Passei o último final de semana (22/23) em Oeiras (PI) participando, como espectador, do FLOR (Feira Literária de Oeiras) que chega à sua 11ª edição plena de vitalidade. Para traduzir o que senti, recorro a G. Rosa: “Um descanso na loucura”.
Ao contrário do que sugere o nome, a FLOR não é apenas um espaço onde se comercializam livros. Trata-se de um projeto pedagógico que se estende pelo ano inteiro. A cada ano, a Secretaria de Educação do município escolhe um autor ou autora que será estudado em todas a séries. Assim, a molecada lê, analisa, discute, interpreta e, por fim, presta contas publicamente do que aprendeu aquele autor. Os resultados são surpreendes e animadores, para dizer o mínimo.
Oeiras acreditou na possibilidade de conciliar educação e cultura num mesmo projeto. Assim, não causa espécie ver meninos e meninas de dez anos ganhando medalhas em certames nacionais e, depois, tocando flauta, bandolim, sax e o que mais pintar. Os números do IDEB atestam o acerto da aposta. A educação de Oeiras é citada como exemplo no Brasil inteiro com repercussões no exterior.
Naturalmente, você deve estar pensando: os oeirenses devem estar muito orgulhosos com tudo isso. Errou em cheio. Há um grupo de “intelectuais” que, abertamente, negam a importância da FLOR e fazem campanha contra. Um deles me disse: “A FLOR não nos representa. Trata-se de um evento pedagógico que só interessa a alunos, professores e pais de alunos”. É pouco? Um outro, ao me encontrar na Praça das Vitórias, não se conteve: “Você está de passagem para onde?”. Parecia-lhe improvável que eu estivesse ali para participar daquela magnifica festa. O certo é que, com ou sem a participações dos intelectuais, a FLOR existe e arrasta centenas de pessoas que vibram e abraçam aquela manifestação envolvente e empolgante. Por oportuno: não há bandas de forró ou axé na programação.
Na saída, um repórter me perguntou: “Na sua opinião, o que acontecerá com a FLOR, agora que o grupo do Zé Raimundo saiu do poder?”. Respondi sem pestanejar: se o próximo prefeito for inteligente e tiver sensibilidade, ampliará e melhorará a FLOR. O que não pode é deixá-la fenecer. Assim seja.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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