Ontem, acometido de banzo (meus irmãos de cor sabem do que falo), decidi passar a tarde lendo poesia e ouvindo boleros. Li de Camões a Tanussi Cardoso, um poeta que me encanta.
Quanto aos boleros, comecei com "Outra vez", Trio Irakitan, e terminei com "Relógio", na voz inconfundível de Cauby Peixoto. Boleros clássicos e modernos. Um dilúvio de desilusões...
Bem, o bolero entrou em minha vida quando eu ainda nem tinha idade para sofrer. Uma noite, minha irmã amada me levou ao teatrinho do Ginásio Dom Inocêncio para assistir a "Uma hora de arte". Lá pelas tantas, entrou em cena um cidadão chamado Adi Castro, misto de Clark Gable com Zé bonitinho, e uma voz capaz de acordar os anjos... Entrou cantando "Relógio",em castelhano. De repente, senti uma quentura invadir minh'alma e desandei a chorar... Pronto: o bolerão de Roberto Cantoral encharcou-me o coração de beleza. Para todo o sempre, será o "meu" bolero...
No final da tarde, depois da sessão de sofrência, eu estava pronto para suportar as agruras do dia seguinte, o inevitável HOJE. Recorro ao preceito bíblico: "A cada dia, o seu fardo".
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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