Encontrei aqui em casa um potó. Para nós piauienses isso é algo apavorante, uma ameaça constrita e silenciosa. O efeito de sua picada, ou mijada (dúvida entomológica que sempre me ocorre), é avassaladora, deixa lesões brutais na pele, doloridas e inconvenientes.
Por um instante senti uma dúvida ecológica se deveria eliminá-lo, mas logo minha razão darwiniana autorizou-me a assassina-lo com minha industrializada havaiana. E como já afirmaram, filosoficamente, que determinados assassinatos têm motivações estéticas, por exemplo, se você matar uma linda borboleta você é um monstro insensível, porém, se matar um barata… e como o potó não tem lá muita afinidade com o belo, dirimi minha culpa pelo morticínio.
Trata-se de um inseto estranho, demasiado estranho, e como já disse, causa pavor. Contudo, fiquei olhando pra ele, e fui tomado por uma repentina percepção da fragilidade humana, e pensando no poder do potó, me lembrei do poeta francês Paul Valerie e de seu insidioso aforismo: “o mais profundo é a pele”.
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Feliciano Bezerra, professor doutor da UESPI - nas redes sociais.
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