Recentemente, o Papa Francisco tornou-se um dos maiores inimigos dos autointitulados cristãos em nosso país. E a legião dos que o odeiam, condenam e perseguem não se restringe aos fundamentalistas neopentecostais, mas também, encontram-se entre os católicos de várias vertentes. Em suma, o Papa que para a Igreja Católica é o representante vivo de Deus na terra, transformou-se para muitos fiéis, em comunista e usurpador. Seu grande pecado, na verdade vários pecados contra o Brasil, na visão dos que o perseguem: lutar pela Amazônia e seus povos e se declarar contra os desmandos do atual governo brasileiro. Defender a vida e não as armas. Receber Lula no Vaticano e juntos renovarem os votos pelos pobres. Vale lembrar que Lula já foi recebido por dois outros papas, anteriormente.
O Padre Júlio Lancelotti, sacerdote católico que trabalha na zona central da cidade de São Paulo, acolhendo jovens dependentes químicos e em situação de rua. Contexto cada vez mais comum, visto que São Paulo hoje possui uma população de rua de mais de 30 mil habitantes, completamente abandonados e ainda perseguidos pelo poder público. O Padre Júlio vem sofrendo ameaças de morte desde 2018 e, em janeiro de 2020, as ameaças vieram de policiais e foram acolhidas pelos comerciantes e outros simpatizantes da violência contra moradores de rua.
O Padre Júlio e o Papa Francisco são tão humanos, quanto Cristo o era em sua vida terrena e tanto quanto Cristo, vivem para defender os mais necessitados, isso de acordo com seus valores pessoais e coletivos, que nem sempre estão em acordo com os Cristãos que do alto de seus condomínios fechados ou de seus carros blindados, ou mesmo dos bancos da Igreja, não conseguem ver Cristo na mulher drogada, estuprada e assassinada. Não conseguem ver Cristo na criança abandonada que se transforma em delinquente para poder sobreviver. Não conseguem ver Cristo no negro perseguido apenas pela cor da pele, nesse país de hipócritas de plantão que afirmam não haver racismo no Brasil.
Tudo se trata de valores e não de verdades já nos dizia Descartes em suas Meditações há algumas centenas de anos. O Papa só é santo se não falar de política, mas para alguém que escolheu viver para os outros, falar de política e tentar esclarecer criticamente uma massa acrítica, significa lutar pela vida, pois se não falamos e não nos posicionamos ideologicamente, estamos condenando os oprimidos históricos a mais e mais opressão. Não falar de política e não falar de ideologia somente interessa aos dominantes que desejam ver o restante do povo calado e trabalhando sem direito a pensar, como uma massa que nem a cabeça levanta.
Mas os focos de resistência são muitos e aí vem a Estação Primeira de Mangueira entrando na avenida com o Samba A Verdade vos fará livre em alusão à fala de Cristo a Verdade vos libertará. Nada mais oportuno nesse momento de obscurantismo e conservadorismo extremo em nosso triste Brasil. O título que faz alusão tanto à necessidade de olharmos para o nosso país por narrativas que não cheguem até nós pelas mídias sociais do Presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. O título faz indicação direta a necessidade de desmascararmos as fábricas de fake News que elegeram e sustentam esse governo. Mas é a letra que é extremamente profunda e apresenta um Cristo que é a representação do sofrimento brasileiro contemporâneo, pois denuncia a violência sofrida pela MULHER, pelo NEGRO, pelo ÍNDIO e pela CRIANÇA abandonada.
A letra representa um Cristo em sua essência mais pura, ou seja, traz um Cristo não das famílias abastadas, não dos doutores da lei, não dos templos imensos, mas o Cristo que dividia o pão, que curava as dores, as feridas e as doenças e que foi perseguido por simplesmente pensar diferente de um status quo vigente e dominante. Um Cristo das ruas, da fome, da pobreza e da dor humana.
Nosso Cristo hoje é MULHERSIM e provavelmente negra e pobre. Nosso Cristo hoje é NEGRO SIM, provavelmente pobre, perseguido e assassinado diariamente. Nosso Cristo não usa arma na mão, algo, aliás, impensável para seus ensinamentos.
O Presidente Jair Bolsonaro e sua legião de seguidores, sobretudo, evangélicos, condenaram o samba-enredo e a Escola de Samba, declarando que a mesma afrontou os valores cristãos. Que valores? Os de Cristo a Mangueira exaltou. Os de Cristo a Mangueira fez lembrar aos Cristãos hipócritas que rezam nas Igrejas e ficam com o dinheiro dos pobres. A Mangueira trouxe Cristo negro sendo açoitado por policiais. Para muitos a transgressão está no Cristo negro, hora quanta inconsciência histórica para não saber que Cristo nunca foi branco, não teve cabelo liso e muito menos olhos azuis. Talvez ele tivesse esta aparência se tivesse nascido na cultura eurocêntrica, mas ele apenas foi apropriado por ela, 300 anos depois de sua morte, já com Constantino. Trazer a violência policial na Escola de samba, por outro lado, revela os dados ignorados por Moro quando retira as mortes causadas por policiais do Mapa da Violência do Brasil em 2019, mentindo descaradamente para toda a nação.
