O show estava marcado para as 19h30 do dia 9 de abril (quarta). Cheguei meia hora antes e o Clube dos Diários parecia deserto, janelas fechadas, portão encostado, ninguém à vista. A porta principal estava entreaberta. Pude perceber a silhueta de uma mulher de preto, que vasculhava, com os olhos atentos, o imenso salão da recepção do clube, espaço que já fez a alegria de muita gente, na época em que era glamoroso dançar ao som de Barbosa Show Bossa ou pular o carnaval embalado por bandinhas tradicionais. Após o salão, uma larga porta preta, acolchoada, dava acesso à Sala Torquato Neto, onde o espetáculo “Minhas Canções” aconteceria.

Adentrei o recinto. No palco, músicos se revezavam, ensaiando os acordes do que apresentariam em instantes. A mesa de som era comandada por Zé Dantas, testando voz e instrumentos, e a iluminação estava com Carlinhos Fumaça. De repente, tudo escureceu: era um sinal de que o ensaio estava encerrado e os músicos deveriam se dirigir ao camarim, para aguardar o momento de iniciar o show dirigido por Viriato Campelo, que comemorava 50 anos de música autoral piauiense.

Aproveitei o tempo que ainda teria até o início do espetáculo para ir à Praça Pedro II, onde estava acontecendo o “Samba no Coreto” – show montado em um palco na famosa PII (pê dois), que é uma pracinha anexa à praça Pedro II, defronte à Central de Artesanato “Mestre Dezinho”, onde foi construído um coreto que nunca foi usado como tal. Grupos de samba se revezavam e dezenas de carrinhos e barraquinhas de bebidas circundavam a área. O cantor e compositor Zé Marques, com uma cerveja na mão e os olhos no palco, comentou comigo: “Estamos revitalizando o centro de Teresina. Não é bacana?”. Sim, concordei.

Para minha surpresa, quando retornei ao Clube dos Diários algumas pessoas conversavam no salão, enquanto pelo menos a metade do auditório já estava ocupada. Conversei com amigos que eu não via há muito tempo, tirei fotos e busquei um assento para apreciar o show. Nesse meio tempo, mais e mais pessoas chegavam para se acomodar em um auditório de 130 lugares, agora completamente lotado, com pessoas em pé e diversas cadeiras de reserva espalhadas pelos corredores. O que veio em seguida foi um deslumbre!

Viriato Campelo, o “promoter” da noite, foi ovacionado pelos amigos presentes. Ele anunciou a programação, demonstrando que iria colocar no palco artistas selecionados e um repertório carregado de saudosismo e de surpresas. Marcaram presença: Geraldo Brito, Cícero Vilson, Laurenice França, Zé Quaresma, George Mendes, Mirton, Teófilo, Jabuti Fonteles, Edvaldo Nascimento, Rubens Figueiredo, Duda Di, Wellington Torres e Thalys Cardeal. O resultado dessa miscigenação de talentos não poderia ser diferente: uma explosão de músicas de qualidade e de performances profissionais, em um espetáculo que teve a produção de Faena Couto e Priscilla Lima. A música “Jardim das Delícias” fechou o show, com todos os músicos, cantores e cantoras no palco, entoando seu refrão: “Hoje eu quero o jardim / o jardim das delícias / pois eu quero me entregar / ao lado bom dessa vida”.

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Eneas Barros, escritor piauiense - nas redes sociais.