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Sexta-feira, 20 de setembro de 2024
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20/09/2024 - 11h02

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1 2 3 4 5… JINGLE

 

 

Dentre as inúmeras baixas de qualidade da campanha eleitoral que hora corre, está a feitura dos jingles. São, em geral, sofríveis e constrangedores (creio que até para alguns candidatos, eles mesmos). Os métodos de construção se resumem a paródias de sucessos musicais gastronômicos do momento, que em si já são pavorosos, e musicar os números dos candidatos. Nesse quesito, algumas peças sequer trazem o nome do esforçado contendor, o lance é gritar o número, na ânsia de uma penetração cognitiva via repetição pavloviana…

Musicar números é tarefa inglória, raramente funciona. Ainda assim, a tradição cancionista brasileira possui exemplos criativos. Lembro aqui de três deles: o genial Noel Rosa, em parceria com Vadico,  fez a canção “Conversa de Botequim” (1935), e lá está uma jocosa rima dessa canção malandra: “telefone ao menos uma vez para três-quatro-quatro-três-três-três”; outro exemplo é “dezessete e setecentos”, de Luiz Gonzaga e Miguel Lima, composta em 1943, em que o criador de gêneros musicais nordestinos canta o anafórico verso “eu lhe dei vinte mil réis/

Pra pagar três e trezentos/
Você tem que me voltar
Dezesseis e setecentos.” 

E o terceiro, não menos genial que os anteriores, é do mestre Gilberto Gil, que quando aciona sua energia poética e musical nos restaura a sensibilidade. Gil nos cantou o expresso 2222, numa récita ao tempo e suas angulações de futuro… 

Pois é, sei que, obviamente, um jingle não é uma peça sonora propriamente dada a enleios estéticos. Mas, pelo menos, no aspecto comunicacional imediatista, sua razão de ser, os marqueteiros poderiam nos poupar dessas chantagens sonoras frígidas e assoreadas. Como se já não nos bastassem alguns candidatos…

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Feliciano Bezerra, professor doutor da UESPI - nas redes sociais. 

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