O Facebook, lançado em 2004, atualmente tem 1,6 bilhão de usuários no mundo todo. Tornou-se a principal maneira das pessoas procurarem notícias na internet – e, na realidade, é predominante em maneiras que teriam sido impossíveis de imaginar na era dos jornais impressos. Como escreveu Emily Bell, “as redes sociais não se limitaram a engolir o jornalismo; engoliram tudo. Engoliram as campanhas políticas, os sistemas bancários, os históricos pessoais, a indústria do lazer, a venda a varejo e até o governo e a segurança”.
Diretora do Centro Tow para Jornalismo Digital na Universidade de Columbia – e membro da diretoria do Fundo Scott, que é proprietário do Guardian –, Emily Bell fez um esboço do impacto brutal das redes sociais no jornalismo. “Nosso ecossistema de informações mudou mais dramaticamente nos últimos cinco anos do que em qualquer outra época nos últimos 500”, escreveu ela em março. “O futuro das publicações está sendo posto nas “mãos de uns poucos, que atualmente controlam o destino de muitos”. Os publishers de jornais perderam o controle da distribuição de seu jornalismo, o qual, para muitos leitores, “agora vem filtrado através de algoritmos e plataformas que são opacos e imprevisíveis”. Isso significa que as empresas das redes sociais tornaram-se esmagadoramente poderosas ao determinar aquilo que lemos – e imensamente lucrativas ao gerar uma receita com o trabalho de outras pessoas. Como destaca Emily Bell: “Há uma concentração de poder em relação a isso muito maior do que jamais houve no passado.”
Publicações organizadas por editores foram substituídas, em muitos casos, por um fluxo de informações escolhido por amigos, contatos e família e processado por algoritmos secretos. A velha ideia de uma internet aberta [wide-open web] – onde hiperlinks de site para site criavam uma rede de informações não hierárquica e descentralizada – foi, em grande parte, substituída por plataformas projetadas para maximizar o tempo que você passa entre suas paredes e algumas delas (como o Instagram e o Snapchat) não permitem qualquer tipo de link externo.
Na realidade, muitas pessoas, principalmente adolescentes, vêm passando cada vez mais tempo em apps de conversas fechadas, que permitem aos usuários criar grupos que compartilham mensagens de modo privado – talvez porque os jovens, que mais provavelmente já enfrentaram assédio online, procuram mais cuidadosamente espaços sociais protegidos. Mas o espaço fechado de um app de chat é ainda mais restritivo que o jardim com paredes do Facebook ou outras redes sociais.
Como escreveu no Guardian, no início do ano, o pioneiro blogueiro iraniano Hossein Derakhshan, que ficou preso em Teerã por seis anos devido às suas atividades online, a “a diversidade que a world wide web originalmente imaginara” deu lugar à “centralização da informação” dentre umas poucas redes sociais selecionadas – e o resultado final é “tornar-nos menos fortes em relação ao governo e às grandes empresas”.
É claro que o Facebook não decide o que você deve ler – pelo menos não no sentido tradicional de tomar decisões – nem impõe aquilo que é produzido pelas organizações jornalísticas. Mas quando uma plataforma se torna a fonte predominante para acessar informações, muitas vezes as organizações jornalísticas preparam seu trabalho de acordo as exigências do novo veículo. (A prova mais visível da influência do Facebook no jornalismo é o pânico que acompanha qualquer mudança no algoritmo que alimenta as notícias e que ameace reduzir o número de visitas à página enviado aos publishers.)
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Katharine Viner é editora-chefe do jornal
inglês The Guardian, no Observatório da Imprensa.
Katharine Viner
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