A manifestação realizada no entorno do Maracanã, neste domingo, provocou a interdição de vias importantes, como as avenidas Radial Oeste e Bartolomeu de Gusmão, no sentido Méier; o fechamento da estação São Cristóvão do metrô e, na tentativa de dispersar um grupo que se refugiou na Quinta da Boa Vista, policiais militares dispararam bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta em direção ao parque, atingindo famílias que foram ao local em busca de diversão. Por volta das 17h, a Radial Oeste e a Praça da Bandeira, no sentido Méier, estavam interditadas por causa da manifestação, que é contra o custo de vida nas cidades que sediarão a Copa e em favor de mais recursos para saúde e educação. As vias estão sendo abertas e fechadas conforme a necessidade da polícia para conter o protesto. Os motoristas que seguem pela Avenida Francisco Bicalho e pela Avenida Presidente Vargas são orientados a seguir pela Avenida Paulo de Frontin e pelo Elevado Paulo de Frontin. Os manifestantes que estavam na Quinta foram escoltados pela PM e seguiam até a estação da Leopoldina, onde pretendiam encerrar o ato. Pelo menos cinco pessoas teriam sido detidas.
O protesto teve início por volta das 15h30m, pouco antes do início da partida entre México e Itália, pela Copa das Confederações da Fifa. O primeiro confronto envolveu aproximadamente 600 pessoas e policiais militares, que usaram spray de pimenta para dispersar a multidão. Este grupo foi contido na passarela que liga o estádio à estação do metrô. O clima ficou tenso e os manifestantes seguiram para a Quinta da Boa Vista. Um outro protesto também estava sendo realizado próximo à Rua São Francisco Xavier.
Um grupo de 25 artistas do Projeto Regar, um projeto de arte cristã, também fez um ato no local. Eles faziam uma caminhada lenta, com roupas bem simples e o corpo todo pintado com uma tinta bege. De vez em quando, em silêncio, abriam cartazes com uma frase bíblica em português e inglês.
Frequentadores da Quinta da Boa Vista contaram que viveram momentos de pânico:
— Estava com as minhas duas filhas, como sempre faço em alguns domingos do ano. A polícia chegou jogando bomba de efeito moral. Minhas filhas ficaram desesperadas, eu não sabia o que fazer. Moro em Madureira e não sei como vou pegar o trem para chegar em casa — disse Alessandra Santana, que estava acompanhada das filhas de 13 e 7 anos, ambas muito nervosas. A mais nova exibia no rosto o resíduo de pó branco do spray usado pela polícia.
O garçom Frederico Júnior também disse ter se assustado com o confronto entre manifestantes e a polícia. Ele passeava com cinco crianças e a mulher grávida pelo parque quando o conflito chegou ao local.
— Estou agora com as crianças e a minha mulher grávida nervosas e passando mal. As pessoas podem protestar, fazer o que quiserem, mas eles e a polícia precisam lembrar que aqui é um parque com crianças — disse ele bastante aflito.
Já o metalúrgico José Carlos Gomes, de 60 anos, foi comemorar o aniversário do pai em sua casa no Maracanã. Morador de Tomás Coelho, em Belford Roxo, ele saiu mais cedo da festa com a filha para evitar o fluxo maior após o jogo na volta para casa. No entanto, nada adiantou. Ele deixou a filha na Estação da Mangueira, onde ela pegaria o trem para casa, e seguiu para a Estação de São Cristóvão, que ficou fechada das 4h30m às 5h50m. Ele contou que chegou ao local às 5h e só conseguiu embarcar 50 minutos depois.
Os amigos Maycon Diniz e Graciane Alves, de Niterói, que levaram a amiga Adriele Cristina, de Goiás, para conhecer o Maracanã pela primeira vez neste domingo, ficaram assustados com o confronto entre manifestantes e policiais.
— Estou muito assustada e com medo de que aconteça algo com a gente e, principalmente, com o Maycon, que é cadeirante. As pessoas vêm ao estádio para conhecer e acabam encontrando essa situação. Não somos contra a manifestação, desde que seja pacífica e não atrapalhe quem quer se divertir — afirma Graciane.
Durante o confronto, o fotojornalista Luiz Roberto Lima, que trabalha para as agências Globo e Estado precisou do auxilio de um bombeiro após passar mal com os gases de efeito moral lançados pela policia. Após o tumulto, o fotografo sentia dificuldade de respirar e enxergar.
— Não estou nem conseguindo abrir meus olhos — reclamou Lima, que foi socorrido por jornalistas e por um bombeiro.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.