Poucos dias após o carnaval e do maravilhoso desfile da Escola de Samba Paraíso da Tuiuti, o Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, se viu sob intervenção federal, a partir de um decreto Presidencial, aprovado à posteriori, na última terça (20), pelo Senado.
As alegações do Palácio do Planalto para a tomada de uma medida tão radical se referem aos altos níveis de violência vivenciados pela cidade do Rio de Janeiro, diga-se de passagem, há muitos anos. Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, apelou ao governo federal reconhecendo sua total incapacidade para gerir a segurança de seu estado.
O fato é que a guerra entre as organizações que comandam o tráfico de drogas e a polícia, tem deixado a maioria dos cidadãos, sobretudo, os de baixa renda, à mercê da sorte ou de uma bala perdida.
A criminalização das favelas, a ausência quase completa do poder público nesses espaços urbanos, segrega os moradores, ao tempo em que os abandona. Organizações não governamentais atuam em muitas favelas, mas não possuem força suficiente para conter os problemas da violência, muito menos, salvar todas as crianças e jovens dos apelos do mercado de drogas.
A intervenção federal é uma medida extremamente radical e nos leva de volta a vários momentos do século XX. Ao que parece os civis neste país, não tem competência para governar e muito menos, para garantir a segurança dos brasileiros. O poder que recebem do povo é apenas alegórico (isso mesmo), pois com grande frequência na história do Brasil, se recorre aos militares, principalmente, após a queda do segundo império no século XIX.
O interessante é perceber que ao se tomar medidas como essa e não se trabalhar o processo educacional e cultural com políticas públicas que visem a prevenção da violência, nada mudará, pois a intervenção não educa, apenas pune e limita as liberdades, principalmente, da população pobre, cujo direito de ir e vir, fica restrito.
O alvo da intervenção, teoricamente, são os “bandidos”. Quem especificamente são os bandidos? Os chefes do tráfico que residem em suas mansões na zona sul do Rio? Os políticos corruptos que decidem a bel prazer os destinos da nação, enquanto enchem seus cofres com o fruto das negociações de leis e emendas? Ou, o pobre, o negro, a mulher e a criança que reside nas maiores favelas do país?
O Rio de Janeiro é o cartão postal, mas sua situação de crise econômica e seu colapso no setor de segurança reflete o Brasil. Em pouquíssimas cidades deste país é possível viver em segurança plena. Mesmo no menor dos menores municípios a violência já chegou pelas mãos que fazem e se perdem no mercado de drogas.
A ditadura civil-militar, ao contrário do que a propaganda da extrema direita conservadora deste país tem divulgado recentemente (um pouco de história pode ajudar), não conseguiu acabar com a fome, com a miséria e, portanto, não conseguiu acabar com a violência. Todavia, as mazelas e os problemas não podiam ser divulgados, porque não era possível falar, nos jornais ou televisão sobre isso. A imagem de país ordeiro e próspero, era prioridade na gestão da comunicação.
Mas o povo encontrava meios para falar. Em 1970 o Ceará se revoltou com a falta de assistência ao que sofriam com a seca e até o Médici teve que se deslocar para as regiões de seca. Em 1980 os piauienses, quando da visita do Papa João Paulo II a Teresina, colocaram uma grande faixa em que era possível ler: Santo Padre, o povo passa fome!
Obviamente, não estamos aqui afirmando que intervenção federal consolidada pela militarização de uma cidade é o mesmo que intervenção militar e consolidação de uma ditatura. Nossa intenção é enfatizar que intervenção federal/militar alguma,resolve o problema da segurança, ao contrário só agrava.
Sei que o pensamento conservador, minimalista e reducionista visualiza na figura do militar parado na esquina com o fuzil na mão, a representação da força e a visão e sensação da segurança. Mas o estado de intervenção não pode ser eterno, ele faz parte de uma medida emergencial, logo, quando não se resolve a raiz dos problemas, eles retornam com muito mais força, haja vista, medidas não tão radicais, mas bem parecidas, já tomadas recentemente, no próprio Rio para as Olimpíadas; em Natal no final de 2017 e em muitos outros estados brasileiros, em que os militares ocupam as ruas e quando saem tudo retorna ou se agrava.
Mas, se a intervenção não resolve, o que pode resolver? A providência, a proteção que pode garantir aos cidadãos de cada país direitos básicos, como educação, saúde, trabalho, enfim políticas que levem o Brasil para um estado de bem estar social ou de providência. E como o nosso país pode fazer isso? Através de políticas públicas que procurem diminuir as desigualdades sociais e do combate a uma política neoliberal vigente de favorecimentos ao mercado. Precisamos proteger crianças, mulheres, pobres, populações carentes e em situação de risco. Nenhum brasileiro é superior a outro, mesmo que seu patrimônio seja igual ou infinitamente, superior à maioria da população.
Onde o modelo de bem estar social criado nos Estados ainda na década de 1930 deu mais certo, visto que os EUA e a Inglaterra abandonaram parcialmente essa política? Na Espanha socialista (pós ditadura de Franco 1978), na Itália socialista, na França, nos países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia),principalmente, pois são os países que apresentam o maior Índice de Desenvolvimento Humano ( IDH).
E o que viria a ser um estado de providência? É aquele que se opõe ao liberalismo econômico puro. É aquele que impõe regras ao mercado predatório que a tudo corrompe em busca de lucro e que nessa corrida pelo ter sempre mais, escraviza seres humanos por todo o mundo. É aquele que luta para diminuir as desigualdades com políticas públicas que garantam educação pública e gratuita para todos, ou que permita o acesso de todos à educação em todos os níveis. É aquele que garante o direito à saúde e não privilegia uma medicina mercadológica concorrencial e antiética. É aquele que garante o acesso à cultura. É aquele que acolhe e mantém que não tem condições financeiras de se manter.
O Brasil infelizmente, retroagiu cerca de 70 anos quando pensamos em cidadania e direitos do povo, sobretudo, dos carentes. No concerne à esfera política, essa não tem parâmetros correlatos na história, só podemos dizer que o sistema de representatividade brasileiro está falido e poluído. A impregnação das regras do mercado nos aparelhos do legislativo e executivo, mas também com garras nas decisões do judiciário, nos deixa à mercê de pessoas inescrupulosas que estão nos mais altos cargos dos poderes, e, de lá, lavam as mãos, enquanto enchem seus próprios cofres.
O que fazer? Tirar de lá todos. E não se iludir com promessas de salvadores da pátria, principalmente, não ouvir propostas de candidatos que se dizem mitos e pretendem fuzilar moradores de favelas, pretendem adotar a tortura e pretendem perseguir negros e homossexuais.
Brasil mostra tua cara!
As alegações do Palácio do Planalto para a tomada de uma medida tão radical se referem aos altos níveis de violência vivenciados pela cidade do Rio de Janeiro, diga-se de passagem, há muitos anos. Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, apelou ao governo federal reconhecendo sua total incapacidade para gerir a segurança de seu estado.
O fato é que a guerra entre as organizações que comandam o tráfico de drogas e a polícia, tem deixado a maioria dos cidadãos, sobretudo, os de baixa renda, à mercê da sorte ou de uma bala perdida.
A criminalização das favelas, a ausência quase completa do poder público nesses espaços urbanos, segrega os moradores, ao tempo em que os abandona. Organizações não governamentais atuam em muitas favelas, mas não possuem força suficiente para conter os problemas da violência, muito menos, salvar todas as crianças e jovens dos apelos do mercado de drogas.
A intervenção federal é uma medida extremamente radical e nos leva de volta a vários momentos do século XX. Ao que parece os civis neste país, não tem competência para governar e muito menos, para garantir a segurança dos brasileiros. O poder que recebem do povo é apenas alegórico (isso mesmo), pois com grande frequência na história do Brasil, se recorre aos militares, principalmente, após a queda do segundo império no século XIX.
O interessante é perceber que ao se tomar medidas como essa e não se trabalhar o processo educacional e cultural com políticas públicas que visem a prevenção da violência, nada mudará, pois a intervenção não educa, apenas pune e limita as liberdades, principalmente, da população pobre, cujo direito de ir e vir, fica restrito.
O alvo da intervenção, teoricamente, são os “bandidos”. Quem especificamente são os bandidos? Os chefes do tráfico que residem em suas mansões na zona sul do Rio? Os políticos corruptos que decidem a bel prazer os destinos da nação, enquanto enchem seus cofres com o fruto das negociações de leis e emendas? Ou, o pobre, o negro, a mulher e a criança que reside nas maiores favelas do país?
O Rio de Janeiro é o cartão postal, mas sua situação de crise econômica e seu colapso no setor de segurança reflete o Brasil. Em pouquíssimas cidades deste país é possível viver em segurança plena. Mesmo no menor dos menores municípios a violência já chegou pelas mãos que fazem e se perdem no mercado de drogas.
A ditadura civil-militar, ao contrário do que a propaganda da extrema direita conservadora deste país tem divulgado recentemente (um pouco de história pode ajudar), não conseguiu acabar com a fome, com a miséria e, portanto, não conseguiu acabar com a violência. Todavia, as mazelas e os problemas não podiam ser divulgados, porque não era possível falar, nos jornais ou televisão sobre isso. A imagem de país ordeiro e próspero, era prioridade na gestão da comunicação.
Mas o povo encontrava meios para falar. Em 1970 o Ceará se revoltou com a falta de assistência ao que sofriam com a seca e até o Médici teve que se deslocar para as regiões de seca. Em 1980 os piauienses, quando da visita do Papa João Paulo II a Teresina, colocaram uma grande faixa em que era possível ler: Santo Padre, o povo passa fome!
Obviamente, não estamos aqui afirmando que intervenção federal consolidada pela militarização de uma cidade é o mesmo que intervenção militar e consolidação de uma ditatura. Nossa intenção é enfatizar que intervenção federal/militar alguma,resolve o problema da segurança, ao contrário só agrava.
Sei que o pensamento conservador, minimalista e reducionista visualiza na figura do militar parado na esquina com o fuzil na mão, a representação da força e a visão e sensação da segurança. Mas o estado de intervenção não pode ser eterno, ele faz parte de uma medida emergencial, logo, quando não se resolve a raiz dos problemas, eles retornam com muito mais força, haja vista, medidas não tão radicais, mas bem parecidas, já tomadas recentemente, no próprio Rio para as Olimpíadas; em Natal no final de 2017 e em muitos outros estados brasileiros, em que os militares ocupam as ruas e quando saem tudo retorna ou se agrava.
Mas, se a intervenção não resolve, o que pode resolver? A providência, a proteção que pode garantir aos cidadãos de cada país direitos básicos, como educação, saúde, trabalho, enfim políticas que levem o Brasil para um estado de bem estar social ou de providência. E como o nosso país pode fazer isso? Através de políticas públicas que procurem diminuir as desigualdades sociais e do combate a uma política neoliberal vigente de favorecimentos ao mercado. Precisamos proteger crianças, mulheres, pobres, populações carentes e em situação de risco. Nenhum brasileiro é superior a outro, mesmo que seu patrimônio seja igual ou infinitamente, superior à maioria da população.
Onde o modelo de bem estar social criado nos Estados ainda na década de 1930 deu mais certo, visto que os EUA e a Inglaterra abandonaram parcialmente essa política? Na Espanha socialista (pós ditadura de Franco 1978), na Itália socialista, na França, nos países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia),principalmente, pois são os países que apresentam o maior Índice de Desenvolvimento Humano ( IDH).
E o que viria a ser um estado de providência? É aquele que se opõe ao liberalismo econômico puro. É aquele que impõe regras ao mercado predatório que a tudo corrompe em busca de lucro e que nessa corrida pelo ter sempre mais, escraviza seres humanos por todo o mundo. É aquele que luta para diminuir as desigualdades com políticas públicas que garantam educação pública e gratuita para todos, ou que permita o acesso de todos à educação em todos os níveis. É aquele que garante o direito à saúde e não privilegia uma medicina mercadológica concorrencial e antiética. É aquele que garante o acesso à cultura. É aquele que acolhe e mantém que não tem condições financeiras de se manter.
O Brasil infelizmente, retroagiu cerca de 70 anos quando pensamos em cidadania e direitos do povo, sobretudo, dos carentes. No concerne à esfera política, essa não tem parâmetros correlatos na história, só podemos dizer que o sistema de representatividade brasileiro está falido e poluído. A impregnação das regras do mercado nos aparelhos do legislativo e executivo, mas também com garras nas decisões do judiciário, nos deixa à mercê de pessoas inescrupulosas que estão nos mais altos cargos dos poderes, e, de lá, lavam as mãos, enquanto enchem seus próprios cofres.
O que fazer? Tirar de lá todos. E não se iludir com promessas de salvadores da pátria, principalmente, não ouvir propostas de candidatos que se dizem mitos e pretendem fuzilar moradores de favelas, pretendem adotar a tortura e pretendem perseguir negros e homossexuais.
Brasil mostra tua cara!
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