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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

01/10/2015 - 15h25

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

01/10/2015 - 15h25

Quando eu passar na Frei Serafim

Pensando em memória urbana, pensando em construção de memória social, pensando em lugares de memória, pensando em como preservar valores de um passado recente, enfim procurando imagens nossas de um presente do passado que possa nos alcançar no presente, cheguei até a avenida Frei Serafim. Mas cheguei até a Frei Serafim não apenas pela história que representa entre nós, contudo também pelo exemplo de urbanismo e arborização implantados e que tiveram um papel importante para a cidade.

 

Alguns depoimentos registrados em livros históricos nos dizem que a avenida nasceu a partir do caminho trilhado pelos homens que construíram a Igreja de São Benedito na segunda metade do século XIX, que diariamente caminhavam até o rio Poty para pegar água e barro para a obra.

 

A avenida nascida da trilha recebeu posteriormente o nome de Frei Serafim de Catânia, exatamente o responsável pela construção da Igreja de São Benedito, local em que a avenida  se inicia.

 

No começo do século XX a Frei Serafim recebeu calçamento e foi planejada com três passeios, dois laterais e um central, todos com arborização que serviria tanto para amenizar o calor, como para que a passagem dos pedestres acontecesse de forma tranquila e em clima agradável.

 

Nesse período, a avenida possuía grandes casarões aonde residiam as famílias mais abastadas da cidade. As residências compuseram um importante conjunto arquitetônico para Teresina, e, muito embora, nem tudo tenha sido preservado, ainda se tem a Frei Serafim como um referencial da memória urbana.           

 

A avenida receberia o Hospital Getúlio Vargas durante o Estado Novo e alguns anos depois o Edifício do DER-Departamento de Estradas e Rodagem; este último foi projetado pelo arquiteto Maurício Saed em 1955 e se constitui como um belo exemplar da arquitetura moderna brasileira.

 

Posteriormente, os passeios laterais da Frei Serafim desapareceram e o passeio central tornou-se mais largo abrigando bancos e fontes luminosas que aliadas às frondosas árvores existentes, fizeram da Frei Serafim um lugar verde  e onde cidadãos transeuntes aproveitavam para renovar as energias perdidas nas longas caminhadas pelo centro da cidade com temperaturas sempre muito elevadas. Crianças de rua brincavam e nadavam nas fontes, principalmente, na que ficava quase no final da avenida já perto da ponte que liga a Frei Serafim à avenida João XXIII.

 

Já no século XXI nova reforma no passeio da avenida agregou outro tipo de vegetação, novos bancos e retirou as fontes, pouco cuidadas. Entretanto tal medida colaborou para o aumento da temperatura no local.

 

Pois bem, falo de Frei Serafim, mas não me refiro somente à essa avenida em particular, ela é tão somente um exemplo do que considero ao observar as transformações urbanas em Teresina, pois ela , tanto quanto a maioria das avenidas e ruas, sofreu retração da vegetação, diminuição dos passeios para liberação de espaço para a indústria automobilística.

 

As fontes da Frei Serafim não foram as únicas a sumir. Se procurarmos por fotos da Praça Pedro II de meados do século XX vamos nos deparar com uma fonte, aliás equipamento comum em um grande número praças por todo o Piauí, hoje completamente em desuso, simplesmente, porque exigem manutenção e cuidados permanentes.

 

O fato é que ao longo dos anos que tenho vivido nesta cidade tenho percebido que o privilegio dado ao carro tem implicado não apenas na diminuição de nossas áreas verdes, como também na redução dos espaços para o pedestre circular livremente.

 

Esse ano como em todos os anteriores, os meses do BRO-O-BRÓ nos castigam com temperaturas altas e um clima insólito e não vejo por parte do poder público nenhuma medida que venha apontar para novos horizontes, ao contrário continuamos a presenciar a especulação imobiliária, as queimadas insistentes e a indústria das invasões levando embora nossas reservas ambientais. No mesmo caminho, venho presenciando a morte lenta dos rios e temos denunciado recorrentemente e nada se faz em sentido contrário; ao que parece os governantes vivem em outro planeta e lá não há calor e muito menos possibilidade de falta de água.

 

Em verdade como o poder público não faz, que tal fazermos nós?  Proponho criarmos um projeto de arborização imediata para Teresina, precisamos urgente plantar não um milhão de árvores, mas muitos milhões de árvores.  Cada cidadão de Teresina adulto ou criança deve plantar duas árvores a cada ano e deve cuidar delas como se fossem suas filhas, para que elas cresçam  e nos proporcionem sombra, nos deem frutos e ajudem no ciclo da vida e no ciclo das chuvas.

 

Plantemos em nossos quintais, em nossas calçadas, nas praças próximas de nossas casas. O ideal seria que o poder público nos indicassem qual árvore plantar em cada lugar, mas se isso ocorrer, plantemos mesmo assim, pois estaremos garantindo um futuro melhor para as próximas gerações.

 

Devemos fazer de Teresina uma cidade verdadeiramente verde, pois somente as florestas podem nos dar mais chuvas, mas sombras e mais frutas, mais e mais qualidade de vida.

 

Quando eu passar na Frei Serafim eu quero sombra, muita sombra e água fresca!

 

Ana Regina Rêgo

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