O jornalismo enquanto instituição social contemporânea, forjada no seio de uma sociedade moderna entre os séculos XIX e XX, carrega características que a filiam ao Iluminismo e, portanto, à razão, como também, ao processo tecnológico.
Nesse panorama, vale pensar que dentre as principais configurações imagéticas do moderno jornalismo é possível perceber sua íntima ligação com a informação que dentro do escopo de formação da identidade jornalística, deve ser objetiva e imparcial e, principalmente, deve ser de interesse público.
Entretanto, em um momento anterior, o jornalismo tinha outras características. Em primeiro lugar era opinativo, como também parcial, visto que a grande maioria dos jornais eram produzidos como órgãos dos partidos políticos e criados para divulgar suas ideias e combater os adversários. A informação, ou a notícia, não era construída em uma temporalidade veloz e a novidade se estruturava somente ao chegar ao leitor e não no momento de sua construção. Assim, uma notícia poderia demorar meses até encontrar um receptor e ainda assim era novidade.
O jornalismo piauiense nasceu assim. Político e partidário, contudo, logo tornou-se literário, mas demorou muito para se tornar completamente noticioso/informativo. Isso no entanto, não constitui problema quando se trata de pesquisar o passado em suas páginas, onde a memória se localiza e pode acessada de forma dialética, proporcionando um encontro entre o que já foi e o que ainda é.
O jornalismo seja ele político partidário, opinativo ou informativo, fala não somente de si, de suas práticas em cada tempo e em cada lugar, mas fala, sobretudo, de cada sociedade em que se constituiu. Em suas narrativas podemos mergulhar nos complexos contextos políticos do século XIX, por exemplo, ou compreender como os o piauienses acompanhavam os acontecimentos das grandes guerras do século.
A dominação cultural masculina também pode ser visualizada em suas páginas, como também, a invisibilidade imposta às mulheres e a luta destas para sair do espaço privado e se lançar como sujeitos transformadores de uma ordem pública.
Nesse contexto foi que nasceu o Projeto Memória do Jornalismo Piauiense com o intuito de democratizar o acesso ao acervo de jornais publicados em nosso Estado. Criado em 2011 dentro do Departamento de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação da UFPI, o Projeto Memória tem como parceiros o Arquivo Público do Piauí: Casa Anísio Brito, o Jornal O Dia e vários grupos de pesquisa da própria instituição sede e conta com o apoio e patrocínio da Universidade Federal do Piauí, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPQ.
Através do trabalho de bolsistas e voluntários, o Projeto Memória digitalizou de 2011 aos dias de hoje mais de 100 periódicos e milhares de exemplares. Todo esse acervo foi, na última terça, disponibilizado ao público através do site do projeto: http://memoriadojornalismopi.com.br/
Trata-se de um site de busca muito simples e direto, em que é possível localizar jornais e demais periódicos do Piauí desde o ano de 1835. Os pesquisadores de todas as áreas do conhecimento podem agora não apenas acessar os periódicos e ler, como também, ao se cadastrar, podem fazer download e trabalhar com os jornais em seus próprios computadores.
O acervo reunido e ainda não completamente disponibilizado vem de várias fontes. Em primeiro lugar de microfilmes comprados pela coordenadora do Projeto na Biblioteca Nacional, como também, microfilmes do Arquivo Público do Piauí e do Núcleo de Pesquisa da História- NUPEM.
Contudo, a parte mais preciosa do acervo é composta por periódicos não disponíveis na Biblioteca Nacional, nem tampouco disponíveis para pesquisa no Arquivo Público, por estarem em péssimo estado de conservação e lacrados e que, graças à parceria entre o Projeto Memória mantido pelo Núcleo de Pesquisa em Comunicação- NUJOC-UFPI e o Arquivo, foi possível digitalizar, preservando jornais já considerados perdidos.
Vale ressaltar no entanto, que a maior parte dos periódicos do Piauí ainda não foi digitalizada, visto tratar-se de um grande acervo, como também, das limitações do projeto que conta somente com bolsistas que trabalham sob a orientação da coordenadora e digitalizam, prioritariamente, seus os jornais que são seus objetos de pesquisa.
Por fim, destacamos a importância do Projeto Memória do Jornalismo Piauiense e convidamos a comunidade a visitar a página já mencionada acima, e, convidamos, principalmente, os pesquisadores de todas as áreas a testar o novo site.
Ana Regina Rêgo
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