Tomo emprestado de Santo Agostinho que em seu célebre livro Confissões publica um pequeno sub-títuloO riso da maldade no Livro II, sobre os pecados. Também tomo de empréstimo a expressão banalidade do mal da Hannah Arendt, já referenciada nesta coluna em outras ocasiões. Em ambos os casos me aproprio de uma carga simbólica cuja natureza interpretativa pode trazer luz aos nossos dias diante da indiferença de parte da sociedade brasileira para com nossos semelhantes, sobretudo, neste momento de pandemia.
A indiferença e a individualidade já estavam presentes nas sociedades, principalmente, nas ocidentais, potencialmente, consumistas e imagéticas. Esses sentimentos se escondiam na vergonha da não empatia com o discurso social anterior de ascensão dos direitos das minorias e do respeito a todos. Todavia, permaneciam quase na superfície à espera do momento em que poderiam se manifestar.
Com a ascensão do atual Presidente Jair Messias Bolsonaro, não só a indiferença e a ausência de empatia deixaram o círculo da espiral do silêncio, mas todas os sentimentos negativos, a completa incapacidade de ver o outro, o racismo, o complexo do fascismo, a homofobia, a misoginia, o machismo, tudo o que estava guardado no fundo de cada ser, passou a ser autorizado pela simbologia das falas do representante maior da nação, que por meio de uma violência simbólica, “autoriza” o garimpeiro a matar o índio, “autoriza” o namorado a matar a namorada, “autoriza” o guarda a espancar o suspeito, “autoriza” que todos se armem, “autoriza” que o fazendeiro queime a floresta, “autoriza” que os homofóbicos cometam violências contra as pessoas LGBTs, e, por fim, “autoriza” que parte da população que ainda o segue, infrinja as determinações de isolamento social, neste momento de pandemia, colocando suas vidas e as dos outros em risco.
Em verdade dizem que o mal nunca dorme e como nietzschiana, creio que muito do que foi historicamente colocando no lugar do mal é parte de um construto social eurocêntrico que tornou o hemisfério norte e seus valores, o lugar do bem, da beleza e de quem desejamos nos aproximar do ponto de vista civilizatório e cultural. Deixando ao habitantes do hemisfério sul, grande parte da construção e prática do que era considerado mal. Mistura de raças, raças inferiores de onde partiam as práticas do mal que incluem corrupção, assassinatos em massa, etc., encobrindo que a maioria das guerras do norte contra o sul, tiveram como justificativa a “pureza e bondade” de um norte cheio de direitos contra um sul cheio de pecados. Deus contra Deus. Bem contra o mal, já definiu Maniqueu.
Mas como diz Nietzsche, só quem estava em condição de poder de dizer que o mal é mal e o bem é bem, pode fazê-lo.
Logo neste processo de desconstrução das políticas públicas em nosso país, aliado às implicações de uma pandemia, nos vemos assolados por um governo cujos representantes no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministério tentam reescrever um acordo da eticidade pública em que o bem a todos não é mais o norte a ser seguido e onde os direitos de poucos devem prevalecer sobre os direitos de todos. Triste realidade.
Nesse sentido, acompanhamos revoltados e estarrecidos, diariamente, as falas do Presidente Bolsonaro. Na última terça-feira, 28 de abril, diante da realidade de mais de 5 mil mortes no Brasil por COVID 19, diante da curva exponencial de crescimento de casos e de mortes em nosso país, diante dos mais de 70 mil contaminados, o Senhor Jair Messias, primeiro se indignou com a pergunta sobre o número de mortos e respondeu: _ E daí? Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagres.
Essa fala por si só, já carrega uma carga de maldade sem tamanho, porque não traz nenhuma compaixão pelo sofrimento dos pacientes e de suas famílias, não há empatia, não demonstra nenhum sentimento de solidariedade. Porém, essa fala não traz o riso da maldade ainda. Todavia, pouco depois o Presidente pergunta se dentre os repórteres há alguém transmitindo ao vivo e sorrir sarcasticamente e passa a falar que se solidariza com as famílias. O riso da maldade surge em sua boca e o desprezo pelo Brasil e pelo seu povo se torna um flagrante evidente.
