De vez em quando, ouvimos dizer que a existência humana é uma passagem pela terra. Eu mesmo tenho pensado sobre isso. Debato-me todos os dias com essas questões existenciais que tanto amarguram a gente, principalmente gente velha como eu. Vivo buscando um sentido para a minha vida.
Viver tem algum sentido? Eis a questão básica que começa a me incomodar. Que a vida tem muito sentido não tenho nenhuma dúvida. Mas a vida humana? Qual o seu sentido? Ser apenas uma passagem? O indivíduo surge e desaparece, muitas vezes sem despedidas.
Um poeta brasileiro famoso escreveu assim: “Um sábio me dizia: esta existência não vale a angústia de viver”. O que falta? Ou melhor, o que é necessário fazer para que esta passagem seja algo encantador?
Quando perguntaram a Rubem Alves qual era o sentido da vida, ele respondeu na hora: “Viver”. Outro, que não sei quem, disse que devemos viver cada dia como se fosse o último. Leio de um outro poeta que: “Desde o instante em que se nasce, já se começa a morrer”.
A vida humana é trágica? Então, os gregos, que criaram a tragédia, estavam certos. E, para minorar esta situação, criaram, também, a comédia. Fizeram uma salada existencial, um pouco de tragédia e um pouco de comédia: a tragicomédia.
A inteligência humana é sempre surpreendente. Mas há algo que precisa ser repensado. Tenho visto pessoas construírem seu próprio mundo, às vezes impérios, que duram certo tempo. Depois desmoronam, sem nenhuma piedade. Quem diria que um dia o Império Romano cairia? Caiu de joelhos, humilhado.
Tudo na vida passa, razão pela qual falamos em passagem. Mas espera aí: toda passagem tem que levar a algum lugar. Para onde? Não vejo sinal de nada. Volto ao poeta inicial: “A ciência, se fôssemos eternos, num transporte de desespero, inventaria a morte”. Desse modo, há uma saída, inconfundível e certa, para onde todos vamos. É esta certeza que nos deixa terrivelmente incomodados.
Queremos viver. “A vida é um milagre”, assim Manuel Bandeira inicia a sua Preparação para a Morte. Mas, no final, faz este arremate: “Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres”.
A lição que fica de tudo isso é que temos que aprender a viver sem desperdiçar um instante sequer.
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Lourival Lopes Silva, professor do IFPI - nas redes sociais.
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