Pediram-me para falar de um mal que está ceifando a vida de nossos jovens de forma assustadora em Teresina e já há alguns anos. Esse mal seria a depressão ou outro problema de ordem psicológica que leva ao suicídio, afinal segundo a OMS-Organização Mundial de Saúde em dados divulgados no segundo semestre de 2015, o suicídio já é a segunda causa de mortes de jovens entre 15 e 29 anos, em todo o mundo.
Relutei bastante em iniciar esse texto, sobretudo, porque nós da comunidade de Jornalismo da UFPI perdemos semana passada uma aluna recém-formada que não conseguiu vencer a doença. Era uma linda jovem, sorridente, inteligente e muito educada que deixou em todos com quem conviveu um vazio, mas também uma esperança guardada nas lembranças de seu sorriso.
Esse não é nem de longe um caso isolado e não deve ser tratado como tal. Para muitos especialistas o fenômeno tem contornos epidêmicos e deve merecer atenção do poder público e da sociedade. Dados da OMS informam que aproximadamente 1,3 milhões de jovens morrem no mundo, anualmente, de causas que podem ser evitadas, prevenidas ou tratadas. O maior índice, 11,3%refere-se a acidentes de trânsito, em segundo lugar, como dito acima, vem o suicídio com 7,3% do óbitos, em terceiro lugar a AIDS e infecções respiratórias e em quarto lugar os homicídios.
Em todas as principais causas acima elencadas,o Estado e a sociedade civil podem e devem intervir com políticas e ações de prevenção e tratamento. No caso do suicídio a OMS informa que apenas 28 países possuem estratégias de prevenção encampadas pelo próprio Estado e nesse escopo, países como a Finlândia tem conseguido reduzir os altos índices em cerca de 30%.
Outra recomendação da OMS reza que suicídio não deve ser tratado como tabu e, portanto, pressupõe que o tema seja debatido no seio da sociedade e que medidas preventivas sejam tomadas; mas, ao mesmo tempo,alerta para o fato de que casos isolados de suicídio não devem ser tratados como notícias, pois, invariavelmente, levam a imitação, sobretudo, quando a mídia inescrupulosa especula de forma sensacionalista.
Todavia, não me deterei mais tempo nessa temática, visto que é complexa e muitas são as causas de um único suicídio que fogem completamente à minha compreensão de leiga no assunto; desse modo me dedico nas próximas linhas a desenhar um caminho perdido ou apenas guardado nas mentes que vivenciaram um passado não tão longínquo em que os contatos sociais não se faziam por intermédio de nenhum meio tecnológico, mas sim, pessoalmente.
Um passado em que a competição entre as escolas não era uma guerra mercadológica por mais e mais clientes, porém no máximo se dava no plano do esporte, durante os jogos, momento em que havia muito mais integração do que competição.
Um passado em que o normal não era que as crianças e jovens saíssem das escolas às 13h30 (alunos do turno da manhã) ou às 20 h ( alunos do turno da tarde), mas sim, antes do meio-dia e antes das seis da tarde. Um passado em que as tarefas nunca eram demais a ponto de prejudicar o horário do lazer.
Um passado em que não havia rankings de melhores ou piores e, portanto, não havia necessidade de criar competições e relações internas que divulguem os melhores desempenhos entre os alunos.
Aqui é válido ressaltar que hoje o mercado escolar se desenha pelo sucesso comprovado pelo número de aprovações no ENEMe em outros institutos e índices, ou ainda quando as escolas conseguem sair bem localizadas no ranking do ensino médio divulgado, nacionalmente, a cada ano. E nesse contexto,os pais correm sempre em busca da melhor instituição e ensino. Muitos pensam que colocar os filhos em escolas que mais aprovam vai garantir a seus filhos um futuro de sucesso, normalmente, como médico ou advogado, sem considerar que cada criança é uma criança e possui habilidades distintas,tempo interior diferente e, portanto, muitas vezes, necessita não de uma educação competitiva, mas sim de um ensino criativo.
Contudo, voltando ao passado, vale lembrar que tínhamos pelo menos 4 meses de férias por ano e mesmo assim sobrevivemos maravilhosamente a todas as brincadeiras de rua e nunca ficávamos ociosos sem ter o que fazer, porque não o wi-fi não está disponível, ou porque o sinal da TV a cabo saiu do ar.
Um passado em que crianças e jovens caminhavam livremente pelas ruas e iam para as casas dos amigos sem que os pais ficassem ligando e correndo atrás com medo de que algo de ruim acontecesse.
Na verdade não um passado, mas um presente do passado em que a cobrança social concernente ao sucesso e às obrigações, normalmente, só era imposta na vida adulta.
Dificilmente poderemos retornar ao mesmo caminho, afinal as possibilidades tecnológicas e sociais se abrem mais e mais, enquanto que os problemas sociais se avolumam e as exigências de uma vida de sucesso se fazem presente. Também tenho ciência de que nos sentimos impotentes quando nossos entes queridos adoecem, mas acredito que uma sociedade mais tolerante, mais maleável, menos exigente, menos superficial, menos aparente, seja possível.
Contudo, se não podemos retornar ao caminho perdido, podemos construir um novo caminho em novas bases que preservem os valores de liberdade com responsabilidade; que fomentem o interesse pela convivência social e por atitudes comunitárias de integração, que alertem para os perigos da intolerância, seja ela de ordem social, racista, ideológica ou religiosa.
Esse novo caminho deve abandonar o egoísmo que marca a projeção em sociedade nos dias atuais e impossibilita o reconhecimento do outro, afastando o individuo da comunidade.
É esse sistema complicado e injusto que muitos jovens rejeitam e ao rejeitarem se tornam diferentes pelo simples fato de que não conseguirem se adequar aos parâmetros de comportamento, beleza, sucesso, opção sexual, religiosidade,exigidos e terminam desistindo.
Urge, portanto, não apenas a formalização de uma política de proteção à vida, mas uma mudança comportamental na sociedade que tem se tornado cada vez mais, conservadora, intolerante, exigente, aparente e sem compromisso social.
Novamente nos voltamos para a necessidade de ver o outro, ou apenas, estender a mão e dar um sorriso!
Ana Regina Rêgo
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