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Terça-feira, 05 de novembro de 2024
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29/10/2024 - 10h53

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29/10/2024 - 10h53

Substância Humana

 

Demi Moore no papel da protagonista Elisabeth Sparkle.

 Demi Moore no papel da protagonista Elisabeth Sparkle.

No último domingo fui ao cinema assistir ao filme “Substância”, com Demi Moore no papel da protagonista Elisabeth Sparkle. Substância é uma receita química milagrosa, adquirida em inexplicável sistema, que promete transformar o corpo radicalmente e devolver a beleza perdida, segundo padrões de juventude. 

É uma ficção algo hilária e absurda, que aceitamos somente por conta da autonomia do estético e do contrato que assinamos ao encarar qualquer narrativa ficcional. De imediato, lembrei de “O retrato de Dorian Grey”, do substancioso Oscar Wilde. Claro, sem a mesma proficiência e engenhosidade do irlandês ao tratar do velho mito de fausto. 

O filme é radical em sua alerta à insana busca da eterna juventude, da não aceitação do envelhecimento biológico, uma angústia humana que não é novidade. Podemos ampliar a ideia, em chave mais racional, e pensar que a procura da perfeição é um dado inerente em quaisquer de nossos campos de existência, seja corporal, moral, espiritual, social, político... O fracasso deste propósito também se revela infinitas vezes. Embora a derrocada seja um componente da vida, não há milagre, seguir tentando melhorar haverá de ser um lume. Chegamos até aqui, os avanços científicos e tecnológicos têm nos beneficiado, não sou do time dos apocalípticos, os projetos de ajustes e os de transformações têm que seguir suas necessárias rotas. O desafio humano ainda é vencer as iniquidades, as assimetrias sociais, culturais, étnicas.

Tecnicamente, o filme segue clichês deste segmento, o horror em hipercloses, o humor macabro, os sustos provocados, o sangue derramado, muito derramado, em violência excessiva, elevada à gratuidade (a diretora deve adorar Tarantino), a tensão volumosa da trilha sonora etc. Porém, com alguns furos, erros de continuidade, sequências inverossímeis, mesmo em ambiente de absurdos narrativos, cenas desnecessariamente alongadas. O filme já ganhou prêmio de roteiro em Cannes 2024 (sic), deverá levar premiações em maquiagens e efeitos especiais. Dá pra assistir, só porque adoro cinema.

*****
Feliciano Bezerra é professor doutor da UESPI - nas redes sociais. 


 

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