João Batista é um artista plástico de Pedro II, com muito tempo de estrada. Tem obras no Brasil e no exterior. Muito jovem meteu-se numa polêmica que dura até hoje: O Padre Ladislau encomendou-lhe um imenso painel pintado na matriz de Esperantina e, 1983.  Título da obra “O calvário hoje”. Na tela, Cristo aparece crucificado e cercado por camponeses sem terra e miseráveis explorados por gente graúda. Com incrível realismo, o artista retratou um comerciante bastante conhecido na cidade. A grita foi geral. Por muito pouco, o painel não foi destruído. O Conselho Estadual de Cultura acionou o Ministério Público, e o painel, meio escondido, permanece na igreja.

Mas, das peripécias do João, a que me mais me agrada é esta: certa feita, João recebeu em sua casa-ateliê a visita de um casal próspero. A  mulher tinha interesse por arte, o marido preferia bois. A madame chegou e foi escolhendo os quadros: “Quero este, este, este...” O marido, no celular, negociava uma partida de garrotes... Sem olhar para os quadros. Pediu o “valor do prejuízo”. Quando o artista apresentou a fatura, o cidadão esbravejou: “Você perdeu a noção das coisa, rapaz! Você não está na Suécia nem na Alemanha. Com esse dinheiro que você está cobrando por essas coisas, eu compro duas belas matrizes: um garrote e uma novilha para melhor meu rebanho”.

João Bez não disse nada; repôs as telas nos lugares de origem e afirmou: “O Senhor tem razão. Então, compre as reses e pendure nas paredes de seu apartamento. Não temos mais nada a tratar”.

Sempre que eu contava essa história. Tinha medo de estar difundindo uma lorota inventada pelo artista. Da última vez que  a contei, no Salão do Livro de Pedro II, uma senhora se levantou e afirmou: “A história é verdadeira, professor.  O moço é meu irmão”.
 
Mas todo esse lero tem um fito: mostrar a competência do João Bez Cruz: ele conseguiu pôr Teresina inteira numa tela de 180X080. E viva a arte maiúscula do João!

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.