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Domingo, 17 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

23/04/2020 - 11h50

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

23/04/2020 - 11h50

​Sentimentos provocados pelo isolamento social e a pandemia da COVID 19

COMPAIXÃO

 

Compartilhamento da dor alheia, do sofrimento do outro. Comoção espiritual e desejo de ajudar a melhorar a situação que causa o sofrimento alheio. A compaixão para além da empatia, nos motiva a agir, nos leva a mobilização, faz com que individualmente ou coletivamente venhamos a criar meios e estratégias para diminuir o sofrimento. 

A compaixão é identificação, é compreensão. A compaixão é a vivência do amor sem conceitos prévios, sem ódios ou julgamentos. A compaixão é doação. 

O que houve com a compaixão do povo brasileiro? Muitos estão agindo para ajudar neste momento de pandemia, é verdade. Outros estão doando até o que não possuem. Mas há uma grande parcela que não se comove com as mortes pela COVID 19, não se comove com os milhares de feminicídios que acontecem em nosso país, não se comove com as dezenas de assassinatos de pessoas LGBTs. Não se comove com o número de negros e negras mortos diariamente. 

O que houve com nosso povo?

 

FEMINICÍDIOS x FEMINISMO

Vejo postagens, sobretudo, de neopentecostais, neófitos e mercadores da fé, condenando o Feminismo que em verdade, é o movimento tem que lutado historicamente e bravamente pela igualdade de direitos entre os gêneros, e muito dista de um femismo que seria o antônimo de machismo. Pois bem, a maioria dos/das antifeministas parece não se importar com os números de feminicídios, e normalmente quando se reportam a casos de mulheres assassinadas simplesmente pela condição feminina, o fazem para condenar a vítima pelo crime sofrido. 

“A estuprada teve culpa porque estava em local, horário eestava com  roupas inadequadas para uma mulher ”. 

“A assassinada pelo ex-marido teve culpa porque não obedeceu ao homem que deveria guiar sua vida [...]” 

Os absurdos argumentativos são tão grandes que engolem a própria humanidade da razão.  Os números do MAPA DA VIOLÊNCIA são apenas números, para estas pessoas, mas as feministas na rua tem rosto e por isso, despertam o ódio porque se manifestam em espaço público, quando à mulher foi relegada a condição de expressão no espaço privado.

Infelizmente, os dados dizem que a maior parte dos violadores e assassinos estão bem próximos das vítimas, a maioria dentro da própria casa, o que torna este momento de pandemia especialmente complicado para quem vive em relacionamento abusivo. 

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2019, 3.739 mulheres foram assassinadas no Brasil, destas mortes, 1.314 foram feminicídios, ou seja, crime de ódio pela condição feminina, o que dá uma média de uma mulher morta a cada 7 horas. 

Para a maioria da população, estes são apenas números que nunca terão o rosto de ninguém da sua família. Ledo engano, o machismo estrutural que rege nossas relações em todos os níveis, não tem classe preferencial.  Omachismo assassino atua em todos os ambientes e mata, obviamente que as mulheres negras e pobres sofrem muito mais.

Conscientizar os homens de que o respeito à mulher e a vida é necessário, e de que todos temos os mesmos direitos é um passo simples para darmos condições dignas de vida para nossas mulheres. É um ato de compaixão.

A compaixão pode vir na forma de socorro para quem pede ajuda. Sim, devemos “meter a colher” quando presenciarmos uma violência. Não somos números. Temos rosto, vida e família. Não podemos deixar que no isolamento o número de vítimas do machismo venha a crescer.

 

COVID 19 

O atual momento mundial de isolamento e de crise sanitária tem potencializado outra pandemia que já perdura vários anos: a pandemia das fake News. 

O pior é presenciar as informações falsas saírem das bocas de governantes, tais como: Jair Bolsonaro ( Brasil) e Donald Trump (EUA). Trump na verdade cunhou o neologismo hipérbole verdadeira traduzido por ele como a força das verdades alternativas, com as quais trabalha já há mais de 3 décadas. Como Trump costuma dizer, a verdade e os fatos não importam e nem mesmo existem, o que importa é no que se acredita. 

Pois bem, essa produção intencional da ignorância alimentada pelo comércio das fakes News tem sido de máxima importância para manter parte da população brasileira, neste momento de pandemia, ao lado das falas do Sr. Presidente e seu combate ao isolamento social em prol da retomada da economia. Fazem carreatas, desejam não somente o fim do isolamento, mas pedem ditadura, desejam inclusive a volta do AI-5. Não dá pra saber se é mesmo só ignorância ou se é uma estratégia de combate para deixar a população do nosso sofrido Brasil, mais angustiada do que já está. 

Vídeos montagem com estética jornalística, ou, montagem com os próprios programas das maiores redes de televisão,afirmam que a pandemia é uma invenção midiática para perseguir o Presidente, não acreditam nas mortes, muito menos nas pesquisas que falam das subnotificações. Presenciam as mortes de milhares por pneumonia viral ou de SARS, mas não se comovem. Os números de mortes da COVID 19 noticiadas pelo Ministério da Saúde são apenas números, não tem rosto ainda para a maioria dos brasileiros. 

O que houve com a compaixão? Manaus está em colapso e logo entraremos em todo o país. Valas coletivas recebem cadáveres de 10 em 10 nos cemitérios daquela cidade.

O que houve com a compaixão? Quase três mil brasileiros já morreram de COVID 19 e os brasileiros fazem dancinha do caixão e desdenham da dor alheia. 

O que aconteceu com o Brasil? Em verdade sempre fomos assim, apenas o potencial da crueldade foi aflorado a partir de uma condição de poder que empoderou os machistas, os racistas, os misóginos, os egoístas, etc.. Agora essas pessoas se espelham em um “mito” cujos valores não encontram lugar na eticidade pública acordada para nossa contemporaneidade e se voltam para um lugar perdido na idade média. 

 

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