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Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
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Iane Carolina

contato@acessepiaui.com.br

12/12/2024 - 04h58

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12/12/2024 - 04h58

Juízes da Internet

 

Jeniffer Castro, que foi filmada e Eluciana Cardoso, a que filmou

 Jeniffer Castro, que foi filmada e Eluciana Cardoso, a que filmou

Não gostaria de falar novamente do caso que viralizou nos últimos dias sobre a recusa de troca do assento do avião. Mas não é necessariamente sobre a cadeira do avião, sobre a janela, sobre a mãe ou a passageira que se recusou a ceder o lugar, é sobre a nossa capacidade de tratar de assuntos dos quais não temos informações completas.

Todos nós fomos juízes por uma semana do caso da mãe, da criança e da mulher que não quis ceder o assento no avião na semana passada, mas o que veio à tona no domingo é que, na verdade, a gravação e a postagem das imagens na internet não foram feitas pela mãe da criança e sim por uma terceira pessoa.

Por uma semana inteira a mãe foi apontada como autora do vídeo que expôs Jeniffer Castro e massacrada por todos nós, acusada de não dar limites ao próprio filho. E é aí que eu devo dar meus parabéns ao programa do Fantástico por finalmente esclarecer a situação, ouvindo todos os envolvidos, contrariando a característica da Internet, de julgar vendo apenas uma pequena parte da equação.

Mais uma vez o Jornalismo vem à tona e nos mostra a importância de ouvir as partes envolvidas em uma história, que não se resume a duas pessoas, mas talvez três, quatro, cinco... Em um mundo com acesso à informação e tecnologia de ponta, começamos há algum tempo a discutir as fake news, a cultura do cancelamento, o linchamento de pessoas na internet, mas ainda propagamos erros básicos na rede mundial de computadores.

Ainda achamos que navegar pela internet, especialmente nas redes sociais, é como estar em um navio submarino blindado, onde podemos disparar torpedos que atingem aos outros, ao passo que ficamos imunes a qualquer repercussão ou consequência disso.

Só em 2022, foram registrados mais de 74 mil de crimes de ódio na internet – maior número desde 2017 – dados registrados pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, da organização SaferNet.

O caso do avião foi um exemplo disso. A nutricionista que gravou Jeniffer usou de um artifício chamado na comunicação de Pós-Verdade, no qual as pessoas acham que detém a verdade absoluta, independentemente das variantes ou do lugar do outro. Pensou que iria receber apoio dos demais expondo a imagem de alguém que nunca tinha visto antes e ainda envolveu a filha, que postou o vídeo em uma rede social, na tentativa de promover um linchamento público via internet.

Mas desta vez o tiro saiu pela culatra. E a Internet, que deveria servir ao propósito de municiar as pessoas de informações, de trazer cada vez mais conhecimentos e promover uma sociedade evoluída, nos traz para um afunilamento, que chamamos de exclusão digital.

Quanto mais informações temos, menos informados ficamos. Não nos preocupamos em saber mais versões do fato, só nos prendemos à ponta do iceberg, fazendo juízos de valor por aquela faceta da realidade que nos é apresentada nas redes sociais.

Infelizmente isso traz repercussões extremamente negativas para todos os campos da sociedade. Nos tornamos cada vez mais intolerantes, nos achamos cada vez mais capazes de julgar alguém ou uma história que não conhecemos mais a fundo e somos capazes de estragar a vida de uma pessoa.

Apesar dos mais de dois milhões de seguidores que Jeniffer ganhou no Instagram, ninguém perguntou se ela tinha pretensão de se tornar popular, há pessoas que preferem ficar no anonimato. A mãe que foi acusada de ter gravado o vídeo, foi massacrada por uma semana pelo país inteiro, tendo a filha também exposta no vídeo e atacada nas redes sociais. Só depois de muitos dias a mulher que gravou o vídeo se pronunciou em Rede Nacional e esclareceu os fatos.

Depois de tantos anos lidando com internet, ainda somos pegos compartilhando Fakenews, aprisionados à política do cancelamento, do linchamento, do Pós-Verdade... Contrariando décadas em que pregamos que o contraditório e a ampla defesa são premissas básicas de uma sociedade democrática.

Ouvir o outro lado ou os vários lados ainda é o caminho para termos uma sociedade que não se perde nos julgamentos à revelia da Internet. Esta colunista, inclusive, pede desculpas à mãe da criança por ter caído no senso comum do julgamento das mídias sociais, mesmo que por fins de literários.

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