Os vereadores formam o batalhão de infantaria da luta política. São eles que entram de peito aberto na selva da disputa eleitoral. O embate é individual, pessoal e intransferível. Não tem marqueteiro que resolva. É disputa de vida ou morte, homem a homem.
Certa vez, durante uma campanha eleitoral, sentei para almoçar num restaurante na Baixada Fluminense. Na mesa ao lado, vereadores “cascudos” conversavam sobre suas reeleições.
“Esse Lula é um gênio. A cada quatro anos eu dou 50 reais para cada eleitor meu para garantir o voto. Eu só dou no dia da eleição. Lula passa quatro anos dando 120 reais todo mês. O cara é imbatível, virou mito”, disse um dos edis sem saber que era ouvido.
O Bolsa Família beneficia cerca de 14 milhões de famílias, atingindo 57 milhões de brasileiros. O valor médio do benefício é de 191 reais.
O auxílio emergencial deve injetar 300 bilhões na economia. Já beneficiou 66,2 milhões de brasileiros, multiplicando a renda dos atendidos em mais de 120%.
O impacto na aprovação do governo federal é visível. A oposição previu que aconteceria, mas se agarrou na ideia de que o apoio, assim como o benefício, é passageiro. Será?
Na dúvida, Bolsonaro está tentando garantir sua perenidade. O objetivo central do Planalto neste momento é encontrar uma fórmula fiscal que viabilize uma espécie de continuação.
O Bolsa Família custou 34 bilhões aos cofres públicos em 2019. Qual seria o impacto fiscal de ampliar o benefício médio e o perfil dos beneficiários, mantendo a sensação de um “auxílio emergencial permanente”? É aí que entra a discussão sobre novos tributos, como a volta da CPMF.
Paulo Guedes parece ter sido convencido da equação política. O que são alguns bilhões de gastos adicionais para que o projeto ultraliberal ganhe um conforto de popularidade?
O Programa Renda Brasil, provável substituto do Bolsa Família, cumprirá este papel. Para viabilizar a operação, alguns programas devem ser extintos. A oposição vai votar contra um programa de renda básica?
Esta política faz parte da agenda liberal no mundo. A RBU – Renda Básica Universal é a pauta de Bill Gates, Jeff Bezos e seus seguidores do Vale do Silício. Um grande “colchão de morfina” é a “solução generosa” do capital para o crescente exército de excluídos “inimpregáveis”.
Se os liberais vão cuidar dos pobres, o que fica para a oposição?
Parte do chamado “campo progressista brasileiro” abandonou Celso Furtado, Ignácio Rangel e a necessidade de reformas estruturais. Ignora a centralidade da questão nacional para viver da “teologia da pobreza”.
Um novo “pai dos pobres” pode estar a caminho. Se o plano der certo, a oposição terá que se reinventar. Pode ser bom.
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Ricardo Cappelli é jornalista e foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Certa vez, durante uma campanha eleitoral, sentei para almoçar num restaurante na Baixada Fluminense. Na mesa ao lado, vereadores “cascudos” conversavam sobre suas reeleições.
“Esse Lula é um gênio. A cada quatro anos eu dou 50 reais para cada eleitor meu para garantir o voto. Eu só dou no dia da eleição. Lula passa quatro anos dando 120 reais todo mês. O cara é imbatível, virou mito”, disse um dos edis sem saber que era ouvido.
O Bolsa Família beneficia cerca de 14 milhões de famílias, atingindo 57 milhões de brasileiros. O valor médio do benefício é de 191 reais.
O auxílio emergencial deve injetar 300 bilhões na economia. Já beneficiou 66,2 milhões de brasileiros, multiplicando a renda dos atendidos em mais de 120%.
O impacto na aprovação do governo federal é visível. A oposição previu que aconteceria, mas se agarrou na ideia de que o apoio, assim como o benefício, é passageiro. Será?
Na dúvida, Bolsonaro está tentando garantir sua perenidade. O objetivo central do Planalto neste momento é encontrar uma fórmula fiscal que viabilize uma espécie de continuação.
O Bolsa Família custou 34 bilhões aos cofres públicos em 2019. Qual seria o impacto fiscal de ampliar o benefício médio e o perfil dos beneficiários, mantendo a sensação de um “auxílio emergencial permanente”? É aí que entra a discussão sobre novos tributos, como a volta da CPMF.
Paulo Guedes parece ter sido convencido da equação política. O que são alguns bilhões de gastos adicionais para que o projeto ultraliberal ganhe um conforto de popularidade?
O Programa Renda Brasil, provável substituto do Bolsa Família, cumprirá este papel. Para viabilizar a operação, alguns programas devem ser extintos. A oposição vai votar contra um programa de renda básica?
Esta política faz parte da agenda liberal no mundo. A RBU – Renda Básica Universal é a pauta de Bill Gates, Jeff Bezos e seus seguidores do Vale do Silício. Um grande “colchão de morfina” é a “solução generosa” do capital para o crescente exército de excluídos “inimpregáveis”.
Se os liberais vão cuidar dos pobres, o que fica para a oposição?
Parte do chamado “campo progressista brasileiro” abandonou Celso Furtado, Ignácio Rangel e a necessidade de reformas estruturais. Ignora a centralidade da questão nacional para viver da “teologia da pobreza”.
Um novo “pai dos pobres” pode estar a caminho. Se o plano der certo, a oposição terá que se reinventar. Pode ser bom.
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Ricardo Cappelli é jornalista e foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes).
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