Sou de uma família de lavradores, plantadores de fumo e cultivadores de vazantes. Família bastante numerosa. Meu avô paterno, quando o conheci, já era velho, inválido, prostrado a uma rede e cego. No entanto, trabalhava tecendo redes com embira de tucum. Era viúvo, pai de doze filhos, seis homens e seis mulheres. Mesmo com suas enfermidades, mantinha a autoridade junto aos filhos. Só para se ter ideia do significado dessa autoridade, todos os seus netos, inclusive eu, o chamavam de “Papai Joaquim”. Morreu com mais de 90 anos, sem aposentadoria, mas acercados de todos seus filhos e filhas. Ensinou a todos a importância do trabalho e cuidou da defesa natural de cada um deles.
Uma de suas filhas, chamada de Cândida, fazia todo o tipo de trabalho braçal: brocava, derrubava, encoivarava, cercava e pescava com tarrafa nas lagoas. Outra, cujo nome era Alzira, plantava e quebrava fumo, capinava, juntava e quebrava coco babaçu e trabalhava na roça. Todos trabalhavam, acordavam cedo, antes do dia clarear e só paravam quando o sol se punha.
Meu avô incentivou pouco os estudos dos filhos e filhas, mas quase todos sabiam ler e escrever. Meu pai, Antônio Félix, lia muito bem. Suas leituras prediletas eram a da bíblia, a da História de Carlos Magno e dos doze pares de França e a dos romances de cordel.
Tenho orgulho dessa família: Bernardo, José, Valter, Bertoldo, Antônio e Francisco – os homens. Herotildes, Maria, Cândida, Ginuca, Alzira e Nonata – as mulheres. Todos sobreviventes do trabalho e pelo trabalho. Com exceção de Ginuca, todos os outros tiveram famílias numerosas.
Do meu pai nasceram doze filhos, sobrevivendo onze dos quais, após a morte da primeira filha, passei a ser o mais velho e o primeiro a frequentar escola. A escola era prioridade, mas nas férias nos mudávamos para o interior a fim de trabalhar na roça ou nas plantações de fumo.
Crescemos desse jeito, trabalhando e estudando. Nenhum se tornou malandro, ladrão ou fora da lei. Tenho orgulho disso.
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Lourival Lopes Silva, professor do IFPI - nas redes sociais.
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