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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

29/06/2017 - 14h03

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

29/06/2017 - 14h03

De volta à bárbarie

O homem, a pior das máquinas de matar, segue invicto em seu propósito de destruição da própria humanidade, tanto no que concerne a exterminação física de seus semelhantes, tomados como alteridades, como no que se refere à parte sensíveldo animal que somos e que nos torna diferentes.  Do mesmo modo,a inteligência que deveria servir para salvar vidas e preservar o planeta é usada para como mola propulsora da violência.

 

Já falei inúmeras vezes neste espaço opinativo sobre a violência contra as mulheres e as crianças no Brasil, onde milhares são estupradas por dia. Onde o espancamento é tido como briga de marido e mulher. Onde crianças são violentadas fisicamente e psicologicamente. E, portanto, um país que além de ocupar os primeiros lugares no ranking mundial nesse tipo de violência é também um país de homofóbicos declarados.

 

Todos os dias a violência impera e os que possuem algum poder mesmo que efêmero, se colocam em um patamar superior aos demais mortais e abusam de tal poder, que pode ser político, econômico, simbólico ou físico, normalmente utilizado para manter ou impor suas ideologias, seus pontos de vista, sua superioridade, seu status quo, ou, simplesmente, seu ego.

 

Nesse contexto em que o jogo entre poder e violência se instaura em diversos níveis e em diversos campos da vida em sociedade, vale destacar a exploração da mulher que se anula e se acostuma com as violências que sofre, ou quando, reage e tenta se impor como sujeito no mundo, é perseguida, atacada, violentada, quando não assassinada.

Quando pensamos que a humanidade caminhapara o reconhecimento dos direitos e dos deveres de forma equânime entre os gêneros, a partir de uma política educacional de esclarecimento que visa formar para a igualdade; a partir de políticas de repressão e punição para ações de violência; a partir da visibilidade das lutas e da desnaturalização dos conceitos; nos deparamos cada vez mais, com atos individuais e coletivos de violência contra a mulher e contra os homossexuais, transexuais, crianças e idosos.

O individuo do sexo masculino, educado como superior por homens e mulheres machistas se acham no direito de atuar como juízes das condutas femininas, julgando-as e punindo-as quando contrariados, punindo com violência física e psicológica,inclusive com a morte.

 

 

Voltamos novamente à necessidade premente da desnaturalização dos conceitos e das condutas tanto no meio dos homens e de seu machismo, assassino, como das mulheres que vivem para construir o machismo em si e em seus filhos.

 

 

Novamente vemos e ouvimos pessoas que se dizem esclarecidas, a adotarem condutas e posturas extremamente prejudiciais a si mesmas. Muitas vezes, lhes sobram conhecimento sobre a sua área de atuação, mas lhe faltam consciência de si e do outro. Falta conhecimento dos complexos aparatos necessários para a vida em sociedade. Falta respeito pelo semelhante.

 

 

Não venho aqui cobrar de todos uma visão holística sobre a sociedade e seus relacionamentos. Não venho aqui exigir que os que passaram longe dos bancos das ciências humanas e sociais, portanto, não tiveram acesso ao conhecimento necessário para entender a humanidade e sua complexidade( ou seja, como dizem no senso comum e vulgar: não foram doutrinados); entendam as construções históricas e simbólicas por trás do que somos e como atuamos em sociedade. Não venho exigir que compreendam os aparelhos do poder, as manipulações por trás das ações midiáticas, ou  a naturalização dos conceitos repassados pelas grandes instituições e religiões que tratam, por exemplo, de colocar o homem no lugar do sagrado e a mulher sempre no lugar do profano. Mas venho pedir que a partir sensível do humano que reconhece seu semelhante dentro de cada um, prevaleça.

 

 

A mulher, desde os primórdios foi, por sua força física inferior ao homem, colocada em lugar de subserviência. A ela foram dadas as atividades dos espaços privados ( a casa e a educação dos filhos) e ao homem as atividades públicas, o direito de pensar, o direito à educação, o direito de se elevar a condições de poder nas esferas do Estado, mas também das academias e da religião.

 

 

Portanto, nesse contexto de divisão não somente de tarefas, mas de imposição de lugares de poder, foi que o homem impôs à mulher simbolicamente e culturalmente um status de inferioridade, através de discursos perpetuados e naturalizados por séculos e séculos. Quem poderia ter dito que a mulher saiu da costela de Adão e não que Adão saiu do ventre de Eva? (Como sempre ocorreu e sempre ocorrerá). Apenas alguém com o poder de dizer e, portanto, decriar um discurso que desde a gênese coloca o homem em lugar superior à mulher, colocando-a no lugar de submissa aos ditames masculinos. Quem poderia ter dito que Eva e não Adão mordeu a maçã? Novamente temos que entender que foi um homem com o poder de escrever isso em livros sagrados que seriam repassados para as gerações, naturalizando a mulher como a pecadora e a fonte do mal. Dificilmente essa assertiva teria saído da boca de Deus, pelo menos de um Deus misericordioso e justo.

 

 

Então precisamos parar de reproduzir para nossos filhos o machismo que impregna a sociedade. Cada mulher que ousa agir como agem os homens no ambiente público, ou, no lugar do privado; ou, sofre misoginia constante no ambiente de trabalho, por exemplo, ou, sofre violência física no espaço íntimo.

 

 

Tenho três filhas e confesso o sangue me sobe à cabeça quando ouço de amigas que seus filhos são assediados (seria bom compreender as diferenças básicas entre o assedio feminino e o masculino e suas consequências), que as mulheres são vulgares, que as mulheres não possuem noção e usam roupas indevidas e que podem sim provocar os homens e, portanto, sofrerviolência, culpabilizando as mulheres e não os homens pelos crimes que estes cometem.

 

ENTENDAM:O ASSASSINATO DE MULHERES, NÃO TEM COMO CAUSA A POSTURA DA MULHER, MAS A BANALIDADE DO MAL QUE VIVE NOS HOMENS.

 

ENTENDAM: O ESTUPRO DE MULHERES NÃO TEM COMO CAUSA A ROUPA DAS MULHERES, MAS A AÇÃO DO ESTUPRADOR, QUE SE ACHA NO DIREITO DE DISPOR DOS CORPOS COMO BEM DESEJAM.

 

 

Então caríssimas mulheres e caríssimos homens machistas o sangue de cada brasileira que sofre algum tipo de violência também está em nossas mãos. Somos nós que ajudamos a naturalizar a superioridade masculina. Somos nós que educamos as filhas para serem submissas aos homens e a nos portarmos como se eles detivessem a nossa posse.

 

 

Por fim, o que fica disso tudo é o fato de estarmos em meio a uma guerra civil. A barbárie está instalada novamente. Não respeitamos ninguém para além do nosso convívio. E, principalmente, não respeitamos a vida. No meio disso tudo a mulher (em todas as suas condições) e as crianças são vítimas constantes e mais frágeis.

 

 

Oremos pela Paz entre nós e em nossa cidade!

Ana Regina Rêgo

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