Para acompanhar o vídeo clique aqui.
Como bem diz Agostinho, “era um riso, como a fazer-nos cócegas nos corações, provocado pelo gosto de enganar os que tinham como impossível o nosso feito e vivamente o detestavam”.
Por outro lado, a banalidade do mal identificada pela filosofa Hannah Arendt durante a cobertura que fez do julgamento de Eichmann em Jerusalém, quando visualizou no nazista que estava sendo julgado, a naturalização do cumprimento do dever, independentemente, do mal que o exercício da função viesse a ocasionar, como matar os judeus em câmaras de gás. Pois bem, a banalidade do mal encontra-se presente sempre que cada um de nós ao almejar um certo objetivo terminamos, nestes tempos sombrios de circulação livre do corona vírus, por colocar a vida do outro e até mesmo a nossa em risco.
Praticamos a banalidade do mal, sempre que não visualizamos o mal que podemos causar ao nosso semelhante com nossas ações e seguimos em frente, como se os fins, justificassem os meios.
Não obedecer às medidas de isolamento social em prol de uma retomada da economia, pode nos trazer mais ainda para perto do caos.
Dados da Organização Mundial da Saúde – OMS enfatizam que até 28 de abril,existiam em todo o mundo 3 milhões e 116 mil casos confirmados, além de mais de 928 mil pessoas curadas, e, por fim, 217.153 mortos por COVID 19.
Efetivamente, esta realidade não é para rir, não é para desprezar, não é para atuar com irresponsabilidade. Esta realidade pressupõe uma visão de mundo que extrapole o egoísmo, o pensar e em si e nos seus, e exige um sentimento de comunidade, de empatia e de compaixão.
Para além do mal desperto, vale pensar o bem, muito além do que foi historicamente determinado e agir em prol de todos. Bem, que por sinal, tem se manifestado em milhares e milhares de iniciativas para ajudar os mais necessitados.
Fiquem em casa! Ajudem o próximo!
A indiferença e a individualidade já estavam presentes nas sociedades, principalmente, nas ocidentais, potencialmente, consumistas e imagéticas. Esses sentimentos se escondiam na vergonha da não empatia com o discurso social anterior de ascensão dos direitos das minorias e do respeito a todos. Todavia, permaneciam quase na superfície à espera do momento em que poderiam se manifestar.
Com a ascensão do atual Presidente Jair Messias Bolsonaro, não só a indiferença e a ausência de empatia deixaram o círculo da espiral do silêncio, mas todas os sentimentos negativos, a completa incapacidade de ver o outro, o racismo, o complexo do fascismo, a homofobia, a misoginia, o machismo, tudo o que estava guardado no fundo de cada ser, passou a ser autorizado pela simbologia das falas do representante maior da nação, que por meio de uma violência simbólica, “autoriza” o garimpeiro a matar o índio, “autoriza” o namorado a matar a namorada, “autoriza” o guarda a espancar o suspeito, “autoriza” que todos se armem, “autoriza” que o fazendeiro queime a floresta, “autoriza” que os homofóbicos cometam violências contra as pessoas LGBTs, e, por fim, “autoriza” que parte da população que ainda o segue, infrinja as determinações de isolamento social, neste momento de pandemia, colocando suas vidas e as dos outros em risco.
Em verdade dizem que o mal nunca dorme e como nietzschiana, creio que muito do que foi historicamente colocando no lugar do mal é parte de um construto social eurocêntrico que tornou o hemisfério norte e seus valores, o lugar do bem, da beleza e de quem desejamos nos aproximar do ponto de vista civilizatório e cultural. Deixando ao habitantes do hemisfério sul, grande parte da construção e prática do que era considerado mal. Mistura de raças, raças inferiores de onde partiam as práticas do mal que incluem corrupção, assassinatos em massa, etc., encobrindo que a maioria das guerras do norte contra o sul, tiveram como justificativa a “pureza e bondade” de um norte cheio de direitos contra um sul cheio de pecados. Deus contra Deus. Bem contra o mal, já definiu Maniqueu.
Mas como diz Nietzsche, só quem estava em condição de poder de dizer que o mal é mal e o bem é bem, pode fazê-lo.
Logo neste processo de desconstrução das políticas públicas em nosso país, aliado às implicações de uma pandemia, nos vemos assolados por um governo cujos representantes no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministério tentam reescrever um acordo da eticidade pública em que o bem a todos não é mais o norte a ser seguido e onde os direitos de poucos devem prevalecer sobre os direitos de todos. Triste realidade.
Nesse sentido, acompanhamos revoltados e estarrecidos, diariamente, as falas do Presidente Bolsonaro. Na última terça-feira, 28 de abril, diante da realidade de mais de 5 mil mortes no Brasil por COVID 19, diante da curva exponencial de crescimento de casos e de mortes em nosso país, diante dos mais de 70 mil contaminados, o Senhor Jair Messias, primeiro se indignou com a pergunta sobre o número de mortos e respondeu: _ E daí? Quer que eu faça o que? Sou Messias, mas não faço milagres.
Essa fala por si só, já carrega uma carga de maldade sem tamanho, porque não traz nenhuma compaixão pelo sofrimento dos pacientes e de suas famílias, não há empatia, não demonstra nenhum sentimento de solidariedade. Porém, essa fala não traz o riso da maldade ainda. Todavia, pouco depois o Presidente pergunta se dentre os repórteres há alguém transmitindo ao vivo e sorrir sarcasticamente e passa a falar que se solidariza com as famílias. O riso da maldade surge em sua boca e o desprezo pelo Brasil e pelo seu povo se torna um flagrante evidente.
Para acompanhar o vídeo clique aqui.
Como bem diz Agostinho, “era um riso, como a fazer-nos cócegas nos corações, provocado pelo gosto de enganar os que tinham como impossível o nosso feito e vivamente o detestavam”.
Por outro lado, a banalidade do mal identificada pela filosofa Hannah Arendt durante a cobertura que fez do julgamento de Eichmann em Jerusalém, quando visualizou no nazista que estava sendo julgado, a naturalização do cumprimento do dever, independentemente, do mal que o exercício da função viesse a ocasionar, como matar os judeus em câmaras de gás. Pois bem, a banalidade do mal encontra-se presente sempre que cada um de nós ao almejar um certo objetivo terminamos, nestes tempos sombrios de circulação livre do corona vírus, por colocar a vida do outro e até mesmo a nossa em risco.
Praticamos a banalidade do mal, sempre que não visualizamos o mal que podemos causar ao nosso semelhante com nossas ações e seguimos em frente, como se os fins, justificassem os meios.
Não obedecer às medidas de isolamento social em prol de uma retomada da economia, pode nos trazer mais ainda para perto do caos.
Dados da Organização Mundial da Saúde – OMS enfatizam que até 28 de abril,existiam em todo o mundo 3 milhões e 116 mil casos confirmados, além de mais de 928 mil pessoas curadas, e, por fim, 217.153 mortos por COVID 19.
Efetivamente, esta realidade não é para rir, não é para desprezar, não é para atuar com irresponsabilidade. Esta realidade pressupõe uma visão de mundo que extrapole o egoísmo, o pensar e em si e nos seus, e exige um sentimento de comunidade, de empatia e de compaixão.
Para além do mal desperto, vale pensar o bem, muito além do que foi historicamente determinado e agir em prol de todos. Bem, que por sinal, tem se manifestado em milhares e milhares de iniciativas para ajudar os mais necessitados.
Fiquem em casa! Ajudem o próximo!
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