Já afirmei, noutro momento, que sou um sertanejo de poucos luxos. O mais caro deles é morar numa casa velha com um quintal generoso que, diariamente, recebe visitantes alados. As rolinhas chegam bem cedo e me acordam com seu interminável “fogo apagou”. Mais tarde, chegam os pardais, os canários-da-terra, um casal de casacas e, eventualmente, um cardeal. Acrescente-se ao grupo muitas borboletas e as abelhas. Sem minha autorização, Frederico, um bem-te-vi, agudo e implicante, assumiu o papel de xerife do quintal. Como o poder corrompe, tornou-se arrogante, violento, autoritário. Sem direito a apelação, escorraça os “indesejáveis”.
Todos os seres do meu latifúndio tem nomes. Hoje, por exemplo, tive a honra de receber a visita da Glória Maria, uma borboleta linda de viver: verde com listras negras nas asas. Mandei a foto da visitante para diletas amigas. Uma delas sugeriu o nome de Glória. Acrescentei Maria e assim será. O problema agora é negociar com o Frederico a deixá-la em paz.
Em tempo: minha esperança é, qualquer dia desses, deparar-me com um anjo de asas iridescentes a exemplo do que ocorreu com o poeta visionário William Blake. Assim seja!
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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