E Cristo muito bem abençoou a Mangueira. O samba-enredo é narrado pelo próprio Cristo:
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no Buraco Quente
Meu nome é Jesus da Gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem Messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço Fé na minha gente
Que é semente do seu chão
A grande Mangueira deixa a lição: NÃO EXISTE MESSIAS DE ARMA NA MÃO. Aceite a verdade e abandone as fakes news! Defenda o Brasil e suas instituições.
O Padre Júlio Lancelotti, sacerdote católico que trabalha na zona central da cidade de São Paulo, acolhendo jovens dependentes químicos e em situação de rua. Contexto cada vez mais comum, visto que São Paulo hoje possui uma população de rua de mais de 30 mil habitantes, completamente abandonados e ainda perseguidos pelo poder público. O Padre Júlio vem sofrendo ameaças de morte desde 2018 e, em janeiro de 2020, as ameaças vieram de policiais e foram acolhidas pelos comerciantes e outros simpatizantes da violência contra moradores de rua.
O Padre Júlio e o Papa Francisco são tão humanos, quanto Cristo o era em sua vida terrena e tanto quanto Cristo, vivem para defender os mais necessitados, isso de acordo com seus valores pessoais e coletivos, que nem sempre estão em acordo com os Cristãos que do alto de seus condomínios fechados ou de seus carros blindados, ou mesmo dos bancos da Igreja, não conseguem ver Cristo na mulher drogada, estuprada e assassinada. Não conseguem ver Cristo na criança abandonada que se transforma em delinquente para poder sobreviver. Não conseguem ver Cristo no negro perseguido apenas pela cor da pele, nesse país de hipócritas de plantão que afirmam não haver racismo no Brasil.
Tudo se trata de valores e não de verdades já nos dizia Descartes em suas Meditações há algumas centenas de anos. O Papa só é santo se não falar de política, mas para alguém que escolheu viver para os outros, falar de política e tentar esclarecer criticamente uma massa acrítica, significa lutar pela vida, pois se não falamos e não nos posicionamos ideologicamente, estamos condenando os oprimidos históricos a mais e mais opressão. Não falar de política e não falar de ideologia somente interessa aos dominantes que desejam ver o restante do povo calado e trabalhando sem direito a pensar, como uma massa que nem a cabeça levanta.
Mas os focos de resistência são muitos e aí vem a Estação Primeira de Mangueira entrando na avenida com o Samba A Verdade vos fará livre em alusão à fala de Cristo a Verdade vos libertará. Nada mais oportuno nesse momento de obscurantismo e conservadorismo extremo em nosso triste Brasil. O título que faz alusão tanto à necessidade de olharmos para o nosso país por narrativas que não cheguem até nós pelas mídias sociais do Presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. O título faz indicação direta a necessidade de desmascararmos as fábricas de fake News que elegeram e sustentam esse governo. Mas é a letra que é extremamente profunda e apresenta um Cristo que é a representação do sofrimento brasileiro contemporâneo, pois denuncia a violência sofrida pela MULHER, pelo NEGRO, pelo ÍNDIO e pela CRIANÇA abandonada.
A letra representa um Cristo em sua essência mais pura, ou seja, traz um Cristo não das famílias abastadas, não dos doutores da lei, não dos templos imensos, mas o Cristo que dividia o pão, que curava as dores, as feridas e as doenças e que foi perseguido por simplesmente pensar diferente de um status quo vigente e dominante. Um Cristo das ruas, da fome, da pobreza e da dor humana.
Nosso Cristo hoje é MULHERSIM e provavelmente negra e pobre. Nosso Cristo hoje é NEGRO SIM, provavelmente pobre, perseguido e assassinado diariamente. Nosso Cristo não usa arma na mão, algo, aliás, impensável para seus ensinamentos.
O Presidente Jair Bolsonaro e sua legião de seguidores, sobretudo, evangélicos, condenaram o samba-enredo e a Escola de Samba, declarando que a mesma afrontou os valores cristãos. Que valores? Os de Cristo a Mangueira exaltou. Os de Cristo a Mangueira fez lembrar aos Cristãos hipócritas que rezam nas Igrejas e ficam com o dinheiro dos pobres. A Mangueira trouxe Cristo negro sendo açoitado por policiais. Para muitos a transgressão está no Cristo negro, hora quanta inconsciência histórica para não saber que Cristo nunca foi branco, não teve cabelo liso e muito menos olhos azuis. Talvez ele tivesse esta aparência se tivesse nascido na cultura eurocêntrica, mas ele apenas foi apropriado por ela, 300 anos depois de sua morte, já com Constantino. Trazer a violência policial na Escola de samba, por outro lado, revela os dados ignorados por Moro quando retira as mortes causadas por policiais do Mapa da Violência do Brasil em 2019, mentindo descaradamente para toda a nação.
E Cristo muito bem abençoou a Mangueira. O samba-enredo é narrado pelo próprio Cristo:
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no Buraco Quente
Meu nome é Jesus da Gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem Messias de arma na mão
Favela, pega a visão
Eu faço Fé na minha gente
Que é semente do seu chão
A grande Mangueira deixa a lição: NÃO EXISTE MESSIAS DE ARMA NA MÃO. Aceite a verdade e abandone as fakes news! Defenda o Brasil e suas instituições.
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