Facebook
  RSS
  Whatsapp
Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Colunas /

Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

05/04/2018 - 11h34

Compartilhe

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

05/04/2018 - 11h34

Um Brasil sem memória e prestes a cometer os mesmos erros

Sem maturidade para exercer a liberdade e a responsabilidade no exercício dos governos democráticos, o Brasil volta mais uma vez a se aproximar, como no passado, de forma extremamente perigosa, dos militares. Não aprendemos no século XIX, não aprendemos nas décadas de 1920 e de 1930, não aprendemos em 1945, não aprendemos em 1961 e parece que pouco aprendemos com 1964 e 1968.  De um lado, uma multidão que desconhece a própria história, por outro, os que vivenciaram a ditadura civil-militar, mas não se deram conta do que se passava e, por fim, os hipócritas que conhecem, sabem dos perigos e assim mesmo, se dedicam a manipular uma massa, nem tão ingênua assim, que segue, como no passado, a marcha dos atomizados no ritmo da multidão sem rumo.

A maioria dos países que passou por regimes ditatoriais e totalitários realizou o julgamento dos ditadores e de seus seguidores, algozes da população. Isso é visível tanto em países da América Latina como da Europa, mas o Brasil segue seu caminho sem admitir seus erros, o que implica em silenciar a memória, em silenciar os absurdos cometidos, em silenciar os mortos e assassinados pelo DOI-CODI na ditadura civil-militar, em silenciar, anteriormente, os excessos do DIP no Estado Novo. Obviamente, são silenciamentos programados que objetivam não somente calar o passado que deseja irromper e mostrar-se nu e cru para a sociedade, mas objetiva, principalmente, proteger o discurso sobre uma pretensa positividade dos regimes ditatoriais no Brasil. 
As consequências das ações de silenciamento são visíveis na ignorância do povo que, por ser privado de um conhecimento imprescindível para seu crescimento, enquanto nação, age de forma individualizada, pensando somente em seu patrimônio pessoal, negligenciando a coletividade.  

Seguir a massa atomizada não significa agir coletivamente em prol do bem público. Sem o exercício do pensar e do desenvolver da consciência coletiva não passamos de massa de manobra.

Creio que pela décima vez ou mais, sugiro nesse espaço opinativo a leitura dos livros da Hannah Arendt, começando por Origens do Totalitarismo, passando pela Condição Humana e chegando até A vida do Espírito, todavia, um simples acesso aos anais da Comissão Nacional da Verdade pode ser útil para trazer uma luz para os que se negam a ver o passado recente deste país. 

Na primeira página do portal UOL- Universo online ( www.uol.com.br) de ontem (04), assim como, no Jornal Nacional ( Globo) da noite anterior ( 03) os destaques se deram tanto para o julgamento do ex-Presidente Lula ( na hora em que escrevo esta matéria, ainda não temos o resultado sobre sua prisão ou não); como para a fala do Comandante do Exército Brasileiro, General Villas Boas que claramente ameaça colocar o exército nas ruas do país, para além da já autorizada intervenção no Rio de Janeiro. 

Villas Boas diz não aceitar impunidade. Deveria então começar com uma revisão e implantação dos processos não instaurados ou não concluídos sobre os militares que cometeram crimes entre 1964 e 1985, e, que mesmo sendo assassinos, continuam  protegidos por nossa covarde Lei da Anistia, que garantiu direitos a perseguidos e perseguidores, a vítimas e a assassinos.

Os extremistas de direita como alguns deputados presidenciáveis fãs de torturadores, adeptos do armamento, machistas, homofóbicos, racistas, enfim não nomeáveis, foram os primeiros a apoiar o Comandante.
Felizmente para além da Globo que revela novamente o seu DNA favorável aos golpes, facilmente identificável nos discursos que emana de todos os seus canais; as forças democráticas se levantam ainda que lentamente e começam a reagir. 

O bom é que o Comandante do Exército, que não foi eleito para o cargo algum, assim como, nenhum juiz neste país ( essa é uma outra discussão bastante pertinente para o momento atual do nosso judiciário), pois bem o Comandante se julga porta voz “ de todos os cidadãos de bem”, mera coincidência ou cópia dos discursos do passado. Na verdade a parte de sua mensagem em que afirma estar atento às “ suas missões institucionais” é com certeza um plágio dos seus antecessores.

Todavia, o referido Comandante parece não conhecer a Constituição Brasileira, denominada Cidadã, e que está completando 30 anos, quando diz que “o Exército Brasileiro  julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia [...]”.  A que Constituição está se referindo o Comandante? A de 1988 foi pensada para  a Democracia.  E que Democracia é esta que um Comandante de uma Instituição cujo passado depõe contra a Democracia, pretende defender?  Novamente, os discursos de manipulação se lançam a um povo sem filtro e sem crítica. Isso foi feito com as mesmas palavras em 1964 e em 1968. 

A mensagem do Comandante Villas Boas se juntam ao anúncio de greve de fome do Procurador Deltan Dallagnol para pressionar o Supremo Tribunal Federal no julgamento do ex-Presidente Lula. 

Então o que efetivamente resta aos brasileiros de “bem”? Confiar no STF, única Corte midiática do mundo, onde as vaidades e os egos se situam acima da Lei? Confiar no Comandante do Exército que jura defender uma Constituição que seu anúncio é o primeiro a ferir? Confiar na mídia cuja essência se revela mais e mais manipulatória?

Enfim, não podemos julgar os que não compreendem o processo e os jogos do poder no teatro de sombras e seguem atomizados nas marchas das grandes multidões. Só nos resta continuar a luta pela democratização do conhecimento histórico. A luta por uma educação que inclua conhecimento político, sociológico e filosófico. 

CONHECER O PASSADO PARA NÃO REPETIR OS ERROS! Fica a dica!!!!



 

Comentários