Fazia um tempinho que eu não visitava o centro histórico de Teresina. No início da semana, tive necessidade de resolver um problema no centro e aproveitei para dar uma espiadinha nas coisas. "Fiquei triste de não ter jeito": casas fechadas, abandonadas, pichadas, sujas... A cidade parece ter sofrido um bombardeio e ainda não teve tempo de reparar os estragos. As cicatrizes estão vivas, gritantes...
De tudo o que vi, o que mais me tocou foi o estado em que se encontra a casa velha onde funcionou a UPES (União Piauiense dos Estudantes Secundaristas), no cruzamento da Des. Freitas com 24 de janeiro. Entre 1965 e 1969, na companhia de outros náufragos, morei naquela casa. Éramos uns 80 desvalidos amontoados num espaço no qual caberiam uns 30, lotação de presídio... A despeito da pobreza (ou talvez por isso), cantávamos as baladas da Jovem Guarda. Era um jeito de suportar as agruras.
O quarto onde eu dormia ( num beliche rústico), na companhia de cinco companheiros, já ruiu: está recoberto de ervas daninhas. Como sou viciado em poesia, não me contive: recorri a Manuel Bandeira: “Vão demolir esta casa/ mas meu quarto vai ficar...”. Parafraseando outro grande Poeta, repito pateticamente: a UPES é só uma lembrança boiando na memória, mas como dói!
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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