Ao completar cem anos de idade, Oscar Niemayer afirmou: “O ruim de envelhecer tanto é ir pendendo os amigos pelo caminho”. A outra opção é um pouco pior: perder todos os amigos de uma só vez. Ao longo de minha jornada, já perdi um punhado de pessoas amadas e, para não morrer de tristeza, desenvolvi um estratagema que, de certa forma, me ilude: não me lembro de amigos mortos. Tento conservá-los vivos na memória, atuando no teatro da vida, trabalhando, rindo, felizes...
Nessa segunda-feira, 18 de março, a “indesejada das gentes” privou-me da contagiante alegria do Dr. Wilton Mendes. Se me pedissem para defini-lo com uma única sentença, eu diria: Wilton sabia sorrir. Ia um pouco além: gostava de rir e de fazer rir. Privar da sua companhia era uma alegria adicional.
A amizade com o Wilton foi um dos muitos presentes que a Francisca Maria me deu. Francisca, que uma das netas chegou a perguntar se era minha irmã gêmea, sempre me tratou com carinho de irmã. Fiquei tão amigo da família que as duas netas do casal me “elegeram” avô. Um luxo que não fiz por merecer.
Fiz duas viagens na companhia do casal: uma para Santa Cruz dos Milagres; a outra para a Serra da Capivara. Nunca me diverti tanto: entre uma taça de vinho e outra, rolavam um causo e boas gargalhadas…
Acometido de Alzheimer, Wilton já estava fora do ar. Mesmo assim, no dia da festa das bodas de ouro do casal, abracei-o e perguntei-lhe: estão te tratando bem, irmão? Ele sorriu e respondeu: “Pergunte a essa aí” e apontou para a Francisca que estava por perto. Wilton permanecerá vivo no coração e na memória dos que o amávamos. Assim seja.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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