Hoje, quando presenciamos a paulatina implantação de restrições ao direito de ir e vir em várias partes do mundo globalizado, quando presenciamos o retorno das políticas de fechamento de fronteiras, quando vivenciamos o retorno de preconceitos que estavam latentes, quando testemunhamos a segregação dos pobres, o assassinato de mulheres e homossexuais, quando observamos o crescimento e o empoderamento do analfabetismo político, dentre inúmeras outras questões, permeadas pela presença de práticas políticas hegemônicas e predatórias, ou, pela ausência de qualquer política; recorro à Arendt, para nos ajudar na compreensão de um mundo incompreensível.
Para a filósofa Hannah Arendt, o real sentido da política é a garantia da liberdade, entretanto, esse sentido tem se perdido em contextos que se contrapõem e se colocam, no caso brasileiro atual, por exemplo, e, para usar expressões da autora mencionada, como “experiências não-políticas ou até mesmo antipolíticas”.
O contexto de observação de Arendt era o século XX e suas grandes guerras e consequências devastadoras. O nosso contexto é o século XXI, suas guerras santas que dizimam vidas na África e na Ásia, como também as guerras econômicas mantidas pelo capital que forçam populações inteiras a migrar em várias partes do globo. Em seu tempo, Hannah Arendt já se perguntava se a política, enquanto ação entre humanos em prol da liberdade, ainda possuía algum sentido em existir, visto que houve ao longo dos tempos, um desvio completo de caminho. E mais, a autora se interrogava se política e liberdade eram compatíveis entre si, ou “ se a liberdade não começa apenas onde cessa a política, de modo a não existir mais liberdade onde a coisa política encontra o seu fim e seu limite em parte alguma”.
Para Hannah Arendt, a prática política coloca em jogo não apenas a liberdade, mas a própria existência humana na Terra, uma vez que se afastando de seu objetivo de promover a liberdade de forma igualitária, provoca ao contrário, a morte, muitas vezes em massa. Isso implica que os propósitos de uma política sem medidas podem acarretar em seu próprio fim, e, não apenas pelos esforços bélicos de dominação entre os povos, mas também, pela potencialização da exploração econômica das reservas ambientais da Terra.
A política enquanto espaço de negociações para a boa convivência entre os cidadãos de uma Nação, de um povo, tem como pressuposto para chegar à liberdade, a garantia de direitos que deveriam ser iguais para todos, mas que alguns, que se destacam no seio da sociedade, muitas vezes, em face de privilégios econômicos que lhes garantem privilégios educacionais e, portanto, acesso ao político; terminam garantindo ( os direitos ) apenas para os seus pares, ou seja, para os seus iguais, distanciando-se assim, da grande massa, em um processo de distinçãoque, como afirma Bourdieu, é tanto econômico quanto cultural.
Vale, portanto, pensar o que é de fato a política, e, como o campo político, cujos atores públicos são escolhidos por nós cidadãos comuns, define os destinos da nossa vida e, principalmente, das nossas liberdades. O campo político atua diretamente sob diversos pontos da vida em sociedade, aqui trabalharemos de forma muito rápida dois polos, a saber: os direitos políticos, a liberdade de pensamento e de expressão, por um lado, e, por outro, as liberdades que o desenvolvimento econômico deveria garantir.
Então convido-os a pensar, pois, se a política existe para potencializar o relacionamento em sociedade de modo a garantir direitos e liberdades aos seus membros, como então, podemos abrir mão, no Brasil, dos direitos que nos foram garantidos há 30 anos pela Constituição Cidadã, tais como direito à liberdade de pensamento e de expressão? Como podemos abrir mão das conquistas da mulher em relação ao trabalho e ao combate à violência? Como abrir mão da acessibilidade educacional e econômica que as classes de menor poder aquisitivo passaram a ter nos últimos anos? Como abrir mão do respeito e dos direitos conquistados pelos homossexuais?
Estamos em um ano eleitoral e o crescimento de candidatos que pregam o retorno a um regime ditatorial é preocupante, mas com certeza, o crescimento do eleitorado disposto a aceitar e votar em propostas não democráticas, que pregam, inclusive, torturas, assassinatos em massa, cura gay, prática do estupro, restrições de liberdade, machismo, etc., é mais preocupante ainda. De que nos serve essa política se a sua finalidade é garantir direitos para poucos, restringindo direitos e liberdades da maioria e segregando a sociedade?
