de modo amplo e assim, possa se conhecer e se valorizar cada vez mais. Registro aqui, portanto, uma primeira provocação para que possamos repensar nossa memória urbana.

 

Por fim, peço aos que possuem relatos da memória urbana de Teresina que entrem em contato comigo pelo email: anareginarego@gmail.com .  Obrigada!

           

 

Ana Regina Rêgo

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