Eu ainda nem tinha idade para sofrer. Teria uns seis anos, talvez um pouco menos. Morávamos em Campo Formoso, sertão do Caracol, onde ventava muito, chovia pouco e faltava o essencial: água potável, livros, música... Ainda assim, viver não nos doía nada.
Uma manhã de abril, a irmã amada, arteira além do imaginável, convocou a meninada para uma caçada insólita. Iriamos caçar crisálidas. Com pequenos cestos e muita paciência, iniciamos a empreitada. Ao meio-dia, terminamos a colheita. Depositamos todas, cuidadosamente, num cesto de cipós e pusemos sob a cama de dona Purcina.
Todos os dias, muito cedo, púnhamos o cesto sobre um jirau para aquecê-las ao sol. Uma manhã, como se existisse um pacto secreto entre elas, abriram-se todas de uma vez. Foi uma das imagens mais lindas que já vi. Um caçuá de borboletas, ainda inseguras, preparando-se para a inenarrável aventura do primeiro voo. Uma imagem digna de um Kurosawa...
Eis que, de repente, me deparo com esta foto incrível da Rosa Melo. Num átimo, a infância voltou a bailar nos meus olhos. Deus te acrescente, Rosa da Caatinga, por este instante de pura magia...
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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