Sempre que um país é escolhido para sediar um grande evento esportivo, como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, um dos benefícios apontados pela organização é o impulso na economia local. Mas, se depender do depoimento de comerciantes da região do estádio do Maracanã, esse aspecto ficou longe de se concretizar com a realização da Copa das Confederações no Rio de Janeiro.
Donos de bares e restaurantes no entorno do Maracanã são praticamente unânimes ao relatar que a competição da Fifa não gerou um aumento do movimento em seus estabelecimentos. Pelo contrário. Um deles afirma que "o público normal do Maracanã é mil vezes melhor [que o da Copa das Confederações]". Além disso, eles lamentam o longo período que o estádio ficou fechado, em reforma.
"Esses de reforma foram péssimos para os bares e restaurantes da região. Nós sobrevivemos com o movimento do dia a dia, mas o público dos dias de jogos faz uma grande diferença, e essas pessoas nós perdemos durante todo esse tempo" diz Eduardo dos Santos, sócio do Botequim Rio 40º.
A opinião é referendada por João Sales Pontes dono do Bar e Lanchonete dos esportes, localizado em frente a um dos portões de entrada do estádio. "Muita gente faliu nesses três, quatro anos. A gente não via mais a luz no fim do túnel, agora estamos vendo uma luz pequenininha", afirma.
A venda de bebidas alcóolicas é outro ponto importante para os comerciantes, e ambos lamentam não poder aproveitar esse potencial ao máximo, por motivos diferentes. No caso do Rio 40º, fora do perímetro de restrição a esses produtos, o problema é o perfil do público no torneio da Fifa, que encara os jogos como um entretenimento com hora para começar e terminar, e não um programa para o dia inteiro.
"O público normal do Maracanã, num Campeonato Carioca, Campeonato Brasileiro, é mil vezes melhor. Desde cedo chegam as duas torcidas, ficam aqui até a hora do jogo, depois quando acaba a torcida do time que ganhou sempre volta. Agora isso não está acontecendo", explica Dos Santos.
Já no Bar dos Esportes o prejuízo é ainda maior. Uma lei municipal impede que o local venda bebidas alcóolicas de duas horas antes a duas horas depois de qualquer evento no Maracanã. Uma lei válida há anos, mas que é questionada por conta dos privilégios conseguidos pela Fifa com a realização de seus torneios no país.
"A gente até entende as restrições da prefeitura para vender cerveja e outras bebidas, mas eu queria saber porque a Fifa pode vender cerveja lá dentro e nós não podemos aqui fora. Queria que o senhor Eduardo Paes [prefeito do Rio de Janeiro] explicasse isso", reclama Sales em referência à liberação de venda de cerveja especificamente para a entidade máxima do futebol.
Melhoria nos padrões de higiene
Manuel José de Sousa, dono do Planeta do Chopp, outro restaurante da região, destoa levemente dos colegas ao elogiar outro aspecto da realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo no Brasil. Para ele, a vinda destes torneios elevou a qualidade dos estabelecimentos.
"Foi maravilhoso para melhorar a questão de higiene nos restaurantes, por exemplo, porque vamos passar a atender um público mais exigente. Só espero que continue assim depois, que isso não tenha sido apenas para a Copa e a Copa das Confederações", afirma.
Ainda assim, seu Manuelzinho, como é conhecido, concorda com os outros em relação à queda no consumo. "Temos até mais movimento com o público normal. Em dia de jogo isso aqui fica lotado. Na Copa das Confederações parece que só tem turista, que vem para o jogo e depois já vai embora", conclui.
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