"Uma pessoa leal sempre será leal. Já o desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça." Gustavo Bebianno, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, postou um trecho de um texto sobre lealdade, na madrugada deste sábado (16), em sua conta no Instagram.
Não é o primeiro recado que o ministro, que aguarda ser exonerado por Jair Bolsonaro, nesta segunda (18), manda a seu chefe.
"Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo", disse em entrevista à revista Crusoé. "Todos nós voltaremos às nossas origens", respondeu ao ser questionado sobre o presidente ter dito que, se as investigações apontarem para responsabilidade de Bebianno no caso do laranjal do PSL, ele terá de "voltar às origens".
E completou: "As nossas origens estão no cemitério. O presidente não morrerá presidente. Muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações. Vamos ver, está certo?".
Também disse a interlocutores que "não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado, é preciso ter um mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo", de acordo com Gerson Camarotti, no G1. "Espero que o presidente se lembre de que ele, como disse claramente, deve a sua eleição a Gustavo Bebianno", lembrou o advogado Sérgio Bermudes, antigo chefe do ministro, à Mônica Bergamo, na Folha.
Bebianno e Bolsonaro teriam tido uma conversa dura, nesta sexta, em que o presidente o acusou de vazar diálogos privados a veículo de comunicação. Também estaria insatisfeito pelo ministro ter agendado reunião com um representante da Globo, que considera inimiga. Bebianno, por sua vez, achou um golpe baixo ter sido chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro e pelo presidente nas redes sociais e na TV. Ele nega ser o responsável pelo repasse de recursos públicos a candidaturas-laranja enquanto ocupou o cargo de presidente nacional do PSL, nas eleições, trazidas à tona em investigação da Folha de S.Paulo.
Bebianno, que foi um dos primeiros a se engajar na campanha de Bolsonaro quando a vitória era algo distante, estaria triste e sem palavras para definir o tamanho da decepção que sente.
Mais do que a derrota, uma das coisas mais indigestas na política é o sentimento de traição. Não à toa a história mantém um lugar especial aos traidores. Entre todos os algozes de Júlio César, em 44 a.C., no Senado de Roma, lembra-se principalmente de seu amigo Marco Bruto.
Depois da traição, a sensação de humilhação pública também embrulha o estômago de políticos.
Gustavo Bebianno afirmou que continua tendo "o mesmo carinho pelo presidente" e que é direito dele exonerar quem ele quiser. Ele se aproximou de Bolsonaro, como um fã, há alguns anos e tornou-se tão próximo, a ponto de causar ciúmes. O principal problema, ao que tudo indica, é o como isso estaria acontecendo.
Bebianno é um arquivo-vivo da campanha eleitoral. Advogado de Bolsonaro, atuou na estratégia jurídica, na definição da agenda e, no mais importante, na arrecadação e nos gastos.
Diante de tantos recados cifrados ou indiretas que têm mandado ao presidente, seria extremamente salutar à democracia se resolvesse falar abertamente sobre esse e outros assuntos. Por exemplo, sobre as denúncias veiculadas pela Folha de S.Paulo durante as eleições de compra, por parte de empresários simpatizantes da campanha, de milhões de disparos em WhatsApp a favor da candidatura.
Ou mesmo explicar sobre quem ele falou quando disse "muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações". E, claro, a questão do laranjal do PSL: se ele não é o responsável, quais os nomes de quem são?.
Claro que é fantasia sugerir isso, mas seria ótimo que Bebianno falasse. Ajudaria a mostrar se a campanha e o governo é tudo o que o presidente prometeu ou se aquilo que é guardado a sete chaves compromete a sua narrativa. A República tem a ganhar, e muito, com isso.
Politicamente falando, o presidente da República teria que ser a pessoa mais inábil da face da Terra para que não costurasse um acordo a fim de garantir que todo o amor que Bebianno sentia por ele não se transforme em ódio, confirmada sua saída. Nicéia Pitta, hoje, Nicéia Camargo, ex-esposa do finado ex-prefeito paulistano Celso Pitta, denunciou um esquema de corrupção envolvendo ele e Paulo Maluf em 1999. Ou vista a fantasia do pragmatismo a fim de salvar a própria pele, entregando-se o que tem e o que não tem. Como o ex-ministro petista Antônio Palocci, mais recentemente.
Caso Bebianno se sinta amargurado, que saiba que a sociedade e a imprensa estão aqui para ouvi-lo.
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Leonardo Sakamoto é jornalista, no Blog do Sakamoto.
Não é o primeiro recado que o ministro, que aguarda ser exonerado por Jair Bolsonaro, nesta segunda (18), manda a seu chefe.
"Não sou moleque, e o presidente sabe. O presidente está com medo de receber algum respingo", disse em entrevista à revista Crusoé. "Todos nós voltaremos às nossas origens", respondeu ao ser questionado sobre o presidente ter dito que, se as investigações apontarem para responsabilidade de Bebianno no caso do laranjal do PSL, ele terá de "voltar às origens".
E completou: "As nossas origens estão no cemitério. O presidente não morrerá presidente. Muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações. Vamos ver, está certo?".
Também disse a interlocutores que "não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado, é preciso ter um mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo", de acordo com Gerson Camarotti, no G1. "Espero que o presidente se lembre de que ele, como disse claramente, deve a sua eleição a Gustavo Bebianno", lembrou o advogado Sérgio Bermudes, antigo chefe do ministro, à Mônica Bergamo, na Folha.
Bebianno e Bolsonaro teriam tido uma conversa dura, nesta sexta, em que o presidente o acusou de vazar diálogos privados a veículo de comunicação. Também estaria insatisfeito pelo ministro ter agendado reunião com um representante da Globo, que considera inimiga. Bebianno, por sua vez, achou um golpe baixo ter sido chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro e pelo presidente nas redes sociais e na TV. Ele nega ser o responsável pelo repasse de recursos públicos a candidaturas-laranja enquanto ocupou o cargo de presidente nacional do PSL, nas eleições, trazidas à tona em investigação da Folha de S.Paulo.
Bebianno, que foi um dos primeiros a se engajar na campanha de Bolsonaro quando a vitória era algo distante, estaria triste e sem palavras para definir o tamanho da decepção que sente.
Mais do que a derrota, uma das coisas mais indigestas na política é o sentimento de traição. Não à toa a história mantém um lugar especial aos traidores. Entre todos os algozes de Júlio César, em 44 a.C., no Senado de Roma, lembra-se principalmente de seu amigo Marco Bruto.
Depois da traição, a sensação de humilhação pública também embrulha o estômago de políticos.
Gustavo Bebianno afirmou que continua tendo "o mesmo carinho pelo presidente" e que é direito dele exonerar quem ele quiser. Ele se aproximou de Bolsonaro, como um fã, há alguns anos e tornou-se tão próximo, a ponto de causar ciúmes. O principal problema, ao que tudo indica, é o como isso estaria acontecendo.
Bebianno é um arquivo-vivo da campanha eleitoral. Advogado de Bolsonaro, atuou na estratégia jurídica, na definição da agenda e, no mais importante, na arrecadação e nos gastos.
Diante de tantos recados cifrados ou indiretas que têm mandado ao presidente, seria extremamente salutar à democracia se resolvesse falar abertamente sobre esse e outros assuntos. Por exemplo, sobre as denúncias veiculadas pela Folha de S.Paulo durante as eleições de compra, por parte de empresários simpatizantes da campanha, de milhões de disparos em WhatsApp a favor da candidatura.
Ou mesmo explicar sobre quem ele falou quando disse "muitas pessoas que se elegeram agora, eu não quero citar nomes, que também estão aí sob foco de investigações". E, claro, a questão do laranjal do PSL: se ele não é o responsável, quais os nomes de quem são?.
Claro que é fantasia sugerir isso, mas seria ótimo que Bebianno falasse. Ajudaria a mostrar se a campanha e o governo é tudo o que o presidente prometeu ou se aquilo que é guardado a sete chaves compromete a sua narrativa. A República tem a ganhar, e muito, com isso.
Politicamente falando, o presidente da República teria que ser a pessoa mais inábil da face da Terra para que não costurasse um acordo a fim de garantir que todo o amor que Bebianno sentia por ele não se transforme em ódio, confirmada sua saída. Nicéia Pitta, hoje, Nicéia Camargo, ex-esposa do finado ex-prefeito paulistano Celso Pitta, denunciou um esquema de corrupção envolvendo ele e Paulo Maluf em 1999. Ou vista a fantasia do pragmatismo a fim de salvar a própria pele, entregando-se o que tem e o que não tem. Como o ex-ministro petista Antônio Palocci, mais recentemente.
Caso Bebianno se sinta amargurado, que saiba que a sociedade e a imprensa estão aqui para ouvi-lo.
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Leonardo Sakamoto é jornalista, no Blog do Sakamoto.
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