Em 2013 minha filha sofreu perseguição de um ser abjeto que criou um avatar virtual e ganhou vida através de falsos perfis nas redes sociais. Toda a família sofreu e os danos psicológicos causados pelo medo nos acompanharão. A criatura, por sinal, personagem renomado, foi condenada,conforme as leis brasileiras, a trabalhos sociais.
De 2013 para cá, a potencialização da maldade nas redes sociais tem se tornado patente e tem envolvido pessoas comuns que pelo simples fato de confiarem em tudo o que leem e em que tudo o que ouvem e veem, sem parar para pensar sobre a origem da informação. Esse movimento massivo de adesão a qualquer coisa está tornando a maldade sistêmica.
Antes a fofoca, as leviandades, a preocupação com a vida alheia, as falsas denúncias aconteciam em ambientes de co-presença e já provocavam problemas sociais sérios. Posteriormente, o espaço do jornalismo foi invadido por esse tipo de prática, que muito dista dos objetivos do campo, levando ao incremento das consequências e ampliando o alcance dos fuxicos e prejudicando ainda mais as pessoas envolvidas em fofocas.
Na atualidade com o falso empoderamento proporcionado pela internet, assim como, pelas redes sociais, os problemas dessa natureza, tem aumentado consideravelmente, de tal forma a produzir sérios problemas psicológicos quesaem da esfera do pessoal e ganham dimensão social.
Você já ouviu falar em troll e em hater? Pois é, eu também não, pelo menos até o ano passado. Segundo as psicólogas Beatriz Breves e Virgínia Sampaio autoras do livro A maldade humana: como detonar uma pessoa no facebook, lançado em 2014. Trollé alguém que se esconde atrás da tela e cria perfis falsos para jogar o jogo da trollagem. Jogo do mal que tem como único objetivo desestabilizar alguém, alvo de sua maldade. As peças do jogo da trollagem são pessoas vítimas, não de doentes mentais, mas de doentes sociais, cujo estranho prazer está em fazer o mal pelo mal.Segundo as autoras em matéria recentemente publicada pela revista Psique; o trollse diverte simplesmente manipulando pessoas e provocando brigas entre as peças postas (pessoas escolhidas). “Como num jogo de xadrez, a trollagemtambém possui a sofisticação de estratégias e táticas”.
Para as autoras mencionadas, o hater por sua vez, se utiliza do anonimato virtual para exercer o pseudodireito de odiar. A diversão do individuo doente de maldade é simplesmente atacar a opinião do outro, sem se importar se acredita ou não naquilo que está falando. Elas enfatizam que um haternão possui opinião, sua opinião é contrária ao que o outro diz, normalmente não possui fundamento e vem carregada de muito ódio. “Odiar por odiar, esse é o lema”.
Em muitos momentos e ambientes, os trolls, portanto, se utilizam dos haters para dar projeção ao mal que disseminam. Porém, na maioria das vezes, ambos se utilizam da falta de senso crítico dos cidadãos de bem que diante de uma informação que choca a sociedade, agem como há mais de cem anos: apenas seguem a massa, agora virtualizada. Novamente lembro aqui a velha Teoria Hipodérmica embasada na Psicologia Behariovista, “ para cada estímulo uma resposta”.
Essa potencialização do mal também se manifesta em milhares de blogs e sitescriados somente com o objetivo de denegrir imagens ou simplesmente falar mal por falar mal, objetivando conseguir leitores e projeção.
Todavia, é nas redes sociais onde existe a possibilidade real de ver seus pensamentos, posições e informações, principalmente, falsas; serem curtidas (sinal de popularidade), comentadas (sinal de repercussão: concordância ou discordância) e compartilhadas (possibilidade de incremento da visibilidade e repercussão), que muitos procuram se lançar procurando aceitação e projeção. Esse poder das mídias sociais se torna um grande perigo para a sociedade, provocando danos muitas vezes irreversíveis ao ser humano, o que pode ser atestado não apenas nos relatos das psicólogas aqui já mencionadas, mas nos relatosdiários de jovens que cometeram suicídio após ataques virtuais.
A perversidade dos trolls e dos hatersse torna dupla, pois eles se utilizam da porção de maldade que existe em todos nós e que vem à tona sempre que temos oportunidade, muitas vezes, acreditando não haver maldade em denegrir a imagem do outro, já que o outro deve merecer o que está sendo feito. Exemplo patente de nossas adesões sem maldade à maledicência diária,sãoas piadas que hoje recebemos no whatsaap sobre políticos e famosos e todos rimos bastante. Não apenas rimos, como repassamos. Não nos damos conta de que somos apenas peças de jogos e que o outro também é tão humano quanto nós. Não paramos, não pensamos, apenas nos deixamos usar e nos tornamos alvo fácil do objetivo dos estrategistas. Isso vale para muita coisa, mas no momento está valendo para a proliferação do mal pelo mal.
Uma boa representação do uso da maldade que vive em nós por um assassino é o filme Untraceabletraduzido no Brasil com o título Sem Vestígios em que o personagem do assassino, mata suas vítimas na frente das câmeras e em transmissão online através de um site. Quanto maior o número de pessoas que se conectam para assistir,mais a morte se torna rápida e cruel. O objetivo do assassino é comprovar que o mal vive em todas as pessoas e que gostamos de ver o sofrimento do outro.
O que ninguém percebe é que qualquer um pode ser vítima do ódio de alguém que é somente um avatar, ou não é nada, mas odeia simplesmente; cultiva o ódio e desejar o mal. Para todos nós fica a dica: pensar antes de curtir e compartilhar algo, de forma que possamos divulgar cada vez mais o bem e deixar o mal isolado.
Mas o que fazer quando somos vítimas de ataques virtuais, cyberbullyng, falsas denúncias, notícias mentirosas, etc.?
As autoras orientam a não responder, não contracenar e não permitir que nenhum amigo o faça. Tenha consciência de que pode está sendo vítima de um jogo perverso cada vez mais comum na internet e tem como objetivo único destruir a sua imagem e de lhe desestabilizar psicologicamente. Procure dois tipos de ajuda imediatamente: 1. Ajuda psicológica para enfrentar o turbilhão. 2 . Delegacia de crimes virtuais. Lembre-se todo computador tem um endereço de IP, sua identidade; além disso tudo o que se conecta a rede é passível de localização e identificação, inclusive, por horário de uso.
Ana Regina Rêgo
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