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Redação

contato@acessepiaui.com.br

23/04/2020 - 08h28

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23/04/2020 - 08h28

Sem isolamento, Piauí chegaria a 100 mil casos de Covid-19 em junho, diz pesquisador da UFPI

A subnotificação é alta e testes precisam ser ampliados em todos os municípios.

 

 

As medidas de isolamento social adotadas pelo Governo do Estado desde a segunda quinzena de março evitaram cerca de 1.800 infectados pela Covid-19 e pelo menos 35 mortes no Piauí. A conclusão é do matemático e professor Jefferson Cruz, integrante do Grupo de Trabalho de Saúde do Comitê Gestor de Crise (CGC) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), criado em março por conta da pandemia. Os números são bem maiores do que o existente hoje: 217 casos e 15 óbitos registrados desde 19 de março.

O pesquisador analisou o nível de contaminação do novo coronavírus no Estado e fez projeções de como se dará o avanço de novas infecções nos próximos meses. O CGC é formado por uma equipe de multiprofissionais da UFPI e fez a estimativa baseada nas regras fuzzy.

Jefferson Cruz reforça que foi acertada a decisão das autoridades públicas da rede estadual e municipais de determinarem o fechamento de várias atividades econômicas antes dos primeiros casos de Covid-19, pois empurrou o pico da doença no Estado, previsto para maio, para o mês de agosto.
Segundo o matemático, sem as medidas de isolamento, nós teríamos no Piauí atualmente cerca de 2.000 casos confirmados, com cerca de 50 óbitos, e atingiríamos o pico da doença já entre maio e junho, com 100.000 a 200.000 casos e 600 a 700 óbitos. Em Teresina, seriam cerca de 30.000 casos confirmados, com algo em torno de 200 mortes. “Fizemos essa estimativa baseados no protocolo da Organização Mundial de Saúde, que estima a quantidade de pessoas que podem ser infectadas por um indivíduo contaminado”, explica Jefferson.

Se o Piauí chegar esse total de infectados, o sistema de saúde entrará em colapso, pois não haverá como atender todos ao mesmo tempo.
Caso as medidas de isolamento sejam mantidas, o pico da doença deve acontecer em agosto, dando tempo para que o sistema de saúde estadual se prepare. “É algo que já está sendo feito, com a construção de hospitais de campanha para ampliação dos leitos que possam atender aos pacientes”, diz Jefferson Cruz. Ele está mantendo contato com a Secretaria de Saúde do Piauí para falar de seus estudos.

De acordo com as projeções, mantido o isolamento social da forma em que está, o Piauí deve registrar 20.000 casos em junho, um total 80% menor do que os 100 mil previstos sem o isolamento. Logo, o número de óbitos também será bem inferior. Em Teresina, teria entre 3.000 e 4.000 infectados confirmados.

Jefferson Cruz frisa que um isolamento apenas parcial traria números intermediários: nem os 20 mil com o isolamento nem os 100 mil sem. “Nesse caso, teríamos uma janela entre dois extremos e precisaríamos saber como seria o comportamento da população com relação aos cuidados, como o distanciamento entre as pessoas, o uso de máscaras e de álcool gel, por exemplo”, comenta.
 
Subnotificação é alta e testes precisam ser ampliados

Apesar das autoridades de Saúde do estado só poderem confirmar a contaminação com o resultado do teste da Covid-19, estima-se que o número de infectados seja bem maior. Uma das evidências que apontam para a subnotificação é o índice de letalidade no Piauí, que está entre 6 e 7%, três vezes maior do que o índice médio, que é de 2%.

O pesquisador Bruno Alcoforado, doutor em Microbiologia e integrante do GT Saúde do CGC da UFPI, informa vários fatores que contribuem para a subnotificação. Entre eles, por exemplo, o momento exato do exame feito no paciente, que precisa ser respeitado. “A PCR, que é o teste molecular, aponta se o paciente tem o vírus naquele momento em que é feito o exame. Neste tipo de exame, as amostras devem ser coletadas principalmente até o 7º dia de sintomas do paciente. Após esse período, aumentam as chances de o resultado dar o que chamamos de falso negativo”, afirma Bruno Alcoforado.

O teste rápido imunológico, por sua vez, revela se o paciente já desenvolveu anticorpos. Este exame deve ser feito a partir do 8º dia da infecção. “Dependendo do kit utilizado, caso seja feito no início da doença, pode dar negativo, pois ainda não há anticorpos no organismo”, explica o pesquisador.

Bruno enfatiza que é preciso treinar os profissionais de saúde para lidar também com a forma de coleta e transporte das amostras, além de orientação sobre quando pedir o teste rápido ou PCR. Segundo ele foi informado pelas autoridades, as recomendações já estão sendo realizadas pela Secretaria de Saúde. O biomédico lembra ainda que, quanto mais testes forem feitos junto à população, mais rápido as autoridades de saúde saberão o índice de contaminação das pessoas e poderão se planejar melhor, inclusive com a decretação do retorno de algumas atividades econômicas que se encontram paradas.

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