Como todos sabem, em 1889 foi proclamada a república brasileira. A história oficial era a de que, atento ao espírito do tempo estabelecido pela Revolução Francesa, o povo brasileiro havia decidido mudar o regime de governo do Brasil de monarquia para república, nos moldes da recentemente estabelecida república dos estados unidos da américa (USA). E assim se fez por aqui: proclamada a república, expulsou-se do Brasil dom Pedro II e sua família. A história que se seguiu, todos conhecem.
Em geral, as mudanças dos regimes se dão como resultado de revoluções populares, assim chamadas pela ativa participação do povo no movimento. A presença do povo é o elemento que dá legitimidade ao novo regime, sem o qual o governo nascente sofrerá de um vício de origem, sendo este o caso da república brasileira. Estabelecida por um golpe militar, o povo brasileiro mal soube dos acontecimentos, resultando disto algumas revoltas populares exatamente contra a república e a favor da monarquia, a exemplo da revolta de canudos, no sertão da Bahia, todas sufocadas pela força das armas do agora ‘exército republicano’. Foi uma trágica ironia que o exército do ‘regime do povo’ tenha se levantado justamente contra a vontade do povo! Câmara Cascudo proclamou, triunfante, que a república manteve a coesão do Brasil continental porque havia elementos econômicos e culturais comuns a todos as províncias, esquecendo-se, convenientemente, da brutalidade das armas republicanas e da barreira psicológica de se levantarem as multidões em favor de uma monarquia, regime que as exclui da escolha dos seus governantes, enquanto seja a república um sistema cuja principal bandeira é justamente a participação popular na definição do governo. Essa confusão no espírito do povo favoreceu os golpistas de 1889. O maior problema da república brasileira foi precisamente a ausência de povo no movimento que a instituiu, sendo este elemento faltante o que a deslegitima desde sua origem. Hoje, porém, não há falar-se em mudança de regime, porque parece não haver, neste momento, nada melhor do que uma república democrática.
Então, nada nos resta a fazer senão dar VIVAS À REPÚBLICA!!!
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José Osmar, Advogado e Promotor de Justiça.
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