No milênio passado, num arremedo de crônica, afirmei: Teresina convive muito mal com o passado. Consciente ou inconscientemente, os teresinenses procuram apagar vestígios de um passado que lhes parece incômodo. Construída por escravos (1852), a cidade, inicialmente, abrigou funcionários públicos, pequenos comerciantes, gente simples e trabalhadora. Não há registro de fausto ou riqueza na história da capital do Piauí.
Aos trancos e barrancos, a cidade extrapolou o traçado original desenhado pelo mestre Isidoro França e, no afã de modernizar-se, foi perdendo a singela graça de cidade provinciana, incorporando práticas , costumes e vícios de outros centros urbanos. Desfigurou-se.
A partir da década de 1980, o chamado centro histórico da cidade foi sofrendo intervenções desastrosas, para dizer o mínimo. Boa parte das construções antigos desapareceu para dar lugar a prédios modernosos ou simples estacionamentos. A prática mais comum é deixar que as casas antigas, sem preservação, simplesmente desabem. O tal “Código de Postura” não tem aplicação prática. Cada um faz o que bem entende.
Mas toda essa arenga é simplesmente para denunciar o que já é do conhecimento de todos: a bela casa do Barão de Gurgueia pode ruir a qualquer momento. Construída em 1880 por João do Rego Monteiro (Barão de Gurgueia), o casarão foi comprado pela arquidiocese de Teresina para a instalação do seminário da cidade. Posteriormente, abrigou repartições públicas e até um colégio. Em 1986, foi tombado e, em 1994, cedido à Prefeitura de Teresina em regime de comodato. Nele, instalou-se a Casa da Cultura, com dois auditórios, galeria de arte, sala de dança, biblioteca e museu, etc.
Por razões que desconheço, a Prefeitura de Teresina e a Diocese não chegaram a um acordo sobre a continuidade do comodato. Resultado: todo o acervo teve de ser retirado às presas ante a iminência de tudo ser destruído. Enquanto as autoridades competentes não se entendem, o tempo, com seu poder corrosivo, vai reduzindo um dos mais belos casarões da cidade à condição de ruínas. Triste lição descaso.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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