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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

05/11/2015 - 11h38

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

05/11/2015 - 11h38

Da simplicidade de uma amizade – para meu amigo João Germano

Muitas pessoas passam por nossas vidas, a maioria apenas passa, não deixa marcas e delas não guardamos nada. Alguns permanecem por laços de parentesco, de trabalho, de amizade e de amor, a grande maioria possui afinidades de diversas naturezas, seja familiar, econômica, interesses e gostos comuns, nível intelectual, etc.. Contudo, em raros momentos existem amizades que transcendem todas as convenções porque nascem de sorrisos iluminados.

 

Conheci João Germano por volta de 1994 quando fui trabalhar na Superintendência da CAIXA no Piauí, não me recordo de todos os amigos que encontrei naquele ano, mas do Germano sim, seu sorriso o precedia. Durante os doze anos em que trabalhei no quinto andar da rua Areolino de Abreu, com poucos intervalos em outros andares, me encontrei com Germano praticamente todos os dias em que trabalhei e nunca, absolutamente nunca o vi de cara fechada ou reclamando da vida.

 

Pessoa iluminada e proativa, sempre na frente para resolver problemas e ajudar o próximo, em nenhum momento me disse um não, mesmo quando estava assoberbado de trabalho. Tinha amigos em todos os bancos, casas comerciais, cartórios, restaurantes e demais estabelecimentos localizados no centro da cidade. Nos ajudava a resolver nossas demandas e ao mesmo tempo facilitava a vida de todos por onde passava.

 

Germano era tão prestativo e essencial em nossas vidas que acredito tenho sido uma das primeiras pessoas a ter um celular no  Piauí. Nós funcionários da CAIXA, nos cotizamos e o demos de presente ainda nos anos noventa do século XX. Assim como estivemos presente em vários momentos importantes de sua vida, como na construção de sua casa e nos poucos problemas de saúde que soubemos.

 

O que fazia de Germano um ser humano tão especial, acredito que a vontade de ajudar. Ele não podia passar por alguém que tinha pressa para resolver algo na CAIXA  e que não conseguiria porque a fila estava grande, sem que ele se dispusesse a ajudar, conseguindo resolver prontamente, na maioria das vezes. Desse modo ajudou muitos anônimos, sem desejar nada em troca. Ajudava um para que, quando outro precisasse, esse um pudesse ajudar o outro, mesmo que não se conhecessem. Com essa prática de relacionamento em rede potencializada, Germano levava solidariedade aonde fosse. Era assim seu modo de viver, sempre ajudando.

 

Germano possuía também uma qualidade cada vez mais rara atualmente. Ele era de extrema confiança a tal ponto de ter as senhas dos cartões de vários colegas, para poder pagar contas, sacar dinheiro, fazer transferências etc. Eu era uma das que confiava plenamente em sua pessoa.

 

Dentre as inúmeras histórias de Germano que ficou em nossa memória, vale mencionar aqui a do médico que chegou na agência Areolino para resolver algum problema e necessitava retornar para o hospital para alguma cirurgia ou procedimento e Germano se prontificou a ajudar, considerando o nervosismo que acometia o médico. Alguns dias depois, a esposa do Germano sofreu um acidente grave e em meio a correria para localizar amigos e médicos, ela foi para o  Hospital Getúlio Vargas ainda sem que nenhum amigo tivesse conseguido localizar um médico de plantão, todavia lá chegando o médico que a recebeu foi exatamente o que o Germano havia ajudado na agência. Germano apenas sorriu ao nos contar.

 

No último sábado a luz de Germano se apagou e seu sorriso se fechou para sempre. Senti muito não está em Teresina quando ele precisou. Senti muito não ter tido a oportunidade de falar com ele em seus últimos momentos. Ele que esteve presente em vários momentos de alegria com minhas filhas e de muito trabalho em inúmeros eventos e viagens na CAIXA. Germano era um grande parceiro e junto com os amigos motoristas ajudava a arrumar festas, preparar o Albertão para receber crianças, eventos na praia, etc. Quando eu estava séria e preocupada demais, ele sempre sorria, gargalhava e  me fazia ver o mundo de outra forma.

 

Contudo, mesmo sentindo muito a sua morte,  a minha tranquilidade veio ao visitar sua família durante o velório, quando ouvi de sua esposa que mesmo nos últimos dias ele não se queixou de nada, nem de dor, nem de nada, embora estivesse fraco e tenha morrido sem um laudo preciso, Germano permaneceu o mesmo homem feliz até o final.

 

Germano não era rico, não branco, não era intelectual, não possui nada material que pudesse nos interessar do ponto de vista financeiro, mas tinha a capacidade de nos acalmar e nos tornar mais humanos, nos fazer ver o próximo. Vai em paz, meu amigo, por sinal, leva consigo a paz com que viveu sempre e muito, muito obrigada por tudo. Você deixa em todos nós um vazio que dificilmente será preenchido.

 

Ana Regina Rêgo

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