A grande desculpa dos candidatos com esse tipo de pensamento e de seus seguidores é a potencialização da violência e da corrupção, nos últimos anos. Para os dois casos, os candidatos se utilizam de discursos de sedução, pois prometem acabar de um lado, com a violência, não através da garantia de direitos básicos e constitucionais, que objetivam evitar que as crianças abarquem futuramente os caminhos que levam a prática da violência; mas sim, eliminando todos que se colocam em seus caminhos, a exemplo do candidato que deseja riscar do mapa, favelas do Rio de Janeiro, eliminando seus moradores. Em outra frente, pregam o fim da corrupção, ao mesmo tempo em que a praticam abertamente, aproveitando-se do excesso de construções de verdadesque faz com as pessoas, como diz, Noam Chomsky, não acreditem em fatos reais, visto que vivemos na era das fakesnews que se misturam às notícias verdadeiras credibilizando-se com estas, ao tempo em que as descredibilizam.
Então se a política pode garantir direitos igualitários a uma sociedade, também, pode fazer o contrário, como temos visto em nosso país ao longo da história. Por outro lado, uma boa ou uma má conduta política econômica, pode garantir que o desenvolvimento almejado se torne uma prática de liberdade. E aqui falamos da possibilidade de liberdade de escolhas conscientes. Chegamosassim, ao pensamento de Amartya Sen para quem a liberdade é o principal objetivo do desenvolvimento.
Para este autor, as liberdades não constituem apenas os objetivos finais, mas se colocam como meios principais. Pois como nos diz Sen, é preciso reconhecer a importância que as liberdades tem na vida de todos, visto que defineo ser humano em sua plenitude, portanto “precisamos entender a notável relação empírica que vincula, umas às outras, liberdades diferentes. Liberdades políticas (na forma de liberdades de expressão e eleições livres), ajudam a promover a segurança econômica. Oportunidades sociais (na forma de serviços de educação e saúde) facilitam a participação econômica. Facilidades econômicas (na forma de oportunidades de participação no comércio e na produção) podem ajudar a gerar abundância individual, além de recursos públicos para os serviços sociais. Liberdades de diferentes tipos podem fortalecer umas às outras”.
Ao final fica a provocação:qu e prática política desejamos para o nosso país, de modo que essa possa garantir liberdades e o direito à vida com qualidade para todos os brasileiros?
Para a filósofa Hannah Arendt, o real sentido da política é a garantia da liberdade, entretanto, esse sentido tem se perdido em contextos que se contrapõem e se colocam, no caso brasileiro atual, por exemplo, e, para usar expressões da autora mencionada, como “experiências não-políticas ou até mesmo antipolíticas”.
O contexto de observação de Arendt era o século XX e suas grandes guerras e consequências devastadoras. O nosso contexto é o século XXI, suas guerras santas que dizimam vidas na África e na Ásia, como também as guerras econômicas mantidas pelo capital que forçam populações inteiras a migrar em várias partes do globo. Em seu tempo, Hannah Arendt já se perguntava se a política, enquanto ação entre humanos em prol da liberdade, ainda possuía algum sentido em existir, visto que houve ao longo dos tempos, um desvio completo de caminho. E mais, a autora se interrogava se política e liberdade eram compatíveis entre si, ou “ se a liberdade não começa apenas onde cessa a política, de modo a não existir mais liberdade onde a coisa política encontra o seu fim e seu limite em parte alguma”.
Para Hannah Arendt, a prática política coloca em jogo não apenas a liberdade, mas a própria existência humana na Terra, uma vez que se afastando de seu objetivo de promover a liberdade de forma igualitária, provoca ao contrário, a morte, muitas vezes em massa. Isso implica que os propósitos de uma política sem medidas podem acarretar em seu próprio fim, e, não apenas pelos esforços bélicos de dominação entre os povos, mas também, pela potencialização da exploração econômica das reservas ambientais da Terra.
A política enquanto espaço de negociações para a boa convivência entre os cidadãos de uma Nação, de um povo, tem como pressuposto para chegar à liberdade, a garantia de direitos que deveriam ser iguais para todos, mas que alguns, que se destacam no seio da sociedade, muitas vezes, em face de privilégios econômicos que lhes garantem privilégios educacionais e, portanto, acesso ao político; terminam garantindo ( os direitos ) apenas para os seus pares, ou seja, para os seus iguais, distanciando-se assim, da grande massa, em um processo de distinçãoque, como afirma Bourdieu, é tanto econômico quanto cultural.
Vale, portanto, pensar o que é de fato a política, e, como o campo político, cujos atores públicos são escolhidos por nós cidadãos comuns, define os destinos da nossa vida e, principalmente, das nossas liberdades. O campo político atua diretamente sob diversos pontos da vida em sociedade, aqui trabalharemos de forma muito rápida dois polos, a saber: os direitos políticos, a liberdade de pensamento e de expressão, por um lado, e, por outro, as liberdades que o desenvolvimento econômico deveria garantir.
Então convido-os a pensar, pois, se a política existe para potencializar o relacionamento em sociedade de modo a garantir direitos e liberdades aos seus membros, como então, podemos abrir mão, no Brasil, dos direitos que nos foram garantidos há 30 anos pela Constituição Cidadã, tais como direito à liberdade de pensamento e de expressão? Como podemos abrir mão das conquistas da mulher em relação ao trabalho e ao combate à violência? Como abrir mão da acessibilidade educacional e econômica que as classes de menor poder aquisitivo passaram a ter nos últimos anos? Como abrir mão do respeito e dos direitos conquistados pelos homossexuais?
Estamos em um ano eleitoral e o crescimento de candidatos que pregam o retorno a um regime ditatorial é preocupante, mas com certeza, o crescimento do eleitorado disposto a aceitar e votar em propostas não democráticas, que pregam, inclusive, torturas, assassinatos em massa, cura gay, prática do estupro, restrições de liberdade, machismo, etc., é mais preocupante ainda. De que nos serve essa política se a sua finalidade é garantir direitos para poucos, restringindo direitos e liberdades da maioria e segregando a sociedade?
A grande desculpa dos candidatos com esse tipo de pensamento e de seus seguidores é a potencialização da violência e da corrupção, nos últimos anos. Para os dois casos, os candidatos se utilizam de discursos de sedução, pois prometem acabar de um lado, com a violência, não através da garantia de direitos básicos e constitucionais, que objetivam evitar que as crianças abarquem futuramente os caminhos que levam a prática da violência; mas sim, eliminando todos que se colocam em seus caminhos, a exemplo do candidato que deseja riscar do mapa, favelas do Rio de Janeiro, eliminando seus moradores. Em outra frente, pregam o fim da corrupção, ao mesmo tempo em que a praticam abertamente, aproveitando-se do excesso de construções de verdadesque faz com as pessoas, como diz, Noam Chomsky, não acreditem em fatos reais, visto que vivemos na era das fakesnews que se misturam às notícias verdadeiras credibilizando-se com estas, ao tempo em que as descredibilizam.
Então se a política pode garantir direitos igualitários a uma sociedade, também, pode fazer o contrário, como temos visto em nosso país ao longo da história. Por outro lado, uma boa ou uma má conduta política econômica, pode garantir que o desenvolvimento almejado se torne uma prática de liberdade. E aqui falamos da possibilidade de liberdade de escolhas conscientes. Chegamosassim, ao pensamento de Amartya Sen para quem a liberdade é o principal objetivo do desenvolvimento.
Para este autor, as liberdades não constituem apenas os objetivos finais, mas se colocam como meios principais. Pois como nos diz Sen, é preciso reconhecer a importância que as liberdades tem na vida de todos, visto que defineo ser humano em sua plenitude, portanto “precisamos entender a notável relação empírica que vincula, umas às outras, liberdades diferentes. Liberdades políticas (na forma de liberdades de expressão e eleições livres), ajudam a promover a segurança econômica. Oportunidades sociais (na forma de serviços de educação e saúde) facilitam a participação econômica. Facilidades econômicas (na forma de oportunidades de participação no comércio e na produção) podem ajudar a gerar abundância individual, além de recursos públicos para os serviços sociais. Liberdades de diferentes tipos podem fortalecer umas às outras”.
Ao final fica a provocação:qu e prática política desejamos para o nosso país, de modo que essa possa garantir liberdades e o direito à vida com qualidade para todos os brasileiros?
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