O escritor Stendhal (1783 – 1842) escreveu: “A beleza é apenas a promessa da felicidade”. Quando li isso pela primeira vez, não pude deixar de perguntar: mas como viver sem ela? Por favor, estou falando de beleza na sua acepção plena. Permitam-me ilustrar com um exemplo.
O grupo A cara alegre do Piauí, coordenado por mim, estava numa cidade do sul do estado. Durante o dia inteiro, realizamos cursos para professores e oficinas para os alunos: canto, dança, teatro, artes plásticas, etc. À noite, como era aniversário do município, nosso grupo foi convidado a participar da festa que se realizava na principal praça da cidade. O evento durou uma eternidade e três dias.
Cada escola do município apresentava um número de canto e dança. Tema de todas as unidades de ensino era o mesmo: homenagem às bandas de forró (de plástico) mais famosas. E tome Mastruz com Leite, Gaviões do Forró, Calcinha Preta, etc. Depois de citar o nome da escola, o responsável pela coreografia, o apresentador chamava alunos e alunas. As meninas, com roupas (como direi?) diáfanas, dançavam sensualmente... Foi aí que um bêbado resolveu entrar na dança. Dançava e, com a mão boba, tocava as bailarinas...Seguranças retiravam o cidadão; ele voltava...
Quando chegou a nossa vez, pedi à cantora Luíza Miranda que abreviasse ao máximo a nossa participação. Foi aí que algo mágico aconteceu: em tom dolente, quase como uma reza, Luíza cantou “Asa branca”. O bêbado dirigiu-se à frente do palco, olhou para a cantora, ajoelhou-se (com mãos postas, cabeça baixa ) e assim permaneceu até o final da música. Em seguida, levantou-se, aparentemente “curado” e comportou-se dignamente. Foi um dos momentos mais belos que presenciei na vida.
Não tenho dúvida: a beleza também pode curar.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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