O casal, com os pés na senescência, entra na concessionária de automóveis. Ele, bastante sóbrio; ela, um tantinho coquete. Pretendem comprar um carro novo. A vendedora faz aquela cara de "estou-aqui-para-servi-los". A cidadã quer um carro que combine com a cor do seu cabelo: lilás-alvorada. Com muita delicadeza, a vendedora explica que as cores que mais se aproximam da desejada é o prata e o cinza."Prata é coisa de novo-rico; cinza é triste", afirmou a compradora. A vendedora insistiu: "Minha senhora, há muitos tons de cinza. o cinza-chumbo; o cinza-nuvem; o cinza-telúrico..." O cidadão, que até então mantivera-se calado, afirmou: "Este,senhorita. O cinza-telúrico". Diante do espanto da companheira, carinhosamente, explicou: "Telúrico, meu amor, é a palavra mais poética da língua portuguesa e diz respeito à Terra, ao chão". E, sem mais delongas, comprou o carro.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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