Dezenas de vezes reunidos nesta mesa, planejando, passando texto, trabalhando intensamente. Para tantas outras vezes estarmos na ribalta, encenando suas peças, produzindo suas montagens e até dirigindo uma de suas obras.

Deste encontro, a consciência de estar com criatura rara. Um criador prolífico das letras na poesia mais elaborada da palavra. O TEATRO. 

O senhor das peças. Do Theatro 4 de Setembro lotado de crianças e adolescentes às 10h , formando novas plateias. Renovador do encanto da poesis em movimento. Do exercício de se comunicar construindo e dando vida aos personagens.
 
Generoso, sempre buscou meios de chegar aos teatreiros mais uns trocados. E também ganhou muitos vinténs. Arrisco dizer que o produtor fez uma divisão do antes e depois na geração de um mercado da cena, para entender melhor a economia da cultura mafrense. 

Sua presença é tão marcante com a sua chegada, vindo do Ceará, no início do milênio em Teresina. Trouxe uma vontade contagiante de agitar o cenário da interpretação. Promoveu a circulação de inúmeras montagens. Suas e de outros parceiros. Além de entrelaçar gerações, valorizando muito os novos artistas. 

Aliás, "descobriu" e trouxe à tona vários deles à opinião pública através do seu acesso e prestígio junto às mídias. Das mais diversas modalidades da arte. Certa vez, em seu apartamento, tive contato com várias esculturas brilhantes de artista que se projetou nacionalmente, em novela global. Muita sensibilidade, apurada, para encontrar novos talentos.

Piauiense da gema, nascido na Rua João Cabral, quase esquina com a Rua Jônatas Batista - meio maktub para quem é iniciado no panteão dos nossos deuses teatrais. O alter ego do Coronel Pimentão levou consigo o que mais profundo apurei da famosa Rua do "Papôco". Bem pertinho de onde jogava damas quase todo fim de tarde com o Seu 'Manel' e outros patos, que ele ganhava até se fartar e ir às diversões da boca da noite.

Juro que eu vinha só marcar a prematura passagem do grande amigo, de tantas jornadas e momentos de alegria criativa, Walfrido Salmito. Mas tocado pela foto de nossa última reunião de teatro, teci algumas linhas, que são bem poucas para ilustrar um pouquinho o nosso Hitchcock e seu inseparável charuto e cigarrilhas.

Nem toquei um tiquinho no locutor comercial, no fotográfo, no professor, no marketeiro, no gigante comunicador. Nem precisa. Quem conhece sabe que ele é bem maior que muitos possam admitir. Se não o fizerem, sempre vou lembrar de reconhecer que o Piauí perdeu um dos seus filhos mais ilustres das artes e da produção cultural nesta segunda-feira, 30 de maio de 2022.

Descanse em paz, querido carecone!

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Willian Tito, ator e locutor - nas redes sociais.