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Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Colunas /

Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

09/02/2023 - 15h16

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

09/02/2023 - 15h16

AS VEIAS ABERTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

 

 

JANAÍNA morreu porque existe um machismo nem tão velado assim em nosso meio e que extrapola os muros da UFPI e chega aos lares onde milhares de mulheres são mortas todos os dias em nosso Brasil violento e onde a vida de uma mulher, sobretudo, mulher jovem e negra da periferia, vale muito pouco.

  
JANAÍNA morreu porque este país foi forjado por meio da cultura do estupro. JANAINA morreu porque esta sociedade hipócrita passa pano para as ditas “pequenas” condutas machistas que na verdade se somam a milhares de condutas machistas e se tornam uma montanha de violências que atravessam machismo, racismo, misoginia. LGBTQIfobia  e que fazem parte de um sistema capitalista, no momento de um neoliberalismo totalitário, como nos disse recentemente Marilena Chauí.

            
O FEMINICÍDIO de JANAÍNA e sim, foi feminicídio porque ela morreu por ser mulher, emerge na Universidade Federal do Piauí como a explosão de um vulcão do machismo que impregna nossos corredores e se alastra entre administradores, docentes e discentes.

            
TODA VEZ que um professor corre atrás de uma aluna nos corredores da UFPI em pleno sol da tarde, praticando assédio moral, dá péssimo exemplo e sua violência que não é só simbólica pode ser o estopim para a violência física que outro poderá praticar.

            
TODA VEZ que um professor invade um laboratório e ataca uma aluna com uma bengala e depois ataca uma professora, a violência simbólica extrapola e pode sim se tornar violência física.

            
TODA VEZ que um professor assedia sexualmente uma aluna com palavras ou pequenas toques, em plena sala de aula ou nos corredores da universidade, além de agredir, coagir e colocar medo na discente,  dá péssimo exemplo aos alunos, como se todos os machos pudessem praticar tais atos.

            
Pois bem, na UFPI tivemos e temos inúmeros exemplos e processos administrativos que relatam o que acabei de descrever e pasmem nenhum processo nunca deu em NADA.

            
Não são apenas professores que se protegem reforçando o ciclo do machismo e da violência, mas também professoras protegem seus amigos machistas e normalmente o processo não anda, algumas vezes porque sequer uma Comissão de apuração dos fatos consegue ser formada.

            
A cultura do silenciamento extrapola o desejo de memória e de justiça. Não temos casos exemplares na UFPI, ninguém nunca foi punido por agredir uma mulher em nossa Universidade, seja ela discente, docente, funcionária ou que participa da comunidade por qualquer meio. O que impera em nosso meio é o medo e o silenciamento.

            
Por outro lado, o evento trágico trouxe à tona toda a hipocrisia de um povo provinciano que culpa o movimento estudantil pelo ocorrido. Então repito JANAINA não morreu porque estava em uma festa na UFPI morreu porque um macho assim decidiu.

            
Caríssimos HIPÓCRITAS que vivem de plantão em suas Igrejas, atentai: _ NENHUMA MULHER É CULPADA PELO CRIME QUE SOFRE. A CULPA É DE QUEM PRATICA O CRIME E NÃO DA VÍTIMA.

            
Em meio à dor, ao desespero e a angústia pelo qual passam discentes e docentes da UFPI surgem fake News sobre a vítima, muitas narrativas com desinformação que correm soltas pelas redes sociais culpabilizando nossa aluna pelo crime brutal que sofreu, como também culpando o movimento estudantil, ameaçando de morte alunas, alunos e professoras que se levantaram contra tais posições e mentiras. A estes também devemos levar a força da lei.

            
Que nossa Universidade possa se tornar um lugar seguro não só para a comunidade universitária, mas toda e qualquer pessoa que adentre em nosso campus, seja para ser atendido em um hospital, clínica, projetos de extensão, eventos ou para ir a uma festa onde a integração e as sociabilidades devem se realizar plenamente, sem qualquer tipo de violência.

            
Precisamos ensinar e aprender a respeitar o outro e a todas as mulheres, sejam cis, bi, lésbicas ou trans. RESPEITO SALVA VIDAS, MACHISMO MATA.

            
A UFPI precisa abrir suas veias e extirpar o machismo e a violência que vive em nossos espaços.

            
Por fim,  concluo ainda com o coração doendo muito e com as lágrimas que teimam em não secar, mas concluo plagiando Chimamanda Ngozi Adichie, aliás frase com qual já iniciei alguns artigos neste mesmo espaço opinativo em outros momentos, qual seja: SEJAMOS TODES FEMINISTAS